Vendedores retém produto na expectativa de conseguir 23,72% de lucro. Será possível?
“Alguns sojicultores brasileiros, com saudades dos R$ 80,00 pagos no interior dos três estados do Sul (ou seus equivalentes nos demais estados) há muitos meses, estão retendo o produto na expectativa de que este nível de preços retorne ao mercado e perdem a chance de conseguir os 23,72% de lucro que o mercado atual, que paga R$ 73,00 no interior, oferece”, aponta a T&F Consultoria Agroeconômica.
Por que o mercado não está pagando o mesmo preço que pagou no ano passado? Em primeiro lugar, diz ele, porque não temos mais, neste ano, um Dólar a R$ 4,20 como tivemos no ano passado, durante as incertezas políticas das eleições. Em segundo lugar, acrescenta, porque não temos neste ano uma quebra de mais de 20 milhões de toneladas na Argentina, como no ano passado.
“Em terceiro lugar, porque em 2018 tivemos o início da briga entre Trump e a China, que elevou consideravelmente os prêmios nos portos brasileiros e que agora está sendo resolvida, voltando a colocar nossos prêmios nos patamares históricos. Então, as circunstâncias não são as mesmas”, justifica Pacheco.
Mas, o que faria os preços subirem aos níveis desejados? De acordo com o analista, Chicago teria que subir cinco limites de alta para que o preço da soja no interior do Brasil voltasse aos níveis de R$ 80,00 posto armazém do vendedor. E isto é possível? “Talvez, se os chineses realmente comprassem 10+5 milhões de toneladas de soja americana entre março e junho deste ano, que é o volume mínimo para que os estoques americanos retornem aos níveis normais”, responde o especialista.
“Reunião após reunião, os chineses prometem comprar, mas não colocam ordens efetivas no mercado americano. Então, o mercado está profundamente decepcionado e só acreditará depois que estas ordens forem efetivamente colocadas”, aponta. Mas uma compra deste volume afetaria o mercado brasileiro?
Para responder a esta pergunta, Pacheco aponta dois aspectos: Primeiro, a China deve reduzir suas importações de soja em 2019 de 94,10 MT para 88MT, segundo o relatório USDA de fevereiro, devido à redução do seu rebanho de porcos afetado pela peste suína. Aumentando a importação dos EUA, a China reduziria, sim, em cerca de 4-5 MT as importações brasileiras, além da 71,5MT previstas atualmente pela Conab também no seu relatório de fevereiro.
“E 5 MT a mais no mercado interno do Brasil jogariam os preços internos para muito baixo. Os preços ateuais, portanto, estão razoavelmente bons (23,72%). Mesmo assim, se os preços de Chicago voltassem para $1050 para julho, por exemplo (o que supõe 5 difíceis limites de alta em Chicago, diante de grandes compras chinesas) e os prêmios do Brasil ficassem em 35 (metade do que estão hoje), mesmo com o dólar a R$ 3,75 os preços da soja no interior do país teriam boa chance de retornarem a R$ 80,00/saca. Mas só com reza braba”, conclui.
Fonte: Agrolink