Soja: será que vale testar plantio cruzado, fileira dupla ou agrupamento?

Plantio cruzado, fileiras duplas, redução de espaçamento, plantas agrupadas ou mais sementes por hectare? Embrapa testa todos e diz qual é o melhor

Se existia um mito a ser derrubado na cultura da soja, este se referia a maior produtividade que alguns métodos de plantio da cultura prometiam. Plantio cruzado, fileiras duplas, mais sementes por hectare, menor espaçamento entre as fileiras e entre as plantas, agrupamento de plantas e convencional. Diante de tantas opções, a Embrapa realizou um estudo para saber exatamente qual era o melhor. A resposta vai surpreender.

Ao todo, foram cinco anos de pesquisa. Testes foram feitos em todos os grandes estados produtores de soja, com cultivares diferentes e em condições climáticas variadas. Um dos pesquisadores que liderou o estudo, Alvadi Balbinot, conta que a ideia deste levantamento visava desmistificar técnicas até bastante usadas por agricultores do país, mas com resultados nunca comprovados tecnicamente.

“No concurso de produtividade, realizado pelo Comitê estratégico Soja Brasil, em um determinado ano, o produtor vencedor de produtividade usou o plantio cruzado e isso influenciou muitos outros a fazer o mesmo. Só que nenhum estudo havia sido realizado para garantir que aquilo era verdade”, comenta Balbinot.

Outra técnica destacada pelo estudo, é o plantio em fileiras duplas, muito usada nos Estados Unidos. Esta técnica consiste em plantar duas fileiras de plantas, com espaçamento reduzido entre elas, mas maior em relação ao outro conjunto de fileiras duplas. “Por lá, esta técnica faz sentido por causa do clima diferente, mas aqui o resultado foi completamente diferente. Por isso resolvemos estudá-lo”, conta o pesquisador.

A ideia do estudo foi verificar se estas técnicas realmente aumentavam a produtividade e se a relação disso com o custo de produção era melhor.

Veja abaixo os resultados das seis técnicas:

Plantio cruzado

Como é: Esta técnica consiste em realizar a semeadura convencional, com espaçamento entre fileiras de 45 a 50 centímetros, espaço entre plantas de 7 a 10 centímetros  e uma semente por cova. Após o termino, a plantadeira volta ao campo, com as mesmas proporções entre as plantas, só que em sentido perpendicular ao primeiro plantio, formando um jogo de xadrez.

Resultado: Esta foi uma das técnicas mais estudas pelo grupo. Isso porque os resultados nunca foram superiores aos convencionais, ou seja, a produtividade nunca ficou maior. Já os custos eram dobrados, pois a técnica faz o plantio duas vezes, com o dobro de sementes.

Recomendação:  Não usar 

“Mais de 90% dos testes não trouxe aumento de produtividade e muitas vezes a lavoura ainda ficava estragada porque a máquina passava por cima de área plantada. Este manejo é o pior de todos, e inviável agronomicamente”, afirma Balbinot.

Redução de espaçamento

Como é: Neste manejo consiste em diminuir o espaçamento entre linhas para algo em torno de 20 a 30 centímetros, mantendo a distancia normal entre as plantas de 7 a 10 centímetros.

Resultado: Em plantas de porte grande (ou seja, as mais usadas no mercado), a produtividade foi igual a convencional. O custo ficou um pouco mais alto, pois se aumentou o número de plantar por hectare.

Em cultivares menores, que permitiram a entrada maior de luz, os experimentos trouxeram um incremento de 10% na produtividade, fato que compensava o aumento dos custos e trazia rentabilidade.

Recomendação:  Pode se usar, desde que com plantas de menor porte e em regiões com boa incidência de luz.

“Em algumas regiões, esta distancia favoreceu a incidência do mofo branco. Então é preciso avaliar se há luz suficiente e se a região sofre com algumas doenças como esta que destacamos”, diz ele. “Em plantas pequenas e regiões adequada os experimentos renderam 100 sacas por hectare.”

Fileira dupla

Como é: Neste caso são semeadas duas fileiras paralelas, com espaçamento entre elas de 25 centímetros, e o espaçamento para a outra sequencia de fileiras duplas de 75 centímetros.  O espaçamento entre as covas na linha é o mesmo do convencional, ou seja, 7 a 10 centímetros. O custo de produção é o mesmo da convencional, já que em um hectare são plantados o mesmo número de plantas.

Resultado: A produtividade obtida foi igual ao do método convencional. O custo de produção também ficou igual.

Recomendação:  Se o custo e a produtividade são as mesmas, a recomendação é para que o produtor faça sua escolha e alguns testes, para ver se o método funciona melhor em sua região.

Em alguns testes o maior espaçamento favoreceu o surgimento de plantas daninhas.

“Este espaçamento maior propicia, em tese, maior incidência de luz e facilidade de entrada dos agrotóxicos nas plantas. Mas, isso não inibiu o surgimento de doenças, por exemplo, o que foi uma decepção”, explica Balbinot. “Todos achávamos que os resultados seriam ainda melhores. Por isso vamos seguir estudando esta técnica, para ver os resultados em longo prazo.”

Agrupamento de plantas

Como é: Neste caso, o espaçamento entre fileiras é igual ao do convencional, 45 a 50 centímetros, só que ao invés de distribuir uma semente a cada 7 ou 10 centímetros na linha, coloca-se quatro sementes a cada 35 centímetros de distancia na linha, juntas na mesma cova.

Resultado: A produtividade não aumentou por hectare. Já os custos dobraram, devido ao uso maior de sementes. As plantas acabaram disputando os mesmos nutrientes no solo e resultado fpoi que nenhuma foi tão bem, quando sozinhas na cova.

Recomendação:  Não recomendada.

“A ideia inicial era que uma planta ajudaria a outra no processo de desenvolvimento, mas isso não aconteceu.  Muitos diziam que o manejo era usado para solo compactados, no qual a planta precisava de vigor para brotar. Mas, se a ideia é usar algo para dar um jeitinho em um outro manejo errado, no caso a compactação do solo, a coisa está errada por completo”, garante o pesquisador.

Mais sementes por hectare

Como é: Esta não é exatamente uma técnica que modifica o modo de plantar. Os espaçamentos usados são os mesmos do convencional. Entretanto, o número de sementes é aumentado. A ideia era colocar mais sementes por hectare do que o recomendado pelo fabricante, ou seja, cada cova poderia ter mais de uma semente.

Resultado: A produtividade foi exatamente a mesma, do que aquela que usa uma semente por cova. Já o custo de produção foi bem maior

Recomendação:  Não usar.

“Não recomendamos usar mais sementes do que o recomendado pelo fabricante em nenhuma situação”, enfatiza ele.

Observação: os testes também fizeram o contrário, usaram menos sementes que o recomendado pelo fabricante e o resultado foi surpreendente. “Em todos os ensaios que fizemos, ao reduzir até 20% a quantidade de sementes recomendada pelo fabricante, a produtividade não caiu. Então, indicamos ao produtor usar a indicação do fabricante mesmo. E, se for para testar algo, tentar reduzir a quantidade de sementes, não aumentar”, comenta Balbinot.

Convencional

Como é: O método convencional consiste em um espaçamento entre fileiras de 45 a 50 centímetros. E entre plantas de 7 a 10 centímetros, sempre em linhas paralelas.

Recomendação:  Usar sempre

“Este ainda é a melhor técnica já desenvolvida para as plantações do Brasil. Os produtores já sabem bem como ela funciona e não há contraindicações”, finaliza ele.