Moro afirmou que as conversas estão voltadas principalmente para a Economia e anunciou Affonso Celso Pastore como seu conselheiro
Perguntado sobre como tem discutido projetos no bastidor político, Moro afirmou que as conversas estão voltadas principalmente para a Economia e anunciou Affonso Celso Pastore como seu conselheiro. “É um dos melhores nomes do País”, disse. “O problema é que esse projeto ainda está sendo construído e a partir do momento em que se revelam nomes, as pessoas ficam sob uma pressão terrível. Eu vou revelar um, e vou pedir escusas para não revelar outros: no nível macroeconômico, quem tem me ajudado é um economista de renome, um dos melhores nomes do país, alguém que eu conheço há muito tempo, que é o Affonso Celso Pastore.”
Pastore é doutor em economia, colunista do jornal O Estado de S. Paulo e foi presidente do Banco Central de 1983 até 1985, fim período da Ditadura Militar. Recentemente, lançou o livro “Erros do passado, soluções para o futuro: A herança das políticas econômicas brasileiras do século XX”.
Ao ser questionado pelo apresentador Pedro Bial se isso seria o anúncio da candidatura, enfatizou: “Essa jornada começa agora com a filiação. Estamos abertos para colocar o Brasil nos trilhos. Vai muito além do combate à corrupção. Precisamos nos tornar o país do futuro finalmente. Estou sim preparado.”
Logo na abertura da conversa, o jornalista transportou Moro de “herói nacional” para “vilão ao se tornar avalista moral do presidente Jair Bolsonaro”. “Gostei da introdução, todo mundo gosta de um bom filme. Não sei se concordo com a característica de vilão”, ponderou. Ao ser indagado se o problema seria apontar o vilão ou procurar os heróis, respondeu: “Precisamos de bons líderes, mas que construam instituições que incentivem a construção de grandes líderes.”
Bial então citou uma entrevista dada ao jornal O Estado de S. Paulo em 2016, em que ele respondeu que “jamais seria candidato”. Na época, Moro afirmou ser “um homem da Justiça”. “Naquele momento, o que vimos foi um Brasil vencendo a corrupção. Estávamos virando o jogo. Estava focado no meu trabalho e acreditava que o jogo iria virar”, defendeu-se. “No entanto, em 2018, tive a oportunidade de virar ministro da Justiça e encarava como missão por um propósito maior. Porém, quando o governo boicotou o projeto de combate à corrupção, passou a adotar um comportamento de, ao invés de coibir, interferir, saí do governo. Estamos perdendo o que construímos a duras penas na Operação Lava Jato”, reforçou.
Para ele, a decisão pela filiação surgiu após uma palestra nos EUA em que ouviu de um participante que “abandonou o Brasil”. “Foi um tiro no meu coração. Estava cogitando há muito tempo.”
Indagado novamente se será candidato, declarou: “O que eu disse no meu discurso é que não me omitirei. Estou preparado para assumir a liderança desse projeto. Sinto-me habilitado a construir esse projeto”, insistiu.
A entrada no partido ocorreu no último dia 10 de novembro. Na cerimônia, o ex-ministro da Justiça prometeu ainda criar uma nova força-tarefa para o combate à pobreza, defendeu a liberdade de imprensa e reforçou a necessidade de reformas – especialmente a tributária – e a privatização de estatais ineficientes.
Afastado do debate nacional desde que deixou Ministério da Justiça do governo Jair Bolsonaro em abril de 2020 quando foi atuar em uma empresa de consultoria nos Estados Unidos, o ex-juiz tenta agora conseguir apoio nas bases “lavajatistas”, incluindo grupos que lideraram as manifestações pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), como o Vem Pra Rua e o Movimento Brasil Livre (MBL).
Interferência em 2018
Na conversa, Moro voltou a negar interferência no processo eleitoral de 2018 e reafirmou que aceitou o cargo de ministro da Justiça e Segurança Pública do governo Bolsonaro acreditando “ser a chance de ajudar o povo brasileiro”. Pontuou ainda não ter uma “questão pessoal” com o ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva. “Fiz meu papel de juiz e apliquei a lei.”
Quanto à anulação das condenações criminais de Lula na Operação Lava Jato pelo ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), em março deste ano, ele considerou que a mudança de jurisprudência do STF “infelizmente enfraqueceu o combate à corrupção”. “Mas não muda o mérito. O que existe, muitas vezes, é um apego ao formalismo, que faz com que criminosos sejam soltos. Não acredito em processos alternativos. A verdade é uma só: ‘Mensalão’ e ‘Petrolão'”, comentou, referindo-se a casos de corrupção de governos petisas.