Jornal do Brasil
O candidato da direita Mario Abdo Benítez, filho do secretário particular do ditador Alfredo Stroessner, venceu por uma margem estreita a presidência do Paraguai e espera agora pelos resultados de seu Partido Colorado no Congresso, fundamental para sua governabilidade.
“O povo votou pela unidade e não pela divisão. Eu me comprometo a ser fator de união do Paraguai”, afirmou, conciliador, Abdo Benítez em seu primeiro discurso depois de ser proclamado presidente eleito pelo Tribunal Eleictoral.
“Marito”, como é conhecido popularmente, venceu por 3,7 pontos de vantagem o liberal Efraín Alegre, que disputou pela coalizão de centro-esquerda Aliança Ganhar.
O resultado é muito inferior à projeção das pesquisas, que chegaram a dar 20 pontos de vantagem a Marito.
“Há uma diferença de três pontos, o que significa que as pessoas estão buscando uma mudança. A Aliança é esta mudança”, afirmou Leo Rubín, companheiro de chapa de Alegre, ao conhecer os resultados.
Domínio colorado
Nas eleições de domingo, que tiveram uma participação de 61,40% dos 4,2 milhões de eleitores, se decidiu também a composição do novo Congresso e governadores de 17 departamentos.
Apesar de o Partido Colorado ratificar a hegemonia que quase ininterrumpidamente mantém há 70 anos, as pesquisas não asseguram uma maioria parlamentar.
“A diferença com que Abdo Benítez venceu pode causar problemas de governabilidade. O Partido Colorado tem que se reafirmar”, comentou à AFP a analista Ati Snead, da empresa de pesquisas Ati Snead e Associados.
Ao aceitar sua derrota, Alegre lançou uma advertência. “Acreditamos que a mudança no Paraguai é irreversível, mais cedo ou mais tarde”, afirmou.
O Paraguai, que saiu de 35 anos de ditadura em 1989, vive sob a hegemonia do Partido Colorado desde 1947, com a única exceção do governo do ex-bispo e ex-presidente de esquerda Fernando Lugo (2008-2012), que sofreu impeachment um ano antes de completar seu mandato.
“Os colorados têm vocação de poder. Têm um voto disciplinado e uma tradição de participar nos processos eleitoreais, além de um esquema de condução do funcionarismo que está intacto desde a época de Stroessner e que garante resultados electorais”, explica Snead.
O funcionarismo público, que conta com 300.000 trabalhadores, é uma das poucas fontes de emprego neste país em que a pobreza alcança 26,4% da população e a informalidade abrange cerca de 40% da economia.
Em seu discurso de vitória, Abdo Benítez agradeceu de maneira direta os funcionários públicos.
Volta ao passado
As primeiras palavras de Marito depois da vitória também evocaram seu pai, braço direito de Stroessner, cuja ditadura deixou ao menos 40 mortos.
“Nossa democracia deu o exemplo. Corre o mundo a notícia de que no Paraguai a democracia se consolidou e de um passo à frente para um país unido e reconciliado”, afirmou Abdo Benítez, mais conhecido como “Marito”.
“Não posso esquecer meu pai, que foi um grande colorado”, afirmou ante milhares de seguidores na porta da sede do partido.
Mas a possibilidade de uma volta a um sistema autoritário e repressivo é descartada pelos analistas.
“Os jovens já não conhecem o autoritarismo. Não é uma volta do stronismo. O processo histórico que vive o país não vai permitir que o stronismo ressurja”, assegura Snead.
Magdalena López, coordenadora do Grupo de Estudos Sociais sobre Paraguai da Universidade de Buenos Aires, ressalta, de sua parte, que, apesar dos poucos julgamentos por crimes da ditadura, Stroessner morreu no exílio, em Brasília.
“Ele nunca pôde voltar ao Paragua. Nenhum dos governos colorados que o sucederam concederam um indulto a ele”, destaca.
Dívida social
Abdo Benítez, que deve assumir no próximo dia 15 de agosto, terá como um de seus primeiros desafios o combate à pobreza.
O Paraguai mostra bons resultados nos índices macroeconômicos, com um crescimento médio de 4% anual há mais de uma deçada, apoiado fundamentalmente nas exportações agrícolas.
No entanto, o atual presidente Horacio Cartes reconheceu que deixa uma “dívida social”.
Paraguai, um país rico em hidroeletricidade, mas sem saída para o mar, não consegue reduzir seu índice de pobreza na mesma velocidade em que sua economia cresce.
A pobreza afeta 26,4% da população e a informalidade atinge 40% da economia, segundo os especialistas.
“O número de pobres está ligado ao fato de que não há emprego. Só 3% das empresas no Paraguai são grandes empresas. A informalidade faz com que o índice de pobreza seja alto”, disse à AFP Gladys Benegas, diretora do Instituto de Pesquisas em Competitividade do Paraguai.
Agência AFP
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