Depois do pico intraday registrado no dia 24, quando atingiu R$ 4,24, o dólar perdeu força e voltou a ser negociado ao redor de R$ 4,00. Na mesma toada, a bolsa subiu e os juros futuros recuaram.
Esta recuperação dos ativos brasileiros, contudo, tem sido acompanhada de intensa volatilidade – um sinal claro de falta de convicção do mercado.
Os fatores que ajudaram a trazer alívio ao mercado nos últimos dias, contudo, ainda não se mostram consistentes, a começar pelo exterior.
Na China, o máximo que se pode dizer é que os indicadores pararam de piorar, mas não há qualquer sinal de retomada de um crescimento mais vigoroso que alivie a queda das commodities e a desaceleração dos países emergentes.
Internamente, o Banco Central ampliou a intervenção no câmbio com leilões de swap e de linha e ainda admitiu possibilidade de usar reservas. Essas atuações, contudo, têm um custo alto, já estimado em mais de R$ 100 bilhões este ano no caso dos swaps.
Este custo aumenta a dívida bruta do País, um dos indicadores monitorados pelas agências de rating, que ameaçam a nota brasileira com novos cortes.
Não é porque o swap é liquidado em reais que seu efeito é neutro, pois sua correção depende do dólar. Se o dólar acelera, aumenta o custo do BC.
O Tesouro também tem ajudado a sufocar a pressão fazendo recompra de títulos, o que dá liquidez ao mercado e ajuda a diminuir o estresse. Esta, contudo, é o tipo de medida desesperada para tempos desesperadores.
É um sinal da dificuldade do governo em vender seus títulos e não evidência de confiança.
Outro fator de alívio recente que ainda precisa ser comprovado na prática é a reforma política, que tem sido adiada sucessivamente pelo governo.
Mesmo com as primeiras trocas de ministros já conhecidas, o governo sofreu novas derrotas ontem no Congresso, o que revela que a base governista continua enfraquecida.
Outro ponto de melhora foi o déficit fiscal de agosto, que veio bem menor do que o previsto. O problema é que os analistas explicaram que, pelo menos em parte, o déficit menor deveu-se ao adiamento de despesas, que, embora não configurem novas ”pedaladas”, mostram que o problema foi apenas postergado.
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Analistas do mercado se mostram cautelosos em afirmar que o Brasil atingiu o fundo do poço com o estresse da semana passada. “Ainda há muita incerteza”, diz Luiz Eduardo Portella, da Modal Asset Management. Ele lembra que um primeiro passo para a melhora do cenário é o governo manter os vetos da presidente a medidas que aumentam gastos, mas esta ameaça segue pendente.
Luciano Rostagno, do Banco Mizuho, observa que investidores já voltam a comprar dólar aproveitando a queda dos últimos dias diante da percepção de que o ambiente continua incerto.
Se forem concretizadas as propostas que aumentam os gastos da Previdência, por exemplo, a chance de o Brasil sofrer novo rebaixamento de rating aumentará.
Há ainda a incerteza sobre o risco de impeachment de Dilma, que foi reduzido com a recente negociação com o PMDB, mas não eliminado. “ A instabilidade grande gerada pelo cenário político e mudanças no pacote fiscal estão pegando no mercado”, diz Camila Abdelmalack, economista da CM Capital Markets.
“Quantas vezes o TCU postergou a análise das pedaladas?”
O fato de os ativos brasileiros continuarem perto de níveis recorde de baixa sugere que, em tese, os preços ainda têm espaço de melhora. Petrobras, por exemplo, mesmo disparando 10% ontem com o aumento da gasolina, ainda vale menos de US$ 2.
O dólar segue perto do recorde de alta. Ao mesmo tempo, os DIs seguem com taxas de quase 16%, o que, teoricamente, significa juros apetitosos para quem quer aplicar em prefixados.
A volatilidade elevada, contudo, torna arriscado para os investidores aproveitarem os preços no mercado brasileiro.
O real é a moeda mais volátil do mundo. O dólar chegou a oscilar 8% contra a moeda brasileira em apenas um dia, em 24 de setembro, entre a mínima de R$ 3,9479 e a máxima de R$ 4,2478.
“O câmbio é a voz do mercado”, diz Alberto Ramos, economista sênior do Goldman Sachs. A volatilidade enorme do real mostra que mercado vê grande risco de incertezas em torno de cenário político e econômico.
Nada impede que, desta vez, a presidente Dilma realmente se mostre convicta da necessidade de dar uma virada em seu governo, assumindo riscos e os custos políticos para tirar o Brasil da rota do desastre fiscal.
O histórico, contudo, pesa contra a presidente. Desde sua reeleição, o gráfico do dólar mostra que houve vários momentos de alívio, como ocorreu na nomeação de Joaquim Levy para a Fazenda e, depois, de Michel Temer para a coordenação política. Quem apostou que estes alívios seriam duradouros, porém, perdeu muito dinheiro.EXAME
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