O ex-governador André Puccinelli, do PMDB
(*) Valfrido Silva
Só pode ser coisa de quem anda com a consciência muito muito pesada, perdendo o sono depois de tantas trapalhadas e derrapadas na lama asfáltica que pode comprometer uma trajetória política que tinha tudo para ser brilhante. Que outra razão teria André Puccinelli, para, depois de tantos anos, reconhecer que se Antônio Nogueira tivesse sido eleito prefeito de Dourados em 1992 a história teria sido outra? A menos que o ex-governador estivesse se referindo à história do Mato Grosso do Sul, pois que a eleição de Nogueira era tida como o carimbo no passaporte do então prefeito Braz Melo rumo ao Parque dos Poderes, o que talvez tivesse inviabilizado seu projeto de poder.
Coisa de alguém atordoado pelo subconsciente, senão pelos temidos desdobramentos da lama asfáltica, que podem obrigar, no Estado, rituais como os impostos pelo juiz Sérgio Moro aos poderosos integrantes da quadrilha da Lava Jato colocados atrás das grades, pelos malfeitos de governos comandados com mão-de-ferro pelo capo peemedebista por quase meio século no Estado, principalmente em Campo Grande. Não se descartando, por sua grande influência nas redações dos veículos de comunicação sempre aquinhoados com polpudas verbas por seu governo, que Puccinelli até tivesse conhecimento prévio da pauta da competente e simpática Claudia Gaigher, cuja matéria, no Jornal Nacional, desta terça-feira, colocou Campo Grande (até bem pouco tempo tida como uma das mais belas capitais brasileiras) abaixo de rabo de cavalo, daí sua mea-culpa no sábado aos peemedebistas e aliados no regabofe de Geraldo Resende Parque de Exposições de Dourados.
Será que Braz Melo teria comprado quinze ou mais fazendas em nome de seu sócio, Shinsuke Ono?’ — Afinal, de quem é a culpa pela buraqueira que torna a cada dia mais intransitáveis as ruas de Campo Grande, a ponto de merecerem uma matéria no Jornal Nacional? Interessante é que quanto mais novas as amplas e modernas avenidas, mais buracos! Como não consta que a competência de Alcides Bernal somada à de Gilmar Olarte tenha resultado em alguma obra nessa área, é tudo lama asfáltica! Lama asfáltica em que se tornou especialista Edson Giroto, o preposto que André Puccinelli sempre sonhou enfiar goela abaixo do eleitorado campo-grandense. Lama asfáltica contratada, claro, pelas empreiteiras do sempre cheio de charme João Amorim, o empresário que ficou famoso por empanturrar políticos corruptos com seus cafezinhos.
Uma vez governador, será que Braz Melo teria comprado quinze ou mais fazendas em nome de seu sócio, Shinsuke Ono, como Puccinelli teria feito usando como laranja o nome correligionário carapoense Mauro Cavali? São, entre outras, acusações graves, nos autos do processo da Lama Asfáltica, envolvendo políticos e empresários – de comunicação, inclusive – ligados ao governo anterior, que só não foram publicadas, ainda, pelo tamanho do comprometimento da dita imprensa subordinada – jornais impressos e TVs, principalmente –, mas que se alastram pelas mídias sociais. Por tudo isso, há que se dar razão a Puccinelli, pelo menos nisso. Se Braz Melo não tivesse pisado nos tomates em 1992, Humberto Teixeira não teria virado prefeito, impedindo, quem sabe, o retorno do próprio Braz em 1996 e a ascensão de Tetila, do PT, situações que provocaram a débâcle da era Artuzi, depois de – e até por – tanto desdém e do preconceito de André Puccinelli com o maior fenômeno eleitoral douradense em todos os tempos. Nenhuma dúvida que a história seria outra.
(*) Jornalista e blogueiro