Qual é a diferença entre lavouras de alto e baixo rendimento? Segundo o pesquisador e engenheiro agrônomo Dirceu Gassen, conhecimento é a resposta. Formado pela Universidade de Passo Fundo (RS), e com mais de 200 publicações relacionadas à proteção de plantas, plantio direto e evolução na agricultura, Gassen é um dos notáveis do Conselho Científico para Agricultura Sustentável (CCAS).
De acordo com Gassen, a diferença entre lavouras que produzem 40, 50% acima da média das demais não está nas sementes e nas cultivares, nem no clima, tampouco no solo. “O diferencial de quem produz mais e melhor, e consequentemente tem mais retorno financeiro, está em pessoas capacitadas para aplicar o conhecimento agronômico na hora certa”, ressalta ele, acrescentado que: “O ingrediente ativo mais importante no campo hoje é o conhecimento aplicado por hectare.”
Segundo pesquisador, o agricultor que, obviamente, quer melhorar a produtividade de sua lavoura pode, por exemplo, começar a analisá-la por partes. “Ao examinar as áreas que apresentam maior rendimento, ele pode compreender os fatores que estão levando a este resultado e aplicá-los nas demais partes.”
Antecipação da semeadura traz riscos
Gassen alerta que a cada vez mais frequente antecipação da semeadura da soja, por exemplo, traz riscos para o agricultor. O pesquisador explica que com a crescente introdução de variedades mais precoces, por razões agronômicas e financeiras, o agricultor constatou que estas cultivares passaram a apresentar bom desempenho. “Foi esta antecipação da soja, este encurtamento de ciclo, que nos fez ‘descobrir’ a segunda da safra de milho.”
Só que o problema, diz Gassen, é que a mudança fez com que a semeadura de soja nos principais polos agrícolas passasse a ocorrer em outubro, e não mais em novembro, mês que tradicionalmente marca a melhor época de chuvas para o plantio. “Com a antecipação, passamos a semear em outubro, em um período de maior instabilidade de chuvas, o que acarreta em ameaças ao plantio devido ao clima mais seco.”
E, de acordo com o pesquisador, se a semeadura é antecipada, a colheita também é. “Estamos colhendo agora em fevereiro, mês de elevada intensidade de chuvas, o que é prejudicial para a colheita. Ou seja, o risco é duplo”, assinala Gassen, que crava: “está faltando engenharia agronômica no campo.”
FONTE: Datagro