Embrapa alerta que a prática realizada sem consulta técnica pode não render a produtividade esperada e ainda provocar doenças em consumidores e contaminação ambiental24 de março de 2019 às 18:47
Por Carolina Lorencetti, de Cláudia (MT)Compartilhe:TwitterFacebookGoogle PlusLinkedInE-mail
Após registrar um aumento de 77% em receita de vendas no ano passado, a indústria de biodefensivos tem expectativa mais moderada para 2019 e espera crescer em torno de 20%, em linha com a média histórica do setor. Em volume, o maior mercado para os biodefensivos é a soja, mostrando a importância desse novo manejo para a principal cultura do país.
A produção de biológicos na propriedade apresenta como principal trunfo ao produtor a possibilidade de redução de custos. No entanto, a iniciativa exige extremo cuidado. O ideal para quem está começando a usar os biológicos é seguir o caminho trilhado pelo produtor Nicolas Blender, de Cláudia (MT), que, antes de mais nada, procurou assistência qualificada. Começar sozinho, nem pensar.
“Quem quiser produzir fungos, vírus e bactérias (com essa finalidade) precisa ter a consciência de que, se isso for feito da maneira errada, o processo pode gerar sérios problemas para a saúde de quem consumir os alimentos depois”, alerta a pesquisador da Embrapa Rose Monnerat.
A pesquisadora ressalta que um material eventualmente contaminado não será eficaz para a produção. “Pode causar alguma doença grave. Então a gente tem que alertar o produtor que essa prática requer muito cuidado, porque ninguém vai querer ser responsabilizado por um dano ao meio ambiente, por um dano à saúde de outras pessoas”, diz.
A primeira dica para quem está pensado em produzir os biológicos na propriedade é ouvir um especialista. Na sequência, deve-se comprar os materiais corretos e montar um pequeno laboratório, para iniciar uma produção de qualidade.
“É preciso ter um reator onde o material será esterilizado, para que a bactéria seja inoculada da forma correta, pura, e também todos os periféricos a esse reator. Precisa de um gerador de vapor, se for o caso, dependendo do tamanho do equipamento, e um laboratório ao lado para fazer um controle de qualidade. Precisa ter um compressor de ar também”, enumera a pesquisadora da Embrapa Rose Monnerat.
Nessa etapa, é preciso conferir se o material não está contaminado. Por isso, o laboratório é muito importante. Depois vem a hora de ajudar os outros produtores, repassando as informações aprendidas.
“O produtor tem o direito de produzir biológicos na propriedade dele, mas não pode vender os microrganismos. Para isso é necessário ter um registro no Ministério da Agricultura. O decreto não obriga a contratação de um responsável técnico, nem o cadastro de quem está usando o produto biológico”, diz a pesquisadora.
Na prática
Quando a plantadeira está no campo, vista de longe, parece tudo igual, mas ao se aproximar percebe-se que, junto com a semente, o produtor Nicolas Blender está colocando também um produto biológico. Na safra passada foi a primeira vez que ele usou bactérias para o tratamento do solo.
“Conversando com outros produtores, a gente viu que realmente fazia efeito, deu resultado. Então por que não começar a usar para ver se realmente vai surtir efeito?”, perguntava-se o produtor. Mas a decisão só veio depois das dúvidas esclarecidas por profissionais da área.
Antes da aplicação no plantio, o produtor multiplicou as bactérias em um espaço construído especialmente para isso. A instalação tem ar-condicionado para garantir que os microrganismo estejam sob temperatura controlada, entre 16ºC e 20ºC.
“Vamos ver agora no milho, né? Porque eu estou usando de novo no milho. Se der resultado, a intenção é de aumentar, melhorar a estrutura que eu comecei”, afirma Blender.
Na região de Cláudia, no médio norte de Mato Grosso, o solo é bem arenoso e facilita a reprodução de nematoides. Quanto mais nematoides no solo, menor é a produtividade da soja e do milho. Por isso o produtor está tão interessado no uso de biológicos.
“Sem o controle biológico, não conseguimos romper algumas barreiras. Colocamos uma soja que expressa alta produtividade, mas ela é sensível a um nematoide e sensível à fixação biológica de nitrogênio. Aí o material fica exposto, com alta carga produtiva e o material não expressa seu potencial de produtividade e o produtor desiste daquele material”, conta o consultor Igor Reinaldo Pontes.
Atualmente o produtor tem duas opções se optar por este manejo: comprar as bactérias prontas, diluir em água e aplicar; ou multiplicar esses microrganismos dentro da própria fazenda, ato conhecido como produção “on farm”.
“A produção dentro das propriedades hoje é de aproximadamente 30%. Se o produtor fosse comprar isso no mercado, teria um custo maior. A dose produzida fora da propriedade custa em torno de R$ 600 por hectare ou mais, e produzindo internamente, vai variar de R$ 20 a R$ 35 por hectare”, afirma o diretor da Aprosoja-MT, Zildo Donadello. CANAL RURAL