Estiveram no almoço seis pessoas: a dona da casa, o filho dela, duas irmãs, o cunhado e uma sobrinha. Segundo a família, ninguém tinha sintomas.
Por Cairo Oliveira e Natan Lira, G1 Mogi das Cruzes
Há cinco meses Zemilda Silva do Nascimento Gonçalves, de 54 anos, vivia um sonho: tinha conquistado a casa própria, em Mogi das Cruzes, que dividia com o filho Pedro, de 14 anos, que tem síndrome de down. Os cuidados com ele tomavam boa parte de sua rotina. Na escola onde o menino estuda, Zemilda ficou conhecida pela alegria e por ser muito participativa em todas as atividades.
No dia 26 de abril, ela sentiu vontade de comer lasanha e decidiu reunir familiares próximos, mas por lá também estava o novo coronavírus. Os seis participantes testariam positivo para a Covid-19. Zemilda morreu 15 dias depois de complicações da doença.
Zileide Silva do Nascimento, de 56 anos, a irmã mais velha de seis irmãos, conta que o convite partiu de Zemilda, porque tinha vontade de comer lasanha. Ela convidou uma das irmãs, a informação passou para a outra irmã e também foram um cunhado, a sobrinha e o filho Pedro.
“Ninguém tinha sintomas, eles não pensaram que isso poderia acontecer. Antes disso, o Pedro tinha ficado doente, com dor de ouvido, mas ele estava curado já. Agora a gente acredita que ele estava doente e todo mundo acabou pegando. O teste dele deu positivo”, diz Zileide, que não participou do encontro, porque estava trabalhando.
Os sintomas
Dois dias após o almoço, em 28 de abril, Zemilda começou com sintomas fortes de gripe. A família diz que ela foi até a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Oropó, em Mogi das Cruzes, e foi receitado remédio para tomar em casa.
Segundo a família, a situação se repetiu por mais três vezes. Duas delas na segunda-feira, 4 de maio. Só no dia seguinte ela foi internada, já com muita dificuldade para respirar.
“A minha filha disse que estava mal em casa. Quando a gente chegou lá, ela estava bem mal mesmo. O Samu chegou e queria levar ela para a UPA de novo, mas a gente disse que a orientação que a médica tinha dado era de que se ela piorasse para levar no Hospital Municipal, que é referência. Aí decidiram levar ela para lá. Isso era à tarde, à noite ela já foi entubada”, relembra. Zemilda morreu no dia 11 de maio.
O G1 questionou a Prefeitura de Mogi das Cruzes sobre as reclamações do tratamento prestado à Zemilda e espera retorno.
Zemilda e o filho Pedro viviam juntos no apartamento recém-conquistado por ela. — Foto: Zileide Nascimento/Arquivo Pessoal
Após a internação de Zemilda, os familiares começaram a ter alguns sintomas de gripe e perda de olfato e paladar. Uma das irmãs precisou ser internada por sete dias, mas recebeu alta. Zileide diz que todos os seis que participaram do almoço testaram positivo.
“A minha outra irmã, que também não foi no almoço, tinha encontrado com a Zemilda na quinta-feira anterior no mercado, e depois ela foi para a casa da Zemilda. Ela também testou positivo”, conta.
Os pais no céu
Desde que a mãe foi internada, Pedro está na casa da filha de Zeleide. Ela diz que ele chora, chama pela mãe e diz que ela morreu. Eles tentam amenizar a situação, dizendo que a mãe foi morar com o pai dele no céu.
“Ele diz que quer ir morar no céu com o pai e a mãe. A gente fica sem saber o que fazer. Ela era tudo para ele. Levava ele na Apae, na fisioterapia, na ecoterapia, na fonoaudióloga. Eu tive que ir com ele no hospital em que ela foi internada, ele disse que não queria entrar, porque a mamãe tinha morrido lá. É difícil”, ressalta.
Zemilda diz que agora Pedro deve ir morar com uma irmã por parte de pai em São Paulo, mas antes a família tenta que ele faça o exame para verificar se a carga viral diminuiu.