Vendas de cimento no Brasil caem 20% em maio, setor piora projeção para 2018

SÃO PAULO, 11 Jun (Reuters) – A indústria de cimento no
Brasil teve queda de 20,3 por cento nas vendas em maio ante o
mesmo mês do ano passado, impactada pelos efeitos da greve dos
caminhoneiros, que fez o setor deixar de vender cerca de 900 mil
toneladas, afirmou nesta segunda-feira a associação que
representa os fabricantes do insumo, Snic.
Segundo o presidente da entidade, Paulo Camillo Penna, o
impacto da greve deve se arrastar por junho, fazendo o setor ter
um segundo mês consecutivo de queda nas vendas, em meio a uma
“tempestade perfeita” que ainda inclui impacto da valorização do
dólar sobre os custos de insumos do setor.
A indústria vendeu em maio 3,588 milhões de toneladas de
cimento no Brasil, registrando queda de dois dígitos em todas as
regiões do país na comparação anual, com destaque para retração
de 17,5 por cento nas vendas no Sudeste, a 1,729 milhão de
toneladas.
“Eu prefiro acreditar que vamos recuperar vendas de maio e
junho, mas já não acredito que vamos fazer isso e ainda
conseguir recuperar a queda do ano passado”, disse Penna em
entrevista à Reuters. Ele estimou que a indústria deve levar de
duas a três semanas para voltar a operar em níveis anteriores à
greve.
Segundo ele, durante a paralisação dos caminhoneiros, 70 por
cento da indústria de cimento do país ficou parada, em meio a
dificuldades com o transporte de insumos para produção,
incluindo alimento para os refeitórios dos funcionários.
“Foi um impacto brutal, 96 por cento da logística do
transporte de cimento é feita por rodovia…Uma fábrica padrão
de 1 milhão de toneladas de capacidade precisa de 300 caminhões
por dia para escoar sua produção”, disse Penna.
No acumulado de janeiro a maio, as vendas do setor mostram
queda de 4,5 por cento sobre o fraco desempenho de 2017, a 20,42
milhões de toneladas. A expectativa é que o segundo semestre
seja melhor que o primeiro, como acontece historicamente, disse
o presidente do Snic. Ele ressalvou, porém, que o cenário
eleitoral traz incertezas sobre os investimentos de construtoras
e obras de infraestrutura no país.
A indústria de cimento tem sofrido quedas de vendas desde
2015, em um índice acumulado de cerca de 25 por cento, em meio
ao atraso de obras de infraestrutura e queda na atividade da
construção civil residencial. Em maio, o setor tinha ociosa
quase metade de sua capacidade de produção de 100 milhões de
toneladas por ano.
Questionado sobre a criação de tabela de fretes como medida
do governo para encerrar a greve dos caminhoneiros, Penna
afirmou que a indústria de cimento tem preferido negociar com os
transportadores a abrir processos na Justiça como outros setores
da economia, incluindo o siderúrgico, indicaram na semana
passada.
O presidente do Snic afirmou que o frete impacta de 20 a 40
por cento o preço do produto final do setor e que a primeira
versão da tabela de fretes aprovada pelo governo no fim de maio
traria um impacto nos custos da indústria de cimento da ordem de
30 a 60 por cento, segundo cálculos preliminares da entidade.
“Há um processo de diálogo que está sendo construído agora
(entre setor privado, caminhoneiros e governo federal)…Vamos
tentar minimizar esse impacto (da tabela de fretes)”, disse
Penna.

(Por Alberto Alerigi Jr.; Edição Gabriela Mello)
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