Foram 9 mil toneladas, 87% mais do que no ano passado, de acordo com relatório divulgado nesta quarta-feira; estima-se que essa quantidade de ópio possa ser usada para produzir de 320 a 530 toneladas de heroína.
O Afeganistão nunca produziu tanto ópio quanto em 2017. Foram 9 mil toneladas, 87% mais do que no ano passado, de acordo com relatório divulgado nesta quarta-feira pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (Unodc) e pelo Ministério Anti-Narcóticos do Afeganistão. Estima-se que essa quantidade de ópio possa ser usada para produzir de 320 a 530 toneladas de heroína.
A consequência desse aumento de produção no Afeganistão é global. Segundo o Unodc, uma heroína mais barata deve chegar aos consumidores ao redor do mundo.
“Quantidades muito maiores vão agora chegar aos mercados mundiais, provocando maiores problemas de saúde e sociais”, afirmou Yury Fedotov, diretor-executivo da Unodc.
Em tese, toda a produção de ópio do Afeganistão pode ser usada para fabricar heroína. Mas estima-se que metade seja consumida na própria região, sem processamento – o país enfrenta altos índices de consumo de ópio.
A outra metade vira matéria-prima para produção de morfina e, em seguida, heroína.
“Já é tempo de a comunidade internacional e do Afeganistão priorizarem o controle das drogas e reconhecer que todos os países têm responsabilidade nesse problema global”, continuou Fedotov.
O Afeganistão e o México são as principais fontes de drogas derivadas de ópio no mundo. Os principais mercados são Estados Unidos e Europa, onde o uso dessas substâncias não para de crescer. Só nos EUA, mais de 700 mil pessoas reportaram ter consumido heroína em 2012.
A explosão no uso de opiáceos, no entanto, não chegou ao Brasil. Aqui o problema é outro, o crack.
Image captionPlantações de papoula ocupam mais de 300 mil hectares no Afeganistão, o maior cultivo do mundo
Ópio financia grupos extremistas
O patamar atual de produção de ópio no Afeganistão é inédito. O recorde anterior, registrado em 2007, foi de 7,4 mil toneladas, 20% menos.
A área de cultivo chegou a 328 mil hectares em 2017. Isso equivale a mais de duas cidades de São Paulo em campos de papoula, planta que dá origem ao ópio.
Além de se tratar de uma questão de saúde pública, o Unodc alerta que o aumento da produção da substância no Afeganistão pode elevar o financiamento de grupos extremistas, como o Talebã.
Isso porque a cadeia ilícita do ópio pode irrigar os cofres desses grupos. O volume de recursos envolvidos é muito alto: US$ 1,4 bilhão, equivalente a 7% do PIB do Afeganistão.
A invasão do país pelos Estados Unidos não diminuiu o problema do ópio, pelo contrário. A produção registrada em 2017 é quase o triplo da contabilizada em 2000, ano que antecedeu o início da operação americana na região, iniciada após os ataques de 11 de setembro de 2001.
Antes da invasão americana no Afeganistão, em 2001, o Talebã, que controlava o país, vinha cumprindo a promessa de tentar erradicar as plantações de papoula. Chegou a ameaçar liberar o cultivo se fosse atacado.
Acusado pelos EUA de dar abrigo a Osama Bin Laden e à Al-Qaeda, o Afeganistão do Talebã foi alvo de uma guerra que tirou do poder os religiosos sunitas responsáveis não apenas por limitar a expansão da papoula, mas também por uma campanha violenta de implantação da sharia (a lei islâmica) no país.
Nos últimos anos, no entanto, o ressurgimento gradual do Talebã tem sido associado ao uso do comércio da papoula para financiar suas atividades militares, tanto no Afeganistão quanto no Paquistão, país vizinho para onde parte do grupo migrou.
Fonte: BBC Brasil