Por: Folha de Dourados
Não posso perder a esperança na recuperação do Brasil; mas confesso que estou quase perdendo a fé nisso.
O Brasil está numa crise política histórica; me atrevo dizer que ainda maior que a criada pelos militares quando assumiram o controle do pais na revolução em 1964.
Naquela ocasião apenas alguns dos eleitos foram cassados pelo Regime Militar, os demais continuaram atuando – um tanto tolhidos nos seus direitos é verdade, mas continuaram.
Agora não, a maioria dos políticos, pelo menos os líderes partidários, terá um destino pior, além de sua cassação; parece que grande parte irá pra cadeia mesmo. E não é apenas porque usaram dinheiro do caixa 2; é porque usaram recursos desviados de empresas públicas. Não há como a Justiça não condenar essa maioria. Assim, ficaremos sem liderança política – estamos no mato sem cachorro.
Na verdade nem sei mais o que dizer dessa situação um tanto desesperadora. Gostaria de fazer o que Nizan Guanaes está fazendo. Sempre leio a coluna dele e numa delas ele diz que, aconselhado por Abílio Diniz, está rezando todos os dias pela manhã e tem encontrado um grande alívio para aguentar o tranco que suas empresas estão passando nessa crise econômica e política.
Na verdade rezar sempre rezei e foi minha mãe que me ensinou. Tão católica e devota era minha mãe que até tentou me convencer a ser padre. Lembro como foi difícil persuadi-la a deixar-me sair do seminário. Ela ainda tentou com mais dois irmãos, mas também não conseguiu ter um filho padre.
Como sou cristão e acredito que Deus também nos ouve e atende através de intercessores (santos) talvez seja bom pedir à minha mãe – que já era santa aqui e com certeza está no Céu – para interceder junto a Ele para que ajude o Brasil a superar essa crise.
Se ainda não fiz isso é porque nem saberia como explicar à minha mãe todas essas complicações políticas nossas. E, além disso, não nego que ando meio descrente dos meus semelhantes, especialmente dos adultos – me refiro aos eleitores.
Depois, coisa pior: assim como estou perdendo a fé na recuperação do país, também ando perdendo um pouco de fé na religião porque, não somente a minha, mas todas elas estão mais concentradas em arrecadar dinheiro que pregar os ensinamentos religiosos. Sem contar as barbáries que outras andam aprontando por aí em nome de Deus.
E como continuar tendo fé se ainda nos faltam quase dois anos para termos um governo novo, eleito pelo povo e com mais força que este? Como ter fé se essa “mãe de todas as bombas” chamada Lava Jato implodiu com todas as lideranças políticas, enfraqueceu de tal forma este governo de Michel Temer que, tudo indica, não vai conseguir aprovar as reformas necessárias. Assim, o país pode se transformar, economicamente, numa Grécia – ou pior, num governo como o do Rio de Janeiro.
Me perdoe caro leitor todo esse pessimismo (dei uma relida no que escrevi até aqui e me achei meio negativo, cético, sei lá). Talvez todo esse espalhafato acerca dos depoimentos tornados públicos na Lava Jato nesses últimos dias estejam me influenciando negativamente. Mas, aposto que a você deve estar acontecendo o mesmo: estamos quase perdendo a fé na recuperação do Brasil.
(*) Membro da Academia Douradense de Letras; foi vereador, secretário do Estado e deputado federal. ([email protected])