Empresas listadas de 17 setores tiveram retorno positivo em 2016
Pesquisa de MELHORES e MAIORES mostra que, apesar de pedidos de recuperação terem crescido 50% em 2016, há sinais de que o aperto nos cintos trouxe fôlego
Por Daniela Rocha
5 maio
Loja da rede varejista Renner: a empresa se preparou para a crise e obteve um retorno de 25% em 2016 (Leandro Fonseca/Revista EXAME)
São Paulo – Nos últimos dois anos, muitas empresas tiveram de cortar custos e ajustar as operações para enfrentar a pior recessão da história do Brasil. Nem todo mundo teve êxito nessa empreitada — o número de pedidos de recuperação judicial no país cresceu quase 50% em 2016 —, mas há sinais de que o aperto nos cintos deu fôlego extra para muitas companhias sobreviverem à crise prolongada.
Entre os 20 setores mais importantes da economia, considerando uma amostra de empresas de capital aberto com ações na BM&F Bovespa, 17 tiveram retorno positivo no ano passado. A taxa de rentabilidade, obtida pela divisão do lucro líquido pelo patrimônio líquido, é um indicador de desempenho que mostra o ganho dos acionistas com o capital aplicado na empresa. Dos 20 setores analisados, 11 aumentaram sua rentabilidade em 2016 em comparação com o ano anterior.
Apenas três setores registraram prejuízo e, assim, fecharam o ano com rentabilidade negativa: siderurgia e metalurgia, indústria da construção e bens de capital. Os dados são da consultoria Economatica e serão apresentados com mais detalhes na edição de MELHORES E MAIORES 2017, que chegará às bancas no final de junho.
Mesmo em setores que não foram tão bem em 2016, como o varejo — com apenas 0,9% de rentabilidade —, há empresas que conseguiram mostrar eficiência. Um exemplo é a Lojas Renner. Desde 2013, quando a economia brasileira começou a dar sinais de desaquecimento, a maior varejista de moda do país vinha se preparando para tempos difíceis. Contratou uma consultoria para auxiliar na revisão de processos. Criou um centro de serviços compartilhados, concentrando na matriz o trabalho administrativo e financeiro que era feito em cada uma das lojas. Reformulou a logística, fez uma seleção mais criteriosa dos fornecedores e acelerou o lançamento de novas coleções.
Tudo isso ajudou a rede de lojas a alcançar uma rentabilidade de 25% em 2016. “No segundo ano de recessão no país, a empresa já estava ajustada para enfrentar a crise”, afirma Laurence Gomes, diretor financeiro e de relações com investidores da Renner. “Mesmo com um crescimento de vendas moderado, de apenas 5%, conseguimos uma margem operacional recorde no ano passado.”
O estudo da Economatica aponta que o setor de petróleo e gás foi o mais rentável do ano passado, com retorno médio de 25%. Isso apesar do desempenho da Petrobras, que, mesmo melhorando sua situação financeira depois de mudar a política de precificação de combustíveis, passando a seguir as cotações do mercado mundial, fechou o ano com retorno negativo de 5%. A maior taxa de rentabilidade no setor foi da Comgás: 31%. A companhia, maior distribuidora de gás natural canalizado do país, atribui o bom desempenho à expansão da base de consumidores. “Ao longo de 2016, mudamos nossa estrutura organizacional para aperfeiçoar a segmentação e atender aos diferentes perfis de clientes”, diz Nelson Gomes, presidente da Comgás.
Os bancos tiveram rentabilidade de 10,3%, o dobro da média obtida pelas empresas não financeiras. “No Brasil, historicamente, os bancos têm rentabilidade mais elevada. Mas em 2016 houve uma sensível queda nesse indicador do setor bancário, com recuo de quase 1 ponto percentual em relação a 2015”, afirma Einar Rivero, gerente de relacionamento institucional da Economatica. Em conjunto, as empresas não financeiras tiveram em 2016 uma rentabilidade média de 5,1%, ante 4,5% no ano anterior. Apesar do avanço, foi menos do que rendeu uma aplicação conservadora como a caderneta de poupança, que proporcionou ganho de 8,3% em 2016. Sinal de que, mesmo lidando bem com a recessão, ninguém está nadando de braçada.