Para Economist, abertura de impeachment aumenta chance de Dilma ir até 2018
Em longa reportagem, revista britânica explica que “ironicamente” o processo deve fazer com que o PT aumente o apoio à presidente e as intenções de Cunha sejam questionadas
Estadão Conteúdo
A abertura do processo de impeachment aumenta a probabilidade de a presidente Dilma Rousseff continuar no cargo até o fim do mandato. A opinião é da revista The Economist. Em uma ampla reportagem sobre o pedido que foi aceito pelo presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), a revista explica que “ironicamente” o processo deve fazer com que o PT aumente o apoio à presidente e as intenções de Cunha sejam questionadas.
“Ironicamente, o movimento de Cunha para um impeachment pode ter feito ser mais provável, e não menos, a sobrevivência de Rousseff até 2018. O momento trabalha a seu favor”, diz a revista na principal reportagem da editoria “Américas” da edição que começa a ser distribuída nesta noite na Inglaterra. Com o título “Desastre de Dilma”, a reportagem diz que é provável que o PT fique ainda mais coeso na defesa de Dilma e a presidente da República vai “sem dúvida ficar mais inflexível do que nunca de que ela não está deixando o cargo”.
Além disso, a revista nota que a decisão de Eduardo Cunha de abrir o processo enquanto recebe uma série de acusações de corrupção pode ser “facilmente” encarada como um ato “de interesse próprio” ao invés de alçar o deputado ao posto de “estadista”.
A revista analisa ainda a argumentação do processo. “Dilma não seria o primeiro presidente brasileiro a adulterar as contas públicas. Tais práticas não são nem ilegais nem incomuns e presidentes anteriores usaram sem cerimônia, dizem seus defensores”, cita o texto. A Economist nota, porém, o atual governo tem como diferença a rejeição da prestação de contas pelo Tribunal de Contas da União.
A Economist nota ainda que o Brasil já teve uma experiência anterior com o impeachment. Ao comparar o cenário enfrentado pelo ex-presidente Fernando Collor de Mello e Dilma Rousseff, a revista diz que ambos têm governos com “desastre econômico”. No caso de Dilma, o problema foram as “políticas fiscais e monetárias irresponsáveis e o intervencionismo microeconômico incessante do primeiro mandato”. Para a revista, Dilma entendeu que é preciso corrigir o curso econômico, mas, assim como Collor, não tem habilidade política para negociar.
Apesar das semelhanças, a reportagem reconhece que “ao contrário dele, Dilma não é acusada de enriquecimento”. “E ela segue com o apoio do PT que não perdeu toda a sua força”, diz a revista.