Sediada em MS, quadrilha de traficantes tinha traço de máfia, um PM entre os chefes e distribuía 1 tonelada de maconha por mês, diz PF
As investigações sobre a quadrilha começaram há cerca de três anos e descobriram que uma família, do município de Mundo Novo.
elo menos uma tonelada de maconha por mês. Essa é a estimativa que a Polícia Federal (PF) faz de quanto a quadrilha internacional desarticulada nesta segunda-feira (25) na operação “Laços de Família” distribuía da droga, que era trazida do Paraguai, para outros estado brasileiros a partir de Mato Grosso do Sul.
Segundo o superintendente da PF em Mato Grosso do Sul, Luciano Flores, as investigações sobre a quadrilha começaram há cerca de três anos e descobriram que uma família, do município de Mundo Novo, no cone sul do estado, era quem chefiava o grupo.
Ele explica que a quadrilha tinha traços de máfia e uma estrutura piramidal, tendo um polícia militar que foi preso nesta segunda-feira, como um dos seus chefes. Flores disse que o grupo fornecia drogas para a comercialização por membros do Primeiro Comando da Capital (PCC) e que como pagamento pelo entorpecente, recebia além de dinheiro, joias e veículos de luxo.
No pagamento de uma destas remessas, o superintendente da PF diz que os compradores enviaram o valor da carga, R$ 300 mil em dinheiro e R$ 80 mil em joias, de helicóptero para os líderes do grupo mafioso.
De acordo com Nilson Zoccarato, chefe da Delegacia da PF em Naviraí e que coordenou as investigações, por um lado, a família mafiosa ostentava na pequena cidade sul-mato-grossense. Seus chefes moravam em mansões e utilizavam carros de mais de milhão de reais. Por outro, embutiam o terror, com o registro de casos de tortura envolvendo seus integrantes. Ele aponta que no ano passado, um dos principais chefes do grupo, acabou, inclusive, sendo assassinado.
Nos três anos de investigação que levaram a prisão da quadrilha, Zoccarato comenta que a Polícia Federal apreendeu 27 toneladas de maconha, R$ 317.498,16 em dinheiro; joias avaliadas em R$ 81.334,25; duas pistolas, duas caminhonetes e 11 veículos de transporte de carga, além de prender seis pessoas.
Nesta segunda quando foi deflagrada a ação, que leva o nome de “Laços de Família” por conta do núcleo central do grupo ser formado justamente por parantes, foram cumpridos 21 mandados de prisão preventiva e temporária, sendo 15 em Mato Grosso do Sul, nas cidades de Naviraí e Mundo Novo, e o restante nas cidades de Aparecida de Goiânia (GO), Astorga (PR) e Presidente Venceslau (SP).
Também foram expedidos pela 3ª Vara da Justiça Federal em Campo Grande outros 35 de busca e apreensão em residências e empresas, 136 de apreensão de veículos terrestres, 7 de apreensão de helicópteros, 5 apreensões de embarcações de luxo e 25 de apreensão de imóveis (apartamentos, casas, sítios e estabelecimentos comerciais), em Mato Grosso do Sul, Paraná, São Paulo, Goiás e Rio Grande do Norte.
Helicóptero que, segundo a PF, teria sido usado pela quadrilha de traficantes de MS (Foto: PF/Divulgação) Helicóptero que, segundo a PF, teria sido usado pela quadrilha de traficantes de MS (Foto: PF/Divulgação)
Helicóptero que, segundo a PF, teria sido usado pela quadrilha de traficantes de MS (Foto: PF/Divulgação)
Das sete aeronaves apreendidas, todas no estado de São Paulo, uma, segundo Zoccarato, pertence a um dos investigados por envolvimento nas execuções de dois chefes do PCC, Rogério Jeremias de Simone, o Gegê do Mangue, e Fabiano Alves de Souza, o Paca, em fevereiro deste ano.
Além das apreensões, o auditor fiscal José Maria Monteiro, que integra o setor de inteligência fiscal da Receita Federal, aponta que a Justiça determinou também o fechamento de dez empresas que eram utilizadas pelo grupo criminoso para lavar o dinheiro do tráfico. Ele explica que algumas destas pessoas jurídicas chegavam a funcionar efetivamente, mas que tinham receitas muito abaixo da movimentação financeira, enquanto que outras eram somente de fachada.
Além das empresas, Monteiro diz que o grupo tinha ainda cerca de 40 a 50 pessoas que eram laranjas do grupo, ou seja, emprestavam seus nomes e contas bancárias para a movimentação econômica e registro de bens pelos traficantes, mediante uma pequena recompensa financeira.
“Detectamos pessoas que viviam em situação humilde e chegavam a ter movimentação financeira de R$ 2 milhões a R$ 3 milhões, uma situação totalmente incompatível”, explica o auditor fiscal, completando que o mapeamento financeiro dos suspeitos ajudou a produzir mais provas contra a quadrilha.
“Desde 2016 a Justiça Federal compartilhou informações sobre 38 contribuintes e passamos a fazer a análise financeira, econômica e patrimonial destas pessoas. Produzimos relatórios que evidenciaram a discrepância e incompatibilidade. O padrão de via ostentado por algumas pessoas e aquilo que elas declaravam, seja para a Receita ou outros órgãos de controle. Gente que oficialmente tinha um pequeno salário e não tinha patrimônio, ou mesmo que não tinha emprego, e que morava em mansões, viajava para o exterior, andava em veículos de luxo e em helicópteros, tudo blindado por um verdadeiro laranjal”, explicou o auditor.
Com base na apreensão de drogas feita desde o início das investigações, 27 toneladas, a PF estima que a quadrilha despachava para outros estados, pelo menos 1 toneladas de droga por mês. Geralmente o entorpecente era escondido em meio ao carregamento de produtos lícitos, como, por exemplo, grãos.
De acordo com o superintendente da PF em Mato Grosso do Sul, dos 15 presos no estado, sete deve ser encaminhados, assim que houver autorização da Justiça Federal, para o Presídio Federal de Campo Grande, em razão de sua alta periculosidade. Um, o policial militar, deve ser transferido para o presídio Militar, também da capital e o restante deve ficar em estabelecimentos penais estaduais. G-1