Em mais um capítulo da implosão da Lava Jato, o juiz Eduardo Appio, da 13.ª Vara Criminal Federal de Curitiba, quer segurança especial para si próprio.
Em ofício endereçado ao diretor do Fórum Federal, Appio requisitou carro blindado e uma pistola Beretta, além de ‘apoio tático’ da Polícia Federal (PF) controlando entrada e saída do prédio onde fica seu gabinete. O juiz afirma estar sofrendo uma ‘onda de ameaças pessoais’.
“Sinto-me ameaçado pelas declarações dos envolvidos, os quais têm grande poder político e econômico”, alega Appio, sem citar nomes de quem o assombra.
Desde que assumiu a cadeira que foi ocupada por longos anos pelo ex-juiz Sérgio Moro, hoje senador (União Brasil-PR), Appio vem adotando medidas que incomodam os protagonistas da Lava Jato – operação que desmontou esquema de corrupção, lavagem de dinheiro e cartel de empreiteiras instalado em diretorias estratégicas da Petrobrás, entre 2003 e 2014. Appio e Moro estão em litígio.
O novo juiz da Lava Jato já criticou publicamente os métodos da operação, antes aclamada, ora sob fogo cerrado. Para acirrar ainda mais a cizânia, Appio ouviu na última segunda-feira, 27, um antigo desafeto de Moro, o advogado Rodrigo Tacla Duran, ex-operador de propinas da Odebrecht no esquema Petrobrás.
Tacla Duran diz ter munição pesada contra seus algozes. Ele alega ter recebido pedido de propina na Lava Jato em troca de facilidades para clientes. O advogado pediu uma audiência a Eduardo Appio para prestar esclarecimentos e fazer requerimentos.
As acusações de Tacla Duran foram encaminhadas por Appio ao Supremo Tribunal Federal (STF), com a menção expressa a possível crime de extorsão e ao foro privilegiado de Moro e do deputado Deltan Dallagnol, ex-coordenador da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba.
O juiz colocou o ex-operador financeiro da Odebrecht no Programa de Proteção à Testemunhas e pediu à Polícia Federal a abertura ‘urgente’ de um inquérito sobre o caso.
Moro agora tenta impedir o sucessor de despachar nos processos remanescentes da Lava Jato. Ele defende que Appio seja afastado de todas as ações que tenham relação com a operação até a análise de um pedido para declarar a suspeição do juiz.
A representação, que acusa o magistrado de parcialidade, foi apresentada por uma procuradora de Ponta Grossa, no interior do Paraná. Appio disse ao Estadão, na ocasião, que a procuradora age como ‘longa manus’ de Dallagnol.
O senador afirma que seu objetivo é ‘prevenir’ atos processuais ordenados por juiz ‘suspeito’. Em 2021, Moro foi declarado parcial pelo Supremo Tribunal Federal para julgar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em ações penais na Lava Jato.
UOL