Uma semana após Dilma ser afastada, Bolsa afunda e dólar dispara; o que deu errado?
InfoMoney
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SÃO PAULO – O mercado financeiro parecia desejar compulsivamente a saída da presidente Dilma Rousseff, reagindo euforicamente a cada notícia negativa para o governo dela. No entanto, passada uma semana do afastamento, o Ibovespa já caiu 6% e o dólar se valorizou 5% ante o real. Levando os investidores a se perguntarem: o que deu errado? O mercado não gostou do presidente interino Michel Temer? Os ministérios foram mal escolhidos? A economia estava pior do que se imaginava antes?
Para uma série de analistas, gestores e economistas entrevistados pelo InfoMoney, as razões vão além do cenário político e chegam até sinalizações pouco alentadoras no exterior, que revelam cada vez mais que o ajuste necessário para tirar a economia brasileira do atoleiro do momento será mais difícil do que se imaginava.
“O mercado passou os últimos meses comprando que o Temer seria o novo [Maurício] Macri”, afirma Rodrigo Octávio Marques, sócio-gestor da Queluz Asset, referindo-se ao presidente argentino que implementou uma série de medidas para afastar o país da crise econômica que tomou conta das gestões kirchneristas. Para Marques, esse sentimento fez com que o Ibovespa se descolasse muito dos seus fundamentos, principalmente se considerarmos o movimento de queda das commodities que ocorreu paralelamente ao rali do impeachment.
“Uma série de boas notícias e uma capacidade de gestão impressionante foram antecipados sem nem haver um movimento de transição, que é você montar uma equipe e depois planejar as medidas para resolver os problemas fiscais”, explica. Na avaliação do gestor, as tão esperadas ações concretas para combater a crise só serão votadas no Congresso depois das Olimpíadas e das eleições municipais, de modo que o curso da economia só vai começar a ser ajustado em novembro.
Essa é a opinião também de Adeodato Volpi Neto, head de mercados de capitais da Eleven Financial. De acordo com ele, o afastamento da presidente Dilma estava sobreprecificado na Bovespa, sem levar em conta o tempo e o esforço necessários para efetivamente mudar os rumos da economia brasileira. “As mudanças precisam de um tempo que a economia não tem para esperar. Há uma urgência na mudança da meta fiscal e a equipe econômica, por enquanto, não sabe nem qual é a extensão do problema”, avalia.
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Já o economista da Leme Investimentos, João Pedro Brugger, aponta ainda outro motivo para a correção relacionado a política. Segundo ele, apesar do time montado pelo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, ser de competência indiscutível, ainda há indefinições sobre a viabilidade de se aprovar no Legislativo pautas tão polêmicas quanto a reforma da previdência e a trabalhista. “O [presidente afastado da Câmara dos Deputados, Eduardo] Cunha conseguindo emplacar um líder do governo ligado a ele [o deputado André Moura (PSC-SE)] traz preocupações sobre a capacidade que esse governo terá para se articular no Parlamento. Nomes como o de Moura travam um processo posterior de aprovação de medidas”, explica.
Vale lembrar sempre que a imagem de Temer sofre um desgaste e ele perde capital político ao se mostrar ainda muito ligado a Cunha, que é réu em processo de cassação por quebra de decoro no Conselho de Ética da Câmara.
Não vai vir ajuda de fora E se aqui, o Brasil não verá o mar de rosas esperado em uma gestão Temer, lá fora também não haverá ajuda. “Pela primeira vez, o Fed reconheceu uma falha na metodologia e mostrou uma possibilidade de aumento dos juros”, afirma Adeodato Volpi Neto, lembrando da ata da última reunião do Fomc (Federal Open Market Committee), que afirmou ser possível uma elevação das taxas nos Estados Unidos em junho se os indicadores econômicos continuarem a mostrar uma melhora na atividade do país. Na terça-feira (17), o dado de inflação ao consumidor referente a abril mostrou um crescimento de 0,4% contra 0,2% esperados pelos economistas.
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