O chefe da equipe econômica do governo Lula (PT) também afirmou que o Brasil vai propor uma “reglobalização sustentável” durante a presidência brasileira do G20
(FOLHAPRESS) – O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, criticou nesta quinta-feira (23) a volta do protecionismo adotado por países de economias avançadas, em meio a outros problemas internacionais, como guerras e a ascensão de regimes extremistas -dos quais ele não citou exemplos.
O chefe da equipe econômica do governo Lula (PT) também afirmou que o Brasil vai propor uma “reglobalização sustentável” durante a presidência brasileira do G20, bloco que reúne as 19 maiores economias do mundo mais a União Europeia e a União Africana.
As declarações forma dadas em reunião no Palácio do Planalto na manhã desta quinta-feira (23) para tratar da presidência brasileira do G20, com coordenação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O Brasil terá seu mandato iniciado no dia 1º de dezembro.
Além de Haddad, participaram o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL); o presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), ministro Luís Roberto Barroso; o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto; diplomatas e quase todos os demais ministros.
O titular da Fazenda afirmou que a presidência do bloco é uma oportunidade para o Brasil impor uma agenda internacional, em meio a um cenário global de adversidade.
“Há diversos fatores sobre os quais não temos controle: conflitos, guerras, tensões geopolíticas, ascensão internacional de forças extremistas, crise do multilaterismo com instituições fundamentais, como ONU, Banco Mundial, FMI [Fundo Monetário Nacional], funcionando muito aquém do que deveriam, crise climática cada vez mais evidente e a volta do protecionismo dos países ricos. Não estamos numa quadra tranquila da história mundial”, afirmou o ministro.
Segundo ele, esse momento pode servir para mudanças na configuração internacional, em particular no sistema de governança global. Falou que o Brasil vai propor uma “reglobalização”, que será baseada em aspectos sociais e ambientais
“O G20 é a nossa oportunidade de colocar a mão na massa e fazer esse motor externo funcionar da melhor maneira possível para os interesses do Brasil, dos demais países da América Latina e do Sul-Global”, afirmou.
“Nós estamos propondo que o Brasil lidere uma espécie de reglobalização sustentável, do ponto de vista social e do ponto de vista ambiental. Não temos que temer a globalização. Ela foi feita de forma equivocada, por isso trouxe tantas angústias, sobretudo no seu ápice, que foi a crise de 2008 e os seus desdobramentos”, completou.
Na trilha financeira, Haddad defendeu colocar a questão da desigualdade no centro da agenda global, promover um fluxo contínuo de recursos para países de baixa e média renda e avançar na resolução da dívida externa desses países, em particular dos países africanos.
Quando se fala em resolução da dívida, a principal proposta é que as economias avançadas perdoem os débitos dos países mais pobres em troca de investimentos e de alocação de recursos para lidar com questões climáticas e de insegurança alimentar, por exemplo.
Segundo o titular da Fazenda, é preciso também desenvolver uma nova abordagem para uma “tributação justa” e aprofundar a reforma das instituições financeiras internacionais “para torná-las mais representativas e preparadas para cumprir suas missões.”
Entre as prioridades, ele falou ainda em encontrar soluções para “corrigir desigualdades e fechar brechas legais que permitam a evasão fiscal” e “criar mecanismos apropriados de compartilhamento de riscos entre o capital público e privado para promover transformações ecológicas equitativas”.
O mandato brasileiro vai até o dia 30 de novembro do próximo ano. Durante a sua presidência, o Brasil deverá sediar mais de cem reuniões oficiais em diferentes cidades do país. A principal delas será a 19ª Cúpula de chefes de Estado, em novembro de 2024, no Rio.
Os primeiros eventos do G20 durante a presidência do Brasil vão acontecer já em dezembro deste ano, em Brasília, no Palácio do Itamaraty. Nos dias 11 e 12, vão se reunir os integrantes do grupo Sherpa, que são os representantes pessoais dos próprios chefes de Estado ou de governo dos países membros.
No caso do Brasil, o representante será o embaixador Maurício Lyrio, que é secretário de Assuntos Econômicos e Financeiros do Ministério das Relações Exteriores.
No dia 13, acontecerá um encontro do presidente Lula com os representantes das duas trilhas (tanto a Sherpa como do núcleo financeiro). Os dois dias subsequentes serão destinados para o encontro dos núcleos financeiros do G20. A representante brasileira é a secretária de Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda, Tatiana Rosito.