‘Um marido exemplar’: Os segredos da vida privada de Al Capone, o maior mafioso da história

Com apenas 27 anos, Alphonse Gabriel Capone era um dos criminosos mais temidos dos EUA, mas em casa era um pai de família honesto e um marido afetuoso.

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Al Capone era de família italiana e teve um romance considerado de ‘Romeu e Julieta’ com a esposa irlandesa (Foto: Pennsylvania Department of Corrections/FBI)
Al Capone foi um monstro? Sim, foi. Al Capone foi um monstro? Não, não foi.”

É assim que o último membro da família a manter seu sobrenome, sua sobrinha-neta, Deirdre Marie Capone, o define.

Com apenas 27 anos, Alphonse Gabriel Capone conseguiu ser um dos mafiosos mais famosos e temidos dos Estados Unidos.

Ele negociava a venda ilegal de álcool, agenciava a prostituição e era conhecido por fazer chantagens durante a década de 1920 e parte dos anos 1930. E inúmeros crimes são atribuídos a ele. Sua família, no entanto, se recorda dele de outra forma.

“O pouco que se sabe é que atrás do valentão havia um pai de família e marido exemplar”, diz o escritor e jornalista colombiano Daniel Samper Pizano, autor de Camas y Famas (Camas e Famas, em tradução livre), livro sobre casais de amantes famosos.

“E essa parte do Al Capone contradiz sua condição de inimigo da sociedade.”

O ‘lado B’ de Al Capone

Al Capone nasceu em 1899 no Brooklyn, em Nova York, e era filho de uma família de imigrantes italianos.

Abandonou a escola quando era pequeno e, durante a juventude, foi membro de gangues que eram como “divisões inferiores de grupos mafiosos”, segundo Pizano.

Mas a família Capone conta uma história diferente. “Os livros de história dizem que Al Capone deixou a escola no sexto ano, mas isso não aconteceu com ele. Aconteceu com meu avô, Ralph (irmão mais velho de Al Capone)”, diz Deirde Capone.

“Al Capone terminou o colegial. Ele teve uma boa educação. Se levarmos em consideração todo o império que construiu, o sucesso que obteve e a quantidade de emprego que deu para tantas pessoas… Uma pessoa que não fosse esperta não poderia fazer algo assim.”

Deirdre tinha sete anos quando o tio-avô morreu, no dia 25 de janeiro de 1947. “Nós éramos muito próximos de sua esposa, Mae, de seu filho, Sonny, e de seus irmãos – entre eles, meu avô. Até eu completar 40 anos éramos muito unidos.”

“Al Capone me ensinou a nadar e a andar de bicicleta. Cozinhávamos e cantávamos juntos. Também aprendi italiano com ele. Era um homem honesto e de família”, afirma a escritora, que é o último membro vivo da família a carregar o sobrenome famoso.

::FOTO DE CAPA:
Mae (esquerda) acompanhou o marido Al Capone (centro) durante três décadas, incluindo nos últimos anos, quando a sífilis lhe causou danos mentais (Foto: Cortesia Mario Gomes – Myalcaponemuseum.com)
Romeu italiano e Julieta irlandesa

Embora o nome de Al Capone seja conhecido nos Estado Unidos – ele figurou por anos na lista de “inimigos públicos” do FBI – pouco se sabe sobre sua vida familiar e sobre sua esposa Mary Josephine Coughlin (Mae Coughlin), que o acompanhou durante 30 anos.

Eles se casaram em 1918, quando ambos eram muito jovens. Mudaram-se para Chicago, depois de uma oferta de emprego que ele recebeu: trabalharia como segurança em um bordel, onde se acredita que teria contraído sífilis.

De acordo com Daniel Pizano, o casamento entre os dois não era bem visto na época – Alphonse era de família italiana e Mae, de família irlandesa – e chegou a ser comparado com a trágica história de amor entre Romeu e Julieta, da obra de William Shakespeare.

No fim do século 19 e ínicio do século 20, milhares de famílias chegaram aos Estados Unidos da Irlanda e da Itália fugindo da miséria. Entre elas, a famílias Coughlin e Capone.

“Essas duas famílias, a irlandesa de Mae e a italiana de Capone, eram totalmente opostas, porque representavam interesses muito diferentes. Mas lutavam pelo mesmo território em meio à pobreza”, afirma Pizano.

Nesse contexto, “o amor entre Capone por uma bela irlandesa era bastante chocante para os conterrâneos dela”, diz.

“Apesar disso, tiveram um casamento admirável.”

As cartas de amor que ele escrevia para ela refletem isso. “Eram bregas como todas as cartas de amor, mas eram de um marido profundamente apaixonado”, afirma o escritor.

Deirdre Capone também menciona a relação afetuosa entre os tios-avós. “Mae era muito feliz como esposa de Al Capone. Ela desfrutou de uma vida sofisticada, de ter empregados, de poder passar tempo com seu filho.”
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“A parte ruim (do casamento) veio quando eles compraram a casa em Miami e Al ficou em Chicago. Os dois se viam pouco. A situação piorou quando ele foi condenado por evasão fiscal e teve que passar oito anos preso. Foi muito ruim para ambos”, diz.

No entanto, a versão de uma família feliz e sem conflitos difundida por Deirdre não bate com a do canadense Mario Gomes, colecionador fanático de tudo relacionado a Al Capone, que possui uma grande quantidade de fotos e documentos da família e alega ser amigo de uma neta do mafioso.

“Algumas de suas netas me disseram que o lado Capone da família – a irmã de Al, Mafalda, e sua mãe, Teresa, tratavam Mae como lixo. Foram muito más com ela porque ela não era italiana e ficou grávida antes de se casar”, afirma Gomes.

Para ele, Al Capone era o “pacificador da família” e “queria agradar a todo o mundo”.

“Todos os respeitavam. Era como Deus para eles”, diz.

O mistério do filho

Quando Capone e Coughlin se casaram, ela era menor de idade. Por isso, precisou de permissão dos pais. Muitas biografias do mafioso afirmam que um mês antes do casamento ela tinha dado à luz Sonny.

Mas Deirdre Capone diz que não foi exatamente isso o que aconteceu.

“Sonny não era filho de Mae poque ela não podia ter filhos”, afirma à BBC, sem dar mais detalhes sobre como ele chegou à família. Ela diz que pretende lançar um documentário sobre o tema.

Depois da prisão de Al Capone, Mae e Sonny mudaram seu sobrenome para Brown para não serem discriminados.

O colecionador Mario Gomes também discorda desta versão dos fatos: “Sei que as netas odeiam Deirdre porque ela inventou muitas coisas, inclusive que Sonny não era filho de Mae”.

“Quando Capone era vivo, ela era apenas uma criança. Ela não teria como se lembrar de todas as coisas que fala.”


Deirdre Capone afirma Mae não era a mãe de Sonny Capone (Foto: Cortesia Mario Gomes – Myalcaponemuseum.com)
‘Lealdade e silêncio’

Segundo o livro de Daniel Pizano, entre Al e Mae existia “lealdade e silêncio”, embora não houvesse provas de que ela soubesse “de todas as atrocidades de seu marido”.

Deirdre Capone afirma que, na época, sua tia-avó não tinha conhecimento do homem perigoso que seu marido era fora de casa. “Os homens dessa época não levavam histórias de trabalho para casa nem as contavam para suas esposas”, diz.

Ela admite, no entanto, que Al Capone tinha amantes. “Claro que havia outras mulheres. Quando você é rico e poderoso, vai ter todo tipo de mulheres. Mas ele adorava a esposa e amava muito a família.”

Gomes também afirma que Al Capone e seus irmãos estavam sempre rodeados de mulheres e que preferiam as loiras. “Uma vez, Mae (que era morena) se enfureceu e tingiu o cabelo de loiro”, diz.


Mae, morta em 1986 e Sonny, que morreu em 2004, trocaram o sobenome para Brown para não serem discriminados (Foto: Cortesia/Mario Gomes Myalcaponemuseum.com)
Admiração

Durante os anos da Lei Seca americana – que proibiu a venda de bebidas alcoólica nos EUA de 1920 a 1933 -, Al Capone se tornou o ícone do mafioso. Inspirou livros, filmes e séries de televisão, como O Poderoso Chefão e Família Soprano.

Para Gomes, “ele não teria sido tudo o que foi” sem a proibição – e sem o interesse da imprensa da época pelas histórias que envolviam seu nome.

“Os meios de comunicação tornaram tudo maior do que realmente era, ao culpá-lo por qualquer coisinha que acontecia.”

Já Deirdre Capone diz que, apesar da fama do tio-avô, mantém a admiração que sentia por ele.

“Ele tirou a família e muita gente da pobreza. Era bom, carinhoso, tinha um bom coração, era honesto e valorizava muito as mulheres.” G-1

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