Roberta Carvalho se isolou para preservar parentes, depois contraiu o vírus e chegou a ter 50% do pulmão acometido. Enquanto estava na UTI, recebeu a proposta para trabalhar no hospital onde se tratava.
Por Eliane Maria, Pedro Bassan e Priscila Monteiro, RJ1
Ao longo do último ano – desde que a pandemia de Covid-19 foi identificada no Rio de Janeiro – a médica Roberta Carvalho viveu dramas que representam o heroísmo dos profissionais da saúde durante a pandemia.
Atuando em um Centro de Terapia Intensiva (CTI), decidiu morar dentro de um carro para não voltar para casa e contagiar seus familiares em casa.
Exposta diariamente ao vírus, acabou infectada pelo novo coronavírus e viu a doença se agravar. Foi internada, intubada em estado grave e, enquanto estava no CTI, foi convidada para trabalhar no hospital onde estava, com a equipe que salvou sua vida.
No início da pandemia, Roberta se afastou da avó, do pai, da mãe, da irmã e do marido. Ela levou para o carro todos os itens que considerou necessário.
“Como existia a chance de eu me contaminar, na verdade a gente sabia que existia o risco, toda vez que a gente vai para um plantão, a gente sabe que se tiver um paciente com alguma doença contagiosa, existe o risco da gente se contaminar. Então eu optei por sair de casa, para não contaminar a minha família”, afirmou a médica.
Quando precisava de alguma outra coisa, contava com a solidariedade dos amigos do Hospital da Posse, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, onde trabalhava. Em troca, retribuiu com horas extras de serviço.https://tpc.googlesyndication.com/safeframe/1-0-37/html/container.html
“Por mais que você ficasse um pouquinho dentro do carro, entrava para tentar ler um pouco, ouvir música, você também não consegue se concentrar muito. Você está parado na porta do hospital. Ouvindo ambulância chegar, vendo que seus colegas tão trabalhando para caramba, com um monte de paciente muito grave. Você não vai ficar sentado dentro do carro ouvindo música”, contou a médica.
“Acaba que no seu horário livre, você volta para o trabalho. Mas é bom também porque você acaba evitando ver o tempo ocioso, pensando que você podia estar em casa, que queria estar em casa. É bom que acaba distraindo um pouco nesses momentos, você trabalhando o tempo inteiro, se torna uma válvula de escape para perceber que você não está sozinha nesse tempo”, completou Roberta.
Teste positivo e internação no CTI
No final de abril, o momento que ela temia chegou. Roberta foi diagnosticada com Covid-19 e teve 50% do pulmão acometido pelo vírus antes de ter que ir para unidade de terapia intensiva.
“Um mês depois de estar dormindo no carro, em cama de hospital, essas coisas, você sentir dor no corpo é um sintoma normal. Estar cansada depois de um mês trabalhando muito era normal. (…) Fiz a tomografia e deu que eu estava com aproximadamente 25% do pulmão acometido já, apesar de ser o primeiro dia de sintoma”, contou.
“Em menos de 24 horas de internação de hospital, precisei ser entubada já. Você aprende a desistir de tentar controlar tudo. Na verdade, quando você interna no CTI e percebe que a sua vida agora depende totalmente de outras pessoas”, completou Roberta Carvalho.
10 dias sedada
Após ficar 10 dias intubada, Roberta Carvalho acordou. Quando ela pôde abrir, a primeira mensagem fazia um convite para que ela trabalhasse no mesmo Centro de Terapia Intensiva em que ela estava internada.
“Eu trabalho no CTI que eu fiquei internada, eu fui convidada na verdade enquanto eu estava intubada, pelo coordenador. Foi até a primeira mensagem que eu respondi (…) Falei para ele que tinha interesse, mas que no momento eu ainda estava internada no CTI dele”, lembrou Roberta.
“Trabalho com os médicos que salvaram a minha vida. O médico que está na rotina comigo é o médico que me intubou, doutor André Solure, os médicos que me colocaram em ecmo [aparelho que ajuda na respiração], eu trabalho na verdade com toda a equipe que salvou minha vida, exatamente. Com os meus heróis da saúde”, afirmou a médica.