Sérgio Cabral é denunciado pela sexta vez na Lava Jato
Cabral é acusado de receber US$ 3 milhões de propina intermediada por Juca Bala
Henrique Kawaminami com Estadão
A força-tarefa da Lava Jato no Rio de Janeiro denunciou nesta quarta-feira (8), o ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral (PMDB), desta vez pelos crimes de evasão de divisas, lavagem de dinheiro e corrupção passiva. Esta é a sexta denúncia contra Cabral, que é desdobramento das Operações Eficiência, Hic e Ubique.
Outros seis são investigados incluindo o doleiro Vinícius Claret, conhecido como “Juca Bala” e preso na última sexta-feira (3) no Uruguai a pedido a Procuradoria-Geral da República.
A acusação abrange a complexa rede utilizada pelo grupo do peemedebista, acusado de cobrar 5% de propinas nas grandes obras do governo do Rio durante a gestão Cabral (2007 a 2014), para lavar dinheiro de propina no exterior.
Além de Sérgio Cabral, também foram denunciados: Carlos Miranda (25 crimes de evasão de divisas e 21 crimes de lavagem de dinheiro), Wilson Carlos (25 crimes de evasão de divisas e 18 de lavagem de dinheiro), Sérgio Castro de Oliveira – Serjão (8 crimes de evasão de divisas), Vinicius Claret – Juca (25 crimes de evasão de divisas, 9 de corrupção passiva, 9 de lavagem de dinheiro e crime de pertencimento à organização criminosa), Claudio de Souza – Tony/Peter (25 crimes de evasão de divisas, 9 de corrupção passiva, 9 de lavagem de dinheiro e crime de pertencimento à organização criminosa) e Timothy Scorah Lynn (9 crimes de corrupção ativa e 9 de lavagem de dinheiro).
A denúncia imputou, ainda, 25 crimes de evasão de divisas, 30 crimes de lavagem de dinheiro e 9 crimes de corrupção passiva aos colaboradores Renato e Marcelo Chebar, que operavam as contas de Cabral no exterior.
Segundo o MPF, após a celebração dos acordos de colaboração premiada, foi possível revelar como Cabral e sua organização criminosa teriam ocultado e lavado:
1) R$ 39.757.947,69 (trinta e nove milhões, setecentos e cinquenta e sete mil, novecentos e quarenta e sete reais e sessenta e nove centavos) movimentados e guardados no Brasil;
2) USD 100.160.304,90 (cem milhões, cento e sessenta mil, trezentos e quatro dólares e noventa centavos), depositados em dinheiro em contas no exterior;
3) € 1.214.026,13 (um milhão duzentos e quatorze mil e vinte e seis euros e treze centavos) ocultados sob a forma de diamantes, guardados em cofre no exterior;
4) USD 1.054.989,90 (um milhão, cinquenta e quatro mil, novecentos e oitenta e nove dólares e noventa centavos), ocultados sob a forma de diamantes, guardados em cofre no exterior e;
5) USD 247.950,00 (duzentos e quarenta e sete mil, novecentos e cinquenta dólares), ocultados sob a forma de quatro quilos e meio de ouro, guardados em cofre no exterior.
A denúncia desta quarta abrange, especificamente, os crimes envolvendo a evasão de divisas do grupo criminoso por meio de operações dólar-cabo, expediente utilizado por operadores do mercado negro para remeter recursos para o exterior sem passar pela fiscalização das autoridades bancárias.
De acordo com o MPF, o total ocultado no exterior corresponde a R$ 318.554.478,91, “que representa apenas parte do que amealharam dos cofres públicos, por meio de um engenhoso processo de envio de recursos oriundos de propina para o exterior”, assinala a acusação.
As investigações apontam ainda que Sérgio Cabral, Wilson Carlos, Carlos Miranda e os colaboradores mantiveram depósitos clandestinos em contas no exterior e promoveram a lavagem de ativos, no exterior, de quatro formas distintas: com a manutenção de depósitos em nome de terceiros; com o pagamento de joia no exterior; com a compra de ouro e diamantes no exterior; com a transferência bancária para parentes de Carlos Miranda. Para a envio de recursos ao exterior, contaram com o auxílio direto de Vinícius Claret e Claudio Souza.
Com o acordo já foi possível repatriar US$ 85.383.233,61 provenientes das contas Winchester Development SA, Prosperity Fund SPC Obo Globum, Andrews Development SA, Bendigo Enterprises Limited e Fundo FreeFly em nome dos irmãos Chebar.
Os recursos encontram-se depositados em conta judicial na Caixa Econômica Federal.
Sérgio Cabral está preso preventivamente em Bangu 8 e já responde a outras quatro ações penais na Justiça Federal no Rio e a uma na Justiça Federal no Paraná, todas desdobramentos da Lava Jato.