Inteligência artificial é avanço mais importante da tecnologia em décadas, diz Bill Gates

  • Tom Gerken
  • Role,Repórter de Tecnologia da BBC
  • 23 março 2023

Bill Gates, um dos fundadores da Microsoft, diz que o desenvolvimento da inteligência artificial (IA) é o avanço tecnológico mais importante em décadas.

Em postagem no seu blog na última terça-feira (22/3), ele chamou de fundamental a atual fase e equiparou os recentes avanços à criação do microprocessador, do PC, da internet e do telefone celular.

“Isso mudará a maneira como as pessoas trabalham, aprendem, viajam, obtêm assistência médica e se comunicam umas com as outras”, disse ele.

Ele fez uma análise do impacto gerado pela tecnologia empregada por ferramentas como o chatbot ChatGPT.

Desenvolvido pela OpenAI, o ChatGPT é programado para responder a perguntas online usando uma linguagem que soe o mais próximo à de um humano.

Em janeiro último, a empresa recebeu um aporte multibilionário da Microsoft — onde Gates ainda atua como consultor.

Mas não é o único chatbot com inteligência artificial disponível. O Google liberou para testes nos últimos dias o programa rival Bard.

A companhia alertou que o Bard teria “limitações”, como compartilhar informações erradas e mostrar certos tipos de viés.

Gates disse que mantém contato com a OpenAI, a equipe por trás da inteligência artificial que alimenta o chatbot ChatGPT, desde 2016.

Em seu blog, o empresário afirmou que desafiou em 2022 uma equipe da OpenAI a treinar um programa de IA que pudesse ser aprovado em um exame de biologia que é usado para admissão em universidades americanas (o Advanced Placement).

Foi imposta a regra de que a máquina não poderia ser especificamente treinada para responder questões só de biologia.

Alguns meses depois, os resultados foram revelados: uma pontuação quase perfeita, disse Gates, errando apenas uma questão em 50.

Depois, o fundador da Microsoft conta que pediu à IA para escrever uma mensagem a um pai que está com um filho doente.

“Foi escrita uma mensagem sensível, provavelmente melhor do que a maioria de nós na sala poderia ter criado”, disse Gates.

“Eu entendi que tinha acabado de ver o avanço mais importante na tecnologia desde a interface gráfica do utilizador [GUI, na sigla em inglês].”

Uma GUI permite que uma pessoa interaja com imagens e ícones na tela em vez de um display apenas com texto e figuras e que também requer comandos digitados.

Seu desenvolvimento culminou nos sistemas operacionais Windows e Mac OS na década de 1980 e continua sendo uma parte fundamental dos computadores.

E Gates acredita que a tecnologia de inteligência artificial levará a avanços semelhantes.

O futuro da IA

Gates, que atualmente é copresidente da instituição de caridade Bill & Melinda Gates Foundation, pediu que haja um trabalho conjunto entre governos e empresas para “limitar os riscos” da inteligência artificial. Mas afirmou que a tecnologia pode ser usada para salvar vidas.

“As melhorias impulsionadas pela IA serão especialmente importantes para os países pobres, onde ocorre a grande maioria das mortes de crianças menores de 5 anos”, escreveu ele.

“Muitas pessoas nesses países nunca conseguem consultar um médico. A inteligência artificial ajudará profissionais de saúde que atuam nessas comunidades a serem mais produtivos”, considera Gates.

Segundo ele, alguns exemplos estão na conclusão de tarefas repetitivas, como pedidos de acionamento de seguro, documentação e anotações.

Mas, para que isso aconteça, Gates diz que o desenvolvimento da tecnologia de IA necessita de uma abordagem direcionada.

“As forças do mercado não produzirão naturalmente produtos e serviços de IA que ajudem os mais pobres”, afirmou.

“O mais provável é que ocorra o contrário.”

Para Gates, “com financiamento confiável e políticas corretas, governos e a filantropia podem garantir que as IAs sejam usadas de forma a reduzir a desigualdade.”

“Assim como o mundo precisa das pessoas mais brilhantes focadas em seus maiores problemas, precisaremos direcionar as melhores IAs do mundo nesses maiores problemas.”

– Este texto foi publicado em https://www.bbc.com/portuguese/articles/cqqz6w6nzr1o