COMPORTAMENTO
A guerra é maior do que parece
Quem são e como agem as cerca de 80 facções criminosas que se fortalecem em todo o País, controlam rotas do tráfico dentro de estados e ameaçam autoridades e órgãos públicos
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Um plano arquitetado por integrantes da facção criminosa Família do Norte e descoberto pelo setor de inteligência da Secretaria de Segurança Pública do Amazonas revelou que, além das rebeliões no Complexo Penitenciário Anísio Jobim, em Manaus, os membros do grupo pretendiam executar um atentado contra autoridades de segurança pública do estado. O relatório, divulgado em 12 de janeiro, apontou que, em uma reunião entre presos do regime semiaberto e líderes do regime fechado, os integrantes concluiram que a primeira parte da missão havia sido cumprida. A outra etapa seria um atentado ao Tribunal de Justiça do Amazonas e ao Ministério Público de Estado. Para isso, os criminosos acionariam colombianos especializados em explosivos e pistoleiros. Hoje, os edifícios dos órgãos públicos contam com segurança reforçada e os funcionários não podem dar declarações. Esse cenário de terror reflete as proporções que chegou a disputa pelo tráfico. Mais que isso: a crise penitenciária expôs o poder de dezenas de facções até então subestimadas em todo o País.
Dados obtidos a partir do cruzamento de informações dos serviços de inteligência da Polícia Federal e das secretarias de segurança pública apontam que o Brasil tem atualmente cerca de 80 facções criminosas que atuam dentro e fora dos presídios. As primeiras surgiram em São Paulo e no Rio de Janeiro, com membros dissidentes do Primeiro Comando da Capital (PCC) e Comando Vermelho (CV). Hoje, porém, muitas outras nasceram para atuar como sócias minoritárias que controlam o tráfico em diversos estados, distribuem as drogas e, na esteira das maiores, podem se tornar grandes potências do crime. Além disso, o próprio sistema prisional favorece a multiplicação das organizações criminosas. “A primeira pergunta dos agentes penitenciários é a qual facção o detento pertence”, diz Luciano Taques Ghignone, promotor de Justiça do Ministério Público da Bahia. “Se não existe filiação, ele é encaminhado para a ala da cadeia na qual estão membros do grupo predominante no bairro em que vivia, e assim será facilmente cooptado.”
Os grupos criminosos se multiplicam no Norte e no Nordeste e distribuem para os estados as drogas que vem da fronteira com o Peru
Desde que adotou a estratégia de se expandir para outros estados, o Primeiro Comando da Capital deixou pelo caminho opositores que não estavam dispostos a seguir ordens dos líderes Cesinha e Marcola em São Paulo. Surgiram, então, grupos como Terceiro Comando da Capital, Seita Satânica e Comando Democrático da Liberdade, que tentam até hoje enfrentar a hegemonia do PCC. Já no Amazonas, a FDN, que conta com o apoio do Comando Vermelho, conseguiu um poder de barganha importante na disputa pelas rotas do tráfico. Eles controlam o caminho que possibilita a entrada de drogas pelo norte do País, na fronteira com o Peru. “O PCC tem o domínio da rota do sul, agora eles querem controlar a rota do norte”, diz Márcio Sérgio Christino, procurador de Justiça. “É assim que as facções regionais se multiplicam, com a tomada de bocas e regiões que pertencem a grupos rivais.”
Opositores do PCC
Nas regiões em que não há hegemonia do PCC, facções menores encontram facilidade para se organizar – o Norte e Nordeste são as que mais sofrem com a multiplicação. As autoridades de segurança não conseguem reprimir a atuação das facções. “Esse modelo leva ao aumento da criminalidade e, com o descontrole nos presídios, tudo indica que o quadro deva se agravar”, diz Edison Brandão, desembargador e presidente da Comissão de Segurança do Tribunal de Justiça de São Paulo.
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