O aumento da população de javali vem ocasionando impactos econômicos, sanitários, ambientais e, até mesmo, sociais em Mato Grosso do Sul. Em Rio Brilhante, áreas atingidas por esses animais resultaram em prejuízos de até 30% nas lavouras de milho safrinha 2013/14, por exemplo. A afirmação é do presidente do Sindicato Rural do município, Luis Otávio Britto Fernandes, após reunião realizada na sede da Federação da Agricultura e Pecuária de MS (Sistema Famasul), na terça-feira (16), com representantes de entidades públicas e do setor, com a finalidade de debater o papel de cada instituição no controle do javali.
A área citada pelo presidente do Sindicato Rural corresponde a 500 hectares referente a um estudo realizado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), junto com a instituição. “Durante a reunião na Famasul, ficou acordado que este estudo será ampliado a quatro municípios, além de Rio Brilhante, que seriam Ponta Porã, Dourados, Itaporã e Maracaju”, afirmou o dirigente dando ênfase ao fato de que as cidades foram escolhidas por sua localização e não pelo agravamento da situação, problema que já ocorre em todo Estado.
Para o médico veterinário do Sistema Famasul, Horácio Tinoco, é preciso aumentar a divulgação de informações em relação ao risco sanitário proveniente do animal. “Desde 2009, os produtores rurais de Mato Grosso do Sul sofrem com a ação desses animais, que são exóticos, de difícil contenção, não têm predadores naturais, se proliferam rapidamente, podem apresentar comportamento agressivo e se alimentam também das lavouras de milho da região”, ressalta o especialista.
O médico veterinário da Famasul aponta os fatores prejudiciais do aumento da população do javali. “No sentido econômico, o município perde por não recolher o ICMS do milho não colhido, por causa da destruição feita pelo javali. Quando o assunto é sanidade, este animal doente próximo a uma granja suína pode comprometer toda a produção e resultar em restrição do comércio de países importadores. Além disso, as frequentes invasões em território rural podem disseminar diversas enfermidades. Em relação ao meio ambiente, os animais cavam as beiras das nascentes dos rios, modificando o cenário inicial e modificam também a fauna nativa ao competir com os animais da região, como queixada e cateto”, exemplifica Tinoco.
A reunião na Famasul discutiu o cumprimento da Instrução Normativa do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama), nº 03/2013, que decreta a nocividade do javali e dispõe sobre o seu manejo e controle. Desde o início de 2013, o Ibama autorizou o controle populacional do javali em todo o território nacional, com o objetivo de sanar os problemas causados por essa espécie exótica. As pessoas físicas e jurídicas que desejam realizar o manejo do javali deverão inscrever-se previamente no Cadastro Técnico Federal de atividades potencialmente poluidoras e/ou utilizadoras dos recursos ambientais.
De acordo com a Embrapa, o javali foi introduzido no Brasil para exploração comercial, mas a atividade não se desenvolveu e os animais foram soltos de forma aleatória e sem monitoramento na natureza, adquirindo características avantajadas, resistentes a doenças.
Participaram do encontro promovido na Famasul, o vice presidente e o diretor secretário do Sistema Famasul, Nilton Pickler e Ruy Fachini, respectivamente, o secretario da Produção e do Turismo (Seprotur), Paulo Engel, o superintendente da Seprotur, Jerônimo Alves Chaves, o fiscal federal agropecuário do Mapa, Luiz Felipe Saldanha Ungerer e o gerente de recursos pesqueiros e faunas da Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Semac/Imasul), Vander Melquiades.
Estiveram também presentes pesquisadores da Embrapa Suínos e da Embrapa Pantanal, representantes da Agência Estadual de Defesa Sanitária Animal e Vegetal (Iagro), do 15º Batalhão de Polícia Militar Ambiental (BPMA) e dos sindicatos rurais de Ponta Porã, Dourados, Itaporã e Maracaju.