Leonardo Dias Mendonça esteve na lista de procurados pelos governos dos Estados Unidos, da Holanda, da Colômbia e do Brasil. Apesar do benefício, ele ainda não foi liberado.
juíza Suelenita Soares Correia, da 5ª Vara Criminal do Tribunal de Justiça de Goiás, concedeu progressão de regime ao semiaberto para o presidiário Leonardo Dias Mendonça, apontado como “Barão do Tráfico” e ex-aliado de Fernandinho Beira-Mar. O homem, de 55 anos, tem histórico criminal por comércio internacional de drogas desde 1999 e já esteve na lista da Interpol por crimes em outros países. Até as 15h30 desta sexta-feira (27), ele não havia sido liberado.
A decisão é do dia 20 de julho. Em nota, a Diretoria-Geral de Administração Penitenciária (DGAP) informou que servidores passaram esta quinta-feira (26) – data em que foram contatados – “fazendo as consultas em relação a questão processual do Leonardo junto ao Tribunal de Justiça, Justiça Federal, Polícia Federal, e não foi encontrado nada que impeça a progressão de regime dele.”
O cuidado ocorre para evitar uma soltura irregular, como ocorreu no início do mês com o ex-braço-direito de Beira-Mar, Leomar Barbosa. No caso de Leonardo Dias Mendonça, a DGAP disse que falta ainda uma ata de progressão de regime. Esse documento deve ser encaminhado pela Vara de Execuções Penais ao Ministério Público, que tem de se manifestar sobre.
O G1 não conseguiu contato com os advogados citados em processos envolvendo Leonardo. A reportagem também procurou o Ministério Público e o Tribunal de Justiça e aguarda posicionamento.
Na argumentação da decisão, a juíza disse que Leonardo cumpriu os dois requisitos para progressão de regime prisional: cumprimento de 1/6 da pena e bom comportamento carcerário. Em relação ao primeiro caso, ele preencheu a exigência em 24 de maio – a pena total imposta a ele é 79 anos e 7 meses de prisão.
“Quanto ao requisito subjetivo, conforme a Certidão Carcerária nº 5.940/2018 f. 1.771 do Roteiro de Penas, o comportamento do reeducando é considerado ‘BOM’ desde 05.06.2013”, disse.
Leonardo está desde 2013 no Núcleo de Custódia, no Complexo Prisional de Aparecida. Para alcançar a progressão de regime, ele trabalhou o equivalente a 1 ano, 5 meses e 28 dias; estudou 7 meses e 17 horas; e lei 16 dias.
Reportagem do “Jornal da Globo” sobre a prisão dele em 2002 aponta que Leonardo era considerado um dos chefões do tráfico na América Latina – chegando a ter mais expressão que o próprio Beira-Mar – e era procurado pelos governos dos Estados Unidos, da Holanda, da Colômbia e do Brasil.
A Polícia Federal apurou na época que ele se especializou em tirar a cocaína da região dominada pelas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia e espalhar a droga pelo mundo. Os investigadores se impressionaram com o poder financeiro dele, que comprava terras e gado para a lavagem do dinheiro do tráfico, assim como tinha influência sobre políticos e magistrados.
Investigações apontaram ainda que, de dentro do presídio, ele comandava uma das maiores quadrilhas especializadas em tráfico internacional de drogas do Brasil, com 35 pessoas. Após anos de investigação, a quadrilha foi desmantelada em uma operação conjunta do Ministério Público Federal em Goiás (MPF-GO) e da Polícia Federal (PF).
Denunciada pelo MPF-GO em dezembro de 2009, a quadrilha foi condenada pela Justiça Federal em 29 de julho de 2010. De acordo com a apuração, um dos fatores que mais contribuiu para facilitar a ação da quadrilha foi o uso de aparelhos celulares dentro do presídio.
Segundo as investigações, em apenas três anos – enquanto estava detido na Penitenciária Estadual Odenir Guimarães –, Leonardo trocou de celulares por, pelo menos, 50 vezes.
Como funcionava o esquema
Cada vôo que saía da Colômbia transportava entre 300 e 400 quilos de cocaína. A droga passava pela Amazônia. Parte seguia para o Suriname em direção aos Estados Unidos e Europa. O resto era desembarcado em Belém e distribuído no Brasil. Outra rota usada pela quadrilha passava pelo Paraguai. Em Mato Grosso, a cocaína era distribuída para traficantes brasileiros. Ou seguia de navio para o exterior.
Em dois anos de investigação, a Polícia Federal apreendeu 3 toneladas de cocaína e maconha transportadas por grupos ligados a Leonardo, além de cinco aviões. Rico, ele respondia a processos por tráfico de drogas no Pará, Maranhão, Mato Grosso e Goiás.
G1