Tirocínio policial x tráfico de drogas
Nilson Silva
Conforme já comentei neste espaço, em um passado recente, moramos em uma região geograficamente privilegiada e se temos o bônus disso, evidentemente também temos o ônus. O lado positivo dispensa comentários, porém, o lado negativo é muito falado, em especial pelo setor policial da imprensa, que parece dedicar a Mundo Novo e municípios vizinhos, um lugar cativo, dado às ocorrências envolvendo crimes fronteiriços que por aqui se desenrolam, principalmente, o tráfico de drogas.
Não se pode negar que a maioria absoluta das apreensões de drogas feitas pelas forças de segurança, que atuam por aqui, ocorrem graças a “deduragem” feita por cidadãos de bem, que são cientes dos malefícios que este tipo de produto causa a sociedade como um todo ou por traficantes rivais, que “matam dois coelhos em uma paulada só”, isto é, diminui a quantidade de narcótico no mercado, fazendo com que sua “mercadoria” seja supervalorizada e “de quebra”, ainda leva o concorrente para à cadeia.
Destaque-se que o “tirocínio” (a intuição policial), tem papel fundamental na prisão de traficantes e localização de entorpecentes, visto que os “homens e mulheres da segurança”, em sua maioria absoluta, parecem ter desenvolvido um sexto sentido, em se tratando de identificar transportadores de drogas.
Vou contar aqui duas pequenas histórias envolvendo mulheres jovens, fisicamente atraentes, que poderiam no linguajar chulo machista, serem classificadas como “boazudas” ou “gostosonas” ou termo equivalente e que eram usadas como “mulas”, isto é, transportavam pequenas quantias de drogas, em troca de uma recompensa em dinheiro e foram presas em Mundo Novo, graças ao tirocínio policial.
Pois bem, era uma noite de segunda-feira, a cidade estava tranqüila, uma equipe da Polícia Militar fazia o chamado policiamento ostensivo no Terminal Rodoviário, quando um ônibus que seguia do Mato Grosso com destino ao Rio Grande do Sul chegou à plataforma de embarque. O comandante da equipe decidiu realizar uma fiscalização no interior do coletivo.
Uma moça muito bem apessoada, que viajava no carro, parecia estar incomodada com a presença policial. Com o objetivo de deixá-la mais calma e realizar o policiamento comunitário, tão em voga em tempos atuais, um dos militares perguntou seu nome e de onde ela vinha e para onde ia. Informado de que a beldade havia embarcado em Caarapó (MS) e que seguiria até Cascavel (PR), o policial perguntou se ela tinha parentes em Mato Grosso do Sul, ela disse que não e que era moradora do vizinho Estado, tendo ido até Município de Mato Grosso do Sul, adquirir massa corrida, usada em paredes de casa, antes da pintura.
Nessa hora, o sinal de alerta disparou, pois a distância entre os dois municípios é de cerca de 450 quilômetros, Cascavel é grande pólo consumidor de drogas, Caarapó está próximo da fronteira e a carga tributária de nosso Estado é bem superior a do Paraná, fazendo com que a massa corrida seja teoricamente tenha preço superior por aqui. Ou seja, nada justificava aquela “viagem de compra”, a não ser que o produto fosse droga e não massa corrida.
O Militar solicitou ao motorista do ônibus que abrisse o bagageiro, onde estavam acondicionadas as duas latas de massa corrida da jovem. Após destampar os vasilhames, ele tentou introduzir em seu interior, um pedaço de madeira, que adentrou poucos centímetros a massa corrida e parou em algo sólido. A pequena quantia de massa corrida foi jogada ao solo e no interior das latas, sobraram vários quilos de maconha. Assim sendo, a garota e a droga, foram levadas para a Delegacia de Polícia.
Outro caso interessante também foi o de uma jovem que carregava haxixe, substância que tem maior concentração da THC, por ser o sumo da maconha, de Coronel Sapucaia (MS) para Santa Catarina. Ela também foi abordada no interior de um ônibus na Rodoviária de Mundo Novo, sendo que os policiais desconfiaram devido ao fato de que ela foi até Coronel Sapucaia em um dia e já voltava para casa no outro, sem possuir familiares na fronteira.
Ao fazer uma vistoria na garrafa térmica de dois litros que ela trazia consigo, o policial estranhou seu peso excessivo, pois mesmo sem nenhum líquido em seu interior, a embalagem estava pesada.
Ele então notou que o invólucro externo havia sido violado e com o auxílio de um canivete, descobriu que o espaço onde deveria estar o material do isolamento térmico, estava todo preenchido com esferas de haxixe, assim como o interior do salto de um par de sapatos do tipo salto plataforma que ela usava.
Em se tratando de transporte de drogas, os traficantes usam as mais incríveis artimanhas, como dissolve-las em líquidos, engomar roupas com ela, engolir cápsulas preparadas e introduzir o produto em determinados orifícios do corpo. È claro que para se realizar certos tipos de descobertas, a Polícia usa tecnologia e cães adestrados, mas nada substitui o tirocínio e a experiência policial.