O número de crianças vacinadas contra a doença vem diminuindo desde o início da pandemia de covid-19
Ao menos 40 milhões de crianças não estão com o esquema completo de vacinação contra o sarampo, o que aumenta o risco de surtos globais, alertaram a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC) durante divulgação de relatório na quarta-feira, 23. Ainda de acordo com a entidade, o número de crianças vacinadas contra a doença vem diminuindo desde o início da pandemia de covid-19.
Doença que pode ser prevenida por vacinação, o sarampo é um dos vírus humanos mais contagiosos do mundo. Desta forma, é necessária uma cobertura de 95% ou mais de 2 doses de vacina para criar imunidade coletiva. “No entanto, atualmente apenas 81% das crianças receberam a primeira dose de vacina e 71%, tomaram a segunda dose. Estas são as taxas de cobertura global mais baixas da primeira dose de vacinação contra o sarampo desde 2008”, alerta o relatório.
O declínio é considerado um revés significativo no progresso global para alcançar e manter a eliminação do sarampo, além de deixar milhões de crianças suscetíveis à doença.
“Enquanto as vacinas contra a covid-19 foram desenvolvidas em tempo recorde e implementadas na maior campanha de vacinação da história, os programas de imunização de rotina foram seriamente interrompidos e milhões de crianças perderam as vacinas que salvam vidas contra doenças mortais como o sarampo”, alertou Tedros Ghebreyesus, diretor-geral da OMS.
Conforme a publicação, em 2021, foram registrados cerca de 9 milhões de casos de sarampo e 128 mil mortes pela doença em todo o mundo.
Além da diminuição na cobertura vacinal, a ameaça iminente em todas as regiões do mundo se deve ainda à vigilância enfraquecida contra a doença e interrupções contínuas nas atividades de imunização em razão da covid-19, assim como grandes surtos persistentes ao longo deste ano.
“O número recorde de crianças sub-imunizadas e suscetíveis ao sarampo mostra os profundos danos que os sistemas de imunização sofreram durante a pandemia da covid-19”, afirmou a diretora do CDC, Rochelle P. Walensky. Em 2021, quase 61 milhões de doses de vacina contra o sarampo foram adiadas ou perdidas devido a atrasos relacionados à pandemia em campanhas de imunização em 18 países.
O CDC e a OMS pedem ainda ação coordenada para que as crianças que estão desprotegidas sejam, o quanto antes, imunizadas. “De acordo com a estratégia de imunização global da Agenda de Imunização 2030, os parceiros globais continuam comprometidos em apoiar investimentos no fortalecimento da vigilância como um meio de detectar surtos rapidamente, responder com urgência e imunizar todas as crianças que ainda não estão protegidas contra doenças evitáveis por vacinação”, acrescentou o relatório.
Conhecido pela medicina desde a Idade Média, o sarampo chegou a ser considerado a segunda maior causa de mortalidade infantil no mundo no início da década de 1990. Com o passar do tempo e expansão da vacinação, acreditou-se que logo a doença seria erradicada. Entretanto, no começo de 2019, a OMS divulgou que as ocorrências aumentaram em proporção alarmante de 300% em todo o mundo.
Causado por um vírus, o sarampo é uma doença de caráter contagioso que pode ser transmitida por secreções, tosse ou espirro, além de passar pelo ar. Entre os principais sintomas estão: manchas avermelhadas que surgem no rosto e se espalham pelo corpo, febre alta, coriza, dor de cabeça, tosse e conjuntivite.
Brasil
Após os últimos casos da doença no ano de 2015, o Brasil recebeu em 2016 a certificação da eliminação do vírus. Nos anos de 2016 e 2017, não foram confirmados casos da doença no País. Em 2018 foram 9.325 registros. No entanto, em 2019, após um ano de circulação do vírus do mesmo genótipo, o Brasil perdeu a certificação de “País livre do vírus do sarampo”, dando início a novos surtos, com a confirmação de 20.901 casos da doença.
Em 2020 foram confirmados 8.448 casos e, em 2021, foram 676 notificações positivas. Neste ano, levando em consideração números até agosto, o Brasil registrou 2.005 casos suspeitos, dos quais 1.666 foram descartados. Na época, quase 300 seguiam em investigação. São Paulo, Rio de Janeiro, Amapá e Pará estavam entre os Estados brasileiros com notificações confirmadas.
A reportagem aguarda retorno do Ministério da Saúde para atualizar os números.