No início do século XIX ocorreu um grande salto em velocidade. Foi criado o motor a vapor. Sem o vapor, mesmo o mais veloz dos veleiros britânicos levava 110 dias para uma viagem de ida e volta entre Londres e a China. A imaginária volta ao mundo em 80 dias de Júlio Verne estava distante. Tudo isso mudou em 1807, quando Robert Fulton inventou o barco a vapor. Os custos de frete caíram dramaticamente, e o volume de mercadorias negociadas entre grandes países aumentou rapidamente de 20 milhões de toneladas em 1840 para 88 milhões de toneladas nos anos 1870. As taxas de frete caíram 70%.
O lançamento do Paraguay, o primeiro navio refrigerado, projetado pelo engenheiro francês Ferdinand Carré, criou um novo setor no comércio de longa distância: comida fresca. Carne brasileira, argentina, uruguaia e norte americana passaram a alimentar populações europeias famintas. Tecelagens japonesas misturavam algodão dos EUA com o indiano e chinês. Estavam criadas as “commodities”. Com o vaor, o Atlântico e o Pacífico foram reduzidos a lagos. Continentes viraram pequenos principados. O supermercado global começou a ganhar forma no século XIX. Só o advento do transporte aéreo de cargas encolheria tanto o mundo.
Para o território que viria a ser o Mato Grosso do Sul, toda essa transformação redundou em uma guerra. A grande questão jogada entre os interesses do Império Brasileiro e do governo de Solano López era o domínio das águas do Rio Paraguai, caminho natural das mercadorias – carne bovina, essencialmente – para o Atlântico, e dali para a Europa. O navio a vapor refrigerado, motivo de orgulho paraguaio, só estava presente nas batalhas do lado oposto. O canhão substituía a refrigeração.
Essa estrada líquida é ineficiente no século XXI. Com são ineficientes as estradas de asfalto. As ferrovias são estradas noturnas, onde se formam os sonhos e devaneios.