(Reuters) – A indefinição sobre a tabela
de fretes proposta pelo governo já representa um risco real à
comercialização do milho de segunda safra no Brasil, seja quanto
a possíveis entraves no escoamento, seja em relação a eventuais
cancelamentos de contratos, segundo corretores do mercado.
O tabelamento de fretes, uma das medidas adotadas para se
encerrar os protestos de caminhoneiros, vem gerando
divergências, com produtores agropecuários alertando para o
risco de elevação dos custos. As discussões continuam, e um
modelo definitivo para esses preços ainda não foi publicado pela
reguladora ANTT.
Sem um horizonte claro, compradores estão fora dos negócios
há praticamente três semanas, disseram os corretores, notando
apenas negócios pontuais.
A lentidão no mercado tem prejudicado as vendas de soja,
cuja safra recorde acabou de ser colhida, e tende a atrapalhar a
comercialização do chamado milho “safrinha”, em fase inicial de
colheita.
As empresas que negociaram a exportação de ‘safrinha’,
fizeram o cálculo com outra base para frete. Mediante a tabela,
está totalmente diferente. Onde almejavam um ganho de 2 a 3
dólares por tonelada, passariam a perder agora 20 a 30 dólares
por tonelada, dependendo da praça onde o produto deverá ser
retirado, disse o corretor Marco Forcin, da América Corretora.
Para ele, a situação dos fretes precisaria ser resolvida
“imediatamente”, para que contratos não comecem a ser
cancelados, sejam eles para os embarques ainda no Brasil, ou
mesmo os que deverão ser entregues, junto aos compradores finais
no destino. Vendedores e compradores deverão analisar se
compensará ou não performar a operação, explicou.
A Chicago Corretora de Cereais, de Primavera do Leste (MT),
relatou que as empresas “não estão se posicionando quanto a
lançar preços”.
“O produtor estava rodando a 75 reais por saca (de soja),
mas para a trading comprar com o frete de agora precisaria
baixar para 69 reais. Só que o próprio comprador não sabe se vai
conseguir buscar, porque não sabe qual será o frete. Está tudo
parado”, afirmou a corretora.
De acordo com a empresa, a letargia nas vendas de soja pode
reduzir o espaço disponível em silos para o armazenamento de
milho, repetindo uma situação observada no ano passado, quando
os produtores venderam mais lentamente a soja em meio a uma
safra recorde do cereal.
Mas a condição projetada agora seria mais delicada, já que
surge o risco de vendas posteriores a preços bem menos
remuneradores –negócios na entrada da safra costumam ser mais
interessantes, enquanto a oferta pela colheida ainda não é
grande.
O Brasil colheu quase 120 milhões de toneladas de soja e
deve produzir pouco mais de 60 milhões de toneladas na atual
safrinha. Antes dos protestos de caminhoneiros e dos problemas
decorrentes da tabela de fretes, o setor esperava exportar mais
de 70 milhões da oleaginosa e cerca de 30 milhões de toneladas
do cereal.
A despeito das queixas do mercado, os dados preliminares do
Porto de Santos, principal porta de saída da safra brasileira,
apontam para uma normalidade na movimentação de caminhões e
embarques.
“No caso dos graõs, o momento é de final de escoamento da
safra de soja. A princípio… os dados disponíveis sugerem
normalidade”, disse a assessoria de imprensa do Porto de Santos,
destacando que a média anual, considerando-se todas as cargas e
não apenas grãos, é de 7 mil caminhões ao dia nos terminais
–durante o escoamento da safra, esse número cresce, chegando em
torno de 10 mil.
(Edição de Roberto Samora)
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