Produtores de Mato Grosso vivem dias de decisões difíceis. Se semearem no pó, há risco de a soja não germinar; Se não plantarem, as sementes se perdem
Pedro Silvestre, de Jaciara (MT)
Com a demora para a chegada das chuvas em algumas regiões de Mato Grosso os produtores estão acumulando preocupações. Não só com o atraso da semeadura da soja e consequentemente do milho, mas também com a perda de alguns insumos que estão estocados há mais de 30 dias, como as sementes.
As portas do barracão de insumos do produtor Rogério Bervanger, de Jaciara (MT), tem passado a maior parte do tempo escancaradas, não porque ele tem usado bastante, mas justamente pelo contrário. Essa foi a única alternativa encontrada para ventilar os mais de 80 mil quilos de sementes de soja, que serão usadas nesta safra.
“Minhas sementes já perderam qualidade sim. A cada dia que passa teremos mais problemas ainda para colocar elas no campo. Hoje, isso é uma preocupação, pois o armazém não é feito para guardar sementes, serve só para receber. Já estamos com mais de 12 dias de atrasos no plantio em relação aos outros anos”, diz Bervanger.
De acordo com o sindicato rural do município, nesse mesmo período do ano passado, cerca de 40% das áreas já estavam semeadas com soja. Número bem superior aos 5% registrados até agora. Além de produtor, Bervanger.é presidente do sindicato e conta que os agricultores estão entre a cruz e a espada por lá.
Quem não plantou, teme perder ainda mais sementes e a janela ideal para o cultivo da segunda safra de milho. Já quem cultivou mesmo no pó, está preocupado com a germinação, já que o volume de chuva ainda não foi suficiente para o solo ter boa umidade.
“Muita semente semeada inchou por causa de alguma garoa em cima. Então, com esta seca prolongada na sequência e sem condições de a planta desenvolver, muita soja não vai germinar, vão ficar ralas e com certeza perder produtividade”, garante Bervanger.
Esse é o caso do produtor Murilo Degasperi Fritsch, que com medo de perder a janela do plantio do algodão, que será após a colheita da soja, resolveu plantar a soja com pouca chuva. Ele cultivou cerca de 1,2 mil hectares, dos 4 mil destinados ao grão. Com pouca chuva até agora o produtor não desgruda os olhos da lavoura. Apesar das plantas terem germinado bem, ainda vão precisar de mais umidade para conseguirem sobreviver.
“Este ano estamos com forte atraso em relação ao ano passado, A diferença é que esse ano começamos o.plantio dia 2 de outubro no seco. Deu uma chuvinha de dez milímetros e depois voltou a secar. Mas ainda é pouco. Em torno de três ou quatro dias precisa chover de novo, senão vamos ter que replantar algumas áreas”, garante Fritsch.
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