Pesquisador destaca papel da irrigação na sustentabilidade ambiental
Brasília – O pesquisador da Embrapa Lineu Rodrigues, durante o seminário Os Agricultores no 8 Fórum Mundial da Água (Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Desafio é levar produtores a adotar tecnologias para aumentar a produtividade, diz Lineu Rodrigues, da Embrapa CerradosMarcelo Camargo/Agência Brasil
O pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Cerrados Lineu Rodrigues disse ontem (27) que a irrigação na agricultura é uma tecnologia fundamental para alcançar a sustentabilidade ambiental e na produção de alimentos. Segundo o pesquisador, o desafio é fazer com que os produtores se apropriem dessas tecnologias para aumentar a produtividade na lavoura.
Como exemplo, Rodrigues conta que, há 20 anos, quando a produção média do milho no país era de 2 toneladas por hectare, já havia áreas irrigadas produzindo em torno de 16 toneladas por hectare. Quando se produz mais na mesa unidade de área, evita-se a necessidade de abrir mais áreas, além de se garantir produção até 2,5 vezes maior.
“Garante-se a estabilidade na produção de alimentos. No sequeiro [método que usa apenas água da chuva para irrigação], a produção é variável de ano para ano e tem essa incerteza. E a população que está nos centros urbano, não quer ter essa incerteza”, disse. “Não conseguiremos atender a demanda mundial de alimentos sem irrigação e precisamos de boa gestão e bom planejamento.”
Rodrigues ressaltou que existem regiões críticas e conflitos pelo uso da água no Brasil, mas que, de maneira geral, menos de 1% dos recursos hídricos são utilizados. “Em grande parte do Brasil, o desafio é gestão e planejamento. É preciso envolver a população na definição de planos [de uso de recursos hídricos], fazer planos com metas claras e definir a qualidade de uso da água.”
Para Rodrigues, o pequeno produtor é fundamental na produção de alimentos diretos para a população, principalmente perto dos centros urbanos. Por isso, segundo o especialista, esse produtor precisa se aproximar mais dos centros de pesquisa e se apropriar das tecnologias de irrigação, assim como, o Estado e os governos precisam integrar as políticas públicas de segurança hídrica e alimentar.
“Temos tecnologias de diversos níveis e formas, das mais qualificadas às de custo barato. Quando o produtor, seja pequeno ou grande, começa a manejar sua irrigação, ele começa a ter noção de como está usando a água, a ter essa visão de que está integrado a um sistema maior”, ressaltou.
O pesquisador de Embrapa Cerrados participou hoje do evento preparatório da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) para o 8º Fórum Mundial da Água, que será realizado de 18 a 23 de março, em Brasília. Amanhã (28), a entidade deve divulgar um documento com as recomendações e o posicionamento do setor para o fórum.
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Agricultura usa 70% de toda a água outorgada pelo Estado, diz coordenador de Sustentabilidade da CNA, Nelson Ananias Elza Fiúza/Arquivo/Agência Brasil
De acordo com o coordenador de Sustentabilidade da CNA, Nelson Ananias Filho, de toda a água que é outorgada pelo Estado, dentro da lei, 70% são usados na agricultura. Entretanto, 95% da produção ainda é sequeiro, não tem suporte suplementar de água. “Entendemos que a água existe, mas falta melhor planejamento.
Mesmo durante o processo de escassez hídrica [que afetou São Paulo], a primeira torneira que fechou foi a da irrigação. Auferimos perdas no cinturão verde de São Paulo de até 50%, abrindo mão da água utilizada na irrigação para abastecimento urbano.”
Por outro lado, o diretor da Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico do Distrito Federal (Adasa), Jorge Werneck, ressaltou que, durante muito tempo, houve uma cultura no Brasil de abundância de água, um sentimento de que a água era infinita. “Mas a lei de 97 [Lei das Águas] já traz a água como bem finito e dotada de valor econômico, para que as pessoas entendam que ela é também um insumo importante dos processos produtivos e precisa ser tratada da melhor forma possível”, disse.
Para Werneck, é preciso uma gestão descentralizada e participativa dos recursos hídricos pois “em alguns lugares esse bem [água] começa a se mostrar insuficiente para atender todos os usos”. Mas, segundo ele, as tecnologias existem dando meios para dizer quando e quanto é necessário irrigar.
Ele destacou que, com a crise hídrica no Distrito Federal, algumas áreas irrigadas estão paradas e outras tiveram que fazer a alocação negociada, “que é uma coisa nova, discutir como dividir o prejuízo”. “Tiveram que reduzir a quantidade de água aplicada e a produtividade não diminuiu. Isso significa eficiência. Ninguém quer crise, mas são as oportunidades que surgem no momento da crise que se difundem por aí. Isso [tecnologias de irrigação] tem que ser entendido como investimento e não custo”, disse.
Fonte: Agência Brasil