O Daily Sabath, publicado em árabe e em inglês, explica até por que não há racismo no Paraguai.
Já no título do artigo, o jornalista turco Mehmet Otzurk, correspondente em Istambul do jornal Daily Sabath, diz quais são as chaves da felicidade do povo paraguaio: alegria, paz e igualdade.
No jornal, publicado em árabe e em inglês, Mehmet lembra que o Paraguai foi eleito o país mais feliz do mundo em 2019.
De acordo com a pesquisa feita pelo instituto Gallup, 85% dos paraguaios vivenciam sentimentos positivos, aprendem algo novo, se sentem valorizados e riem todos os dias.
Para Mehmet, “esta bela terra de 400 mil quilômetros quadrados é uma prova viva do ditado: A felicidade nada mais é do que um estado de espírito”.
E olha que, como diz Mehmet, o Paraguai “perdeu quase 90% da população masculina e 25% de suas terras na guerra contra seus vizinhos mais próximos e sofreu sob o reinado de um ditador militar por muitos anos”.
Além disso, seu Produto Interno Bruto (PIB) “é consideravelmente baixo (menos de US$ 5.000 por ano, de acordo com os dados obtidos do Banco Mundial) e o país também enfrenta muitos problemas de infraestrutura”.
De outro lado, “ao contrário de seus vizinhos latino-americanos, o Paraguai tem índices de criminalidade ou desemprego semelhantes aos de países europeus como a Suécia ou a França”.
Ele não comparou com números, mas vamos lá: o desemprego no Paraguai, mesmo com efeitos da pandemia, gira em torno de 7%; na França, está em 9%.
SEM RACISMO
Mehmet diz que “os paraguaios têm uma relação sólida com a natureza e uma vida pacífica não afetada pelo racismo”.
Sem racismo? Pois é, talvez haja um pouquinho, ao contrário do que diz Mehmet. Mas muito pouco.
E o jornalista turco explica por quê: “Ao contrário de outros países da América Latina, o Paraguai superou o racismo na década de 1840 com as políticas esmagadoras do líder supremo José Gaspar Rodriguez de Francia, que proibiu que homens europeus se casassem com europeus para misturar as raças e ganhar o apoio dos indígenas. Agora, mais de 95% da população é mestiça e o racismo não é aplicado institucionalmente no país”.
Está aí uma explicação que pouco se ouve ou lê por aí. E sai publicada num jornal do outro lado do mundo.
Também houve muitos avanços na questão da equidade de gênero, destaca ainda o jornalista.
“Houve questões de direitos das mulheres ou igualdade de gênero, mas o país fez muito progresso desde 1990 e agora 76% das mulheres fazem parte da força de trabalho e a taxa de alfabetização das mulheres é quase igual à dos homens, 93%.”
E mais: “O país tem mulheres fortes que são trabalhadoras, mães, fazendeiras e cuidadoras ao mesmo tempo”.
Outra comparação que o jornalista turco faz é entre o Paraguai e a Islândia, país onde o PIB per capita da população é mais de dez vezes superior ao dos paraguaios.
No entanto, “ao contrário dos islandeses, que tentam viver de paisagens geladas e vegetação limitada que mal sobrevive a longos invernos, o Paraguai tem um clima subtropical muito agradável, vastas terras adequadas para a agricultura e as maiores fontes de água doce do mundo”.
COMIDA E ÁGUA
Como o Paraguai não é industrializado e sua economia depende basicamente da agricultura, “ter as melhores condições para cultivar alimentos é uma bênção, principalmente considerando que o possível futuro do mundo será repleto de lutas por alimentos e fontes de água potável”, diz o artigo.
Existem no Paraguai mais de 3,2 milhões de hectares apropriados para a produção agrícola, em um país que tem uma população de 7 milhões.
Com isso, “o Paraguai pode acabar sendo uma das novas superpotências do futuro a médio prazo”.
Hoje, “metade do país depende de produtos agrícolas para ganhar a vida” e quase 100% das receitas de exportação vêm desse setor.
DEFICIÊNCIAS
Mas o artigo também destaca deficiências do Paraguai, entre as quais a infraestrutura.
O país não tem um ferrovia funcional, mais de 80% de suas estradas são inadequadas para transporte e a frota aérea consiste em menos de 10 aeronaves.
A capital, Assunção, fica a mais de 1.000 quilômetros do oceano mais próximo e nenhuma das fronteiras está conectada com qualquer um dos principais centros comerciais ou industriais da América Latina, prossegue o artigo.
“O que eles têm são pessoas felizes, um sistema educacional gratuito e impostos relativamente leves. Vários são os estudos que mostram que os níveis de estresse aumentam no meio urbano e que, ao contrário, morar perto da natureza proporciona uma melhor qualidade de vida, o que é o caso da maioria dos paraguaios”.
CLIMA E A FOME
De acordo com o artigo do jornalista turco, a crise climática que o mundo enfrenta – e se agrava a cada dia – tem levado todos os países em desenvolvimento e desenvolvidos a investirem em políticas agrícolas. O medo é que falte comida.
“Carros ou computadores podem ser os produtos mais procurados até agora, mas a comida vai roubar essa coroa na próxima década”, prevê Mehmet Otzurk.
Na maioria dos países, as pessoas têm abandonado suas terras e migrado para as grandes cidades, a fim de trabalhar em indústrias, serviços ou setor imobiliário.
Agora, os países industrializados tentam encorajar mais pessoas a voltar a suas cidades natais e produzir alimentos, diminuindo os impostos agrícolas e compensando perdas do setor, para reduzir a dependência nacional de alimentos importados.
PRIVILÉGIO
Já o Paraguai, que chegou tarde ao caminho da industrializado, “possui toda a infraestrutura para a produção de alimentos e, nos últimos anos, vem utilizando técnicas modernas e investindo seus recursos na agricultura ao invés de canalizá-los para indústrias”.
Diz Mehmet: “O país já perdeu a corrida da industrialização sem sequer participar realmente, mas tem uma posição privilegiada em uma corrida mais acirrada: a luta pela comida”.
Os paraguaios mostram que é possível ser feliz com uma vida mais conectada com a natureza, “tendo boas relações com a família e amigos, cultivando a própria comida e mantendo uma vida simples. Tudo isso, esperançosamente, os levará à prosperidade”, diz o jornalista.
O artigo fecha com esta frase: “Um país pode fazer seu povo feliz dando-lhe serviços essenciais gratuitos, como saúde e educação, em vez de torná-lo parte do mundo consumista moderno”.