Nos últimos dias, presidente deixou explícita sua divergência com o vice por causa da divulgação de documentos do Conselho Nacional da Amazônia
Nos últimos dias, presidente deixou explícita sua divergência com o vice por causa da divulgação de documentos do Conselho Nacional da Amazônia. O órgão presidido por Mourão planejava desapropriar terras de desmatadores. Depois de Bolsonaro classificar a ideia como “delírio”, os dois conversaram longamente anteontem e restabeleceram as pontes, segundo informaram pessoas próximas. A trégua, porém, não durou 24 horas. A entrevista de Mourão na manhã de ontem à Rádio Gaúcha, de Porto Alegre, expôs novamente o mal-estar.
Na conversa de anteontem, Bolsonaro e seu vice tinham posto na mesa uma série de questões que tinham afastado os dois. Uma delas era uma suposta negociação que envolveria Mourão, o apresentador de TV Luciano Huck e o ex-ministro da Justiça Sérgio Moro para uma aliança em 2022. A especulação se tornou mais intensa no Planalto após o ex-juiz da Lava Jato citar, numa entrevista ao jornal O Globo, o nome do vice como um dos líderes do campo moderado. A relação entre Moro e o general sempre foi de cordialidade dentro do governo.
Por sua vez, Mourão ressaltou sua lealdade ao presidente. O general disse que não estava de olho em 2022 e não fazia tratativas com adversários do Planalto. Ainda no encontro, Bolsonaro e o vice chegaram a concordar que há um movimento “diuturno” para “explodir” a relação entre eles. Ressalvaram, no entanto, que precisavam conversar, sempre, para acertar os ponteiros. Um ponto de entendimento entre Bolsonaro e o vice é o que consideram o interesse do chamado “Gabinete do Ódio”, ala ideológica do Planalto, em afastar um do outro.
Devido ao longo tempo da conversa, o presidente demonstrou surpresa com a decisão do vice de expor, horas depois, uma visão divergente sobre o quadro político americano – Bolsonaro não admite que a eleição nos Estados Unidos se encerrou, numa fidelidade ao aliado Donald Trump. De nada adiantou Mourão ressaltar, na entrevista, que falava na condição de “indivíduo” e não representante do governo.
Ponte
Neste momento, Bolsonaro não pretende procurar Mourão para restabelecer a ponte que tinha acabado de ser reconstruída e ainda estava com o “cimento molhado”, nas palavras de auxiliares diretos. Em conversas, o presidente tem dito que não tem a intenção de repetir a chapa vitoriosa de 2018. Mourão, por outro lado, afirma que está focado na sua missão de vice-presidente e chegou a admitir que pode concorrer a uma vaga no Senado nas próximas eleições.
“Quando chegar a hora certa tomaremos a decisão que for melhor, não só para o País, mas pra mim e minha família”, afirmou Mourão ontem ao ser questionado sobre o assunto na entrevista à Rádio Gaúcha.
Amor e ódio
Bolsonaro conhece o temperamento de Mourão e sabe que o seu vice-presidente não evitará emitir opiniões pessoais, muitas vezes polêmicas, sobre os mais diferentes assuntos. O presidente também tem consciência de que o general saiu em defesa dele e rebateu críticas a suas falas e seus discursos. Por isso, a aposta do Palácio do Planalto é de que essa relação será de “amor e ódio” até o fim do governo.
Um Bolsonaro explosivo disse, numa cerimônia sobre a retomada do turismo, que o Brasil é um país de “maricas”, referindo-se às pessoas preocupadas com a covid-19. O destempero verbal continuou com uma ameaça a Joe Biden. Para o drama dos auxiliares, ele afirmou que, depois que acabar a “saliva”, tem que ter “pólvora”. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.