Redes sociais fazem explodir a venda de pop-it, o brinquedo para desestressar


Foi o suficiente para ela insistir que o pai, o empresário Roffman Ribeiro, encontrasse o produto.


A procura aconteceu em maio, sem sucesso. Como trabalha com marketing digital e tem contato com alguns importadores, Ribeiro conseguiu encomendar o produto e montar uma pequena loja dentro do site da sua agência, a Inconnect Marketing.


“Não tinha grandes expectativas, só montei a loja no fim de maio e pedi para ela avisar os amigos, pensando nos pais que também não iriam encontrar os pop-its. Mas viralizou”, diz ele.


Em três meses, Ribeiro faturou R$ 150 mil com os pop-its -isso é pelo menos dez vezes a renda mensal que ele tinha com a agência, cujo trabalho precisou interromper. Agora 100% da sua atenção está voltada para o site Fidgettoys.com.br, domínio que ele registrou.


“Foi uma sacada que eu tive no curso do [coach] Wendell Carvalho: precisava reservar a marca logo para ser dono dela”, diz.


Segundo a Mosaico, que reúne os sites de comparação de preços Buscapé, Zoom e Bondfaro, em agosto, houve um aumento de 535% nas buscas por estes brinquedos de amassar, em relação a julho. Já a quantidade de alertas criados -avisos quando o produto atingir determinado preço- disparou 1.600% na comparação mensal. No período, os três sites somaram 138,1 milhões de visitantes únicos.


Influenciadores mirins, como Luluca, dona de uma extensa lista de 11,3 milhões de seguidores no YouTube, fazem vídeos periódicos exibindo os mais diferentes formatos de pop-its e de outros fidget toys, como o polvo do humor, o mini-cubo, o spinner ou as bolinhas amassáveis. É o suficiente para movimentar a venda dos produtos, desde lojas tradicionais até camelôs.


A maioria dos pop-its é importada. No Brasil, a Luka Plásticos se apresenta como a única fabricante de pop-its certificada no país pelo Inmetro. Especializada em injeção plástica, com a fabricação de produtos promocionais e de peças para a indústria automobilística, a empresa encontrou nos pop-its uma nova veia de vendas.


“Nós começamos a produção há cerca de 50 dias e já vendemos mais de 200 mil unidades para atacadistas”, afirma Gonzaga Pontes, diretor da Luka Plásticos. Pontes conta que um conhecido que vende na Feirinha da Madrugada, no Brás, região central de São Paulo, o apresentou ao produto e disse que a novidade estava fazendo sucesso.
“Decidi apostar”, diz Pontes, que hoje já tem 50% do seu faturamento proveniente das bolhas de silicone. Seus principais clientes são atacadistas de todo o país, que revendem os produtos na internet.


Uma das varejistas de brinquedos mais populares de São Paulo, a Armarinhos Fernando está há cerca de 20 dias “vendendo muito bem” um único modelo de pop-its, a R$ 19,90, segundo o gerente geral da empresa, Ondamar Ferreira. “Compramos um lote até agora, o frete da China está muito caro”, diz o executivo.


Na Fidgettoys, de Roffman Ribeiro, o preço varia de R$ 60 a R$ 850. O item mais caro do mix é um pop-it gigante, de 85 centímetros, que pesa dois quilos. “Metade do preço é só frete, mas achei importante ter o produto para servir de aspiracional”, diz ele.


O tíquete-médio da Fidgettoys é R$ 250. Ribeiro já atendeu clientes ilustres, como a modelo Gracyanne Barbosa e a atriz Thaís Fersoza, mulher do cantor Michel Teló. Apesar do sucesso, o empresário, que até março era coordenador de distribuição da Volkswagen no Rio, garante que não ficou rico.


“Tem a despesa com o produto, a tarifa de importação, o intermediador de pagamento, a divulgação nas redes. Cerca de 70% do preço do produto é custo”, afirma Ribeiro, que conta com a esposa para fazer a postagem nas redes sociais e outros três profissionais -um designer, um editor de vídeo e um gestor de tráfego.


Ribeiro conta que a primeira quinzena de julho foi “maravilhosa” em vendas, mas nos 15 dias seguintes apareceram os primeiros problemas com a logística. “Minha vida virou um caos”, diz.


O empresário não sabe até quando deve durar a febre dos pop-its, mas a Fidgettoys vai continuar como uma loja de brinquedos, aproveitando a bola da vez. “O pop-it já superou completamente as minhas expectativas, mas acho que o sucesso ainda dura mais uns dois meses”, afirma o empresário, que se diz “viciado” no barulhinho das bolhas sendo apertado. “Sempre pego um pop-it quando chega alguma reclamação”, brinca.


Já Gonzaga Pontes, da Luka Plásticos, avalia que os pop-its devem se tornar uma nova linha de produtos. “Existem efeitos terapêuticos para as crianças, elas se acalmam”, afirma.


Segundo especialistas, o brinquedo pode estimular a parte sensorial da criança, por meio de toques, cores e sons, ajudando na coordenação motora.


“Meu filho adora. Viu no YouTube, fomos ao shopping e ele me enlouqueceu até comprar”, diz Karinna Rodrigues, mãe de Pedro Henrique, de 7 anos, que acabou levando um lote de produtos para oferecer como lembrancinha na festa de aniversário do filho, no mês passado.


“Mas acalmá-lo, não acalma, não”, brinca Karinna, ela própria uma usuária do pop-it: comprou uma capinha de celular com o tema.


Giselle Vazquez, mãe de Bianca, 9, e Bernardo, 6, concorda. “Não acalma, mas se brincar traz bem-estar, então está valendo”, diz ela, que também gosta de apertar as bolhas quando encontra uma por perto. “As crianças usam os pop-its nas brincadeiras que veem no YouTube”.
“As crianças ficaram loucas pelo pop-it”, diz Ingrid Ferreira, mãe de Maria Luísa, 10, e João Paulo, 6. “Mas eles brincam cinco minutos e param. Porém, quando veem os YouTubers brincando, apresentando os mais diferentes tipos de pop-its, passam horas assistindo”.