O dólar teve o segundo dia seguido de forte queda, acumulando baixa de 5,5% em duas sessões. Novamente os fatores que pesaram foram o ambiente de busca por ativos de risco no exterior, que ajudou o Ibovespa a superar os 93 mil pontos, e o cenário político interno menos tenso. Também contribuiu para aliviar a pressão no câmbio uma captação de US$ 3,5 bilhões pelo Tesouro, a primeira do ano. O real foi pelo segundo dia a moeda com melhor desempenho ante o dólar em uma cesta de 34 divisas.
Nos negócios na manhã desta quarta-feira, 3, o dólar chegou a cair para R$ 5,01. Pela tarde, a queda perdeu um pouco fôlego, com tesourarias e importadores aproveitando o recuo das cotações e indo às compras, de acordo com profissionais de câmbio. Mesmo assim o dólar fechou em baixa de 2,28% no mercado à vista, cotado em R$ 5,0901, o menor valor desde 26 de março (R$ 4,99). No mercado futuro, o dólar para julho recuava 2,42%, a R$ 5,0865 às 17h45.
Na avaliação de um diretor de tesouraria, dois fatores explicam o fortalecimento do real esta semana. O primeiro é o enfraquecimento internacional do dólar nos últimos dias, em função das reaberturas bem sucedidas na Europa, de acordo com este executivo e da liquidez abundante no mercado, por conta dos estímulos dos bancos centrais. O índice DXY, que mede o comportamento da moeda americana ante divisas fortes, está nos menores níveis desde o começo de março, acumulando queda de 1% somente esta semana.
O segundo fator é interno, o menor ruído político, com a arrefecida do estresse, ao menos por ora, entre o Executivo e o Judiciário e pela busca de aliança do governo no Congresso, o que tende a garantir sua governabilidade e ainda torna mais favorável a perspectiva para reformas, ressalta o diretor. Os fatores externos e internos ajudaram o real a ter um rali, mas ele nota, porém, que no ano o dólar ainda sobe 27%, com a moeda brasileira mantendo o pior desempenho internacional.
Para o sócio fundador da gestora Velt Partners, Mauricio Bittencourt, tem havido um descolamento entre os preço dos ativos e a realidade de curto prazo, marcado por muitas incertezas e indicadores fracos. No Brasil, por exemplo, a produção industrial afundou 18% em abril, o pior dado da série histórica. Uma possibilidade para o otimismo dos mercados, disse ele em live hoje da Genial Investimentos, é que neste momento tenha alguma expectativa de que o pior desta crise já passou. Outra possibilidade é o ambiente de juros muito baixo em conjunto com os fortes estímulos monetários dos bancos centrais, especialmente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), que colocaram liquidez nos mercados e abrem espaço para a busca de ativos de risco, ajudando as bolsas.
Apesar da melhora recente, Bittencourt observa que há muita incerteza sobre os próximos meses. “Ainda tem bastante coisa que se sabe muito pouco”, disse ele, citando, entre elas, se vai ter uma segunda onda de infecções do coronavírus, se vai aparecer uma vacina ou tratamento e como é a questão da imunidade ao vírus. MIDIAMAX