Produtores confirmam participação do Cimi em invasões

Os produtores rurais Vanth Vanni Filho e Mônica Alves Corrêa confirmaram durante oitiva na CPI a participação de membros do Conselho Indigenista Missionário em invasões de propriedades particulares em Mato Grosso do Sul.

PATRÍCIA MENDES E WAGNER GUIMARÃES
Os produtores rurais Vanth Vanni Filho e Mônica Alves Corrêa confirmaram na tarde de ontem (3), durante oitiva na CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) do Cimi, a participação de membros do Conselho Indigenista Missionário em invasões de propriedades particulares em Mato Grosso do Sul.
Tanto Vanth, que é proprietário da fazenda Cambará, cuja escritura data de 1912, quanto Mônica, que é dona da fazenda Esperança, em sua família desde 1873, garantiram que a relação com os indígenas da região sempre foi pacífica. Ambos tiveram suas propriedades invadidas em 2013.
Tudo mudou quando os indígenas iniciaram um processo de tentativa de ampliação de seus territórios.
Vanth, cuja fazenda está invadida há dois anos, na região de Sidrolândia, afirmou em seu depoimento que dois de seus funcionários são casados com indígenas e que ambos sempre relataram sobre a influência que o Cimi exercia sobre as aldeias da região, sobretudo incitando a promoção de invasões.
Ele apresentou à CPI comprovantes de que a embaixada da Noruega financia o Cimi. Presidente da CPI, a deputada Mara Caseiro (PTdoB) questionou o destino desse dinheiro, uma vez que os indígenas não possuem recursos para se estruturar nos movimentos de invasão.
Mônica Corrêa também fez relato da invasão ocorrida em 2013 na fazenda Esperança e confirmou a presença de membros do Cimi na ocasião.
Um desses integrantes é o advogado terena Luiz Henrique Eloy, que mesmo sendo um operador do Direito, disse à proprietária rural e aos seus familiares que a invasão da terra estava acontecendo porque, pela lei terena, aquela área pertencia aos indígenas, independentemente das leis que regem o estado brasileiro.
De acordo com Mônica, Eloy defendeu sua dissertação de Mestrado dentro de sua propriedade, em meio ao processo de invasão com apoio da UCDB (Universidade Católica Dom Bosco), mesmo sem sua autorização.
Ainda segundo a proprietária rural, durante a invasão de sua propriedade, os indígenas demonstraram planejamento e sistemática de guerrilha em sua movimentação, o que, em sua opinião, pode ter apoio não apenas do Cimi, mas de outras organizações semelhantes.
CONTRAPONTO
O Procurador da República, Emerson Kalif Siqueira, também foi ouvido nesta tarde e afirmou aos membros da CPI que visita com regularidade aldeias indígenas de Mato Grosso do Sul.
Ele disse que nunca presenciou o Cimi incitando invasões de terras particulares. Em sua visão, a instituição ocupa espaços em que o estado brasileiro deveria se fazer presente.
Ao defender o Cimi, ele disse que o órgão ajuda os indígenas de modo geral e, sobretudo, a entender determinados processos, o que em sua visão não é crime.
O procurador foi evasivo ao responder a questionamento da deputada Mara Caseiro sobre a função do Cimi e a intenção de órgãos internacionais ao fazer doações à instituição católica.
Ele culpou o governo brasileiro pela guerra no campo, devido a vários motivos, como a demora nos processos demarcatórios e ausência de assistência social aos indígenas, o que os incentiva a invadir territórios titulados.
PRÓXIMOS DEPOIMENTOS
Ao encerrar os trabalhos desta tarde, a deputada Mara Caseiro colocou em votação os nomes das próximas pessoas a serem ouvidas pela CPI. São elas: os indígenas Lindomar Terena, Abrão (Bodoquena), Dirce Veron (Dourados), Raul das Neves (Rio Brilhante), o procurador Ricardo Pael, o membro do Cimi Erwing Klaustrer, a produtora rural Rosely Ruiz, o vereador Cledinaldo Cotocio (Sidrolândia), o ex-superintendente da Funai (Fundação Nacional do Índio) Jorge das Neves, Dom Dimas Lara Barbosa e o procurador da República Marco Antônio Delfino.
Para a próxima oitiva, dia 10 de novembro, às 14h, está confirmada a presença do desembargador Alcir Gursen de Miranda, de Roraima.http://www.acritica.net/