O líder do PR no Senado, Blairo Maggi(Lia de Paula/Agência Senado/VEJA)
Em março deste ano, o senador Blairo Maggi (MT) figurou pela primeira vez na lista dos bilionários da revista americana Forbes. Empresário conhecido mundialmente como o ‘rei da soja’, apoiou a reeleição da presidente Dilma Rousseff e acreditou na promessa de uma economia capaz de alavancar ainda mais o império da família, avaliado em impressionantes 5,7 bilhões de dólares. Um ano depois, o senador deixou o Partido da República em busca de protagonismo em Brasília e de projeção no cenário nacional. Recém-filiado ao PMDB, ele se diz “enganado” pelo governo, afirma que a falta de credibilidade do Executivo coloca em xeque as chances de recuperação econômica e diz que uma eventual candidatura de Lula em 2018 seria uma “roubada”. No dia a dia do Congresso, acompanha as negociações sobre a abertura de um possível processo de afastamento da presidente Dilma e avalia: “O impeachment é um cadáver insepulto no meio da sala”. A seguir os principais trechos da entrevista concedida ao site de VEJA.
O senhor apoiou a reeleição da presidente Dilma. Como vê o cenário econômico no primeiro ano do novo mandato? A economia está afundando igual Tele Sena, de hora em hora. Como a maioria dos brasileiros, estou frustrado com o que está acontecendo. Me sinto de certa forma ludibriado e enganado por terem escondido os números da economia. Venderam uma coisa que nós não tínhamos. Tanto é que na eleição estávamos no céu e hoje estamos no inferno. Esses números, quando vieram a público, trouxeram uma reação em cadeia na economia. O empresariado se ressente muito disso porque muitos fizeram investimentos. O crédito acabou. Com a diminuição do crédito pelos bancos, exigem mais garantias e juros mais caros. Banco é igual cardume de peixe: quando vem um, vêm todos. Quando um vai embora, vai todo mundo. Com isso, a economia entrou em uma decadência muito acelerada. Muitas empresas começam a ir para o caminho da recuperação judicial.
A rejeição do governo e da presidente Dilma é causada essencialmente pela economia? São as duas coisas juntas, política e economia, mas o peso da economia é maior. A crise começou como uma crise política, mas enquanto não tivermos uma recuperação na economia não vamos ter nenhum número de melhora de conceito da presidente ou de qualquer outra coisa. E a tendência é a economia piorar. Só tem um jeito de estancar isso e eu já disse para o ministro da Fazenda, Joaquim Levy: há uma desconfiança do mercado e uma desconfiança na política sobre qual o tamanho real do rombo do governo. Toda hora vem um número. Enquanto o governo não colocar tudo na mesa – restos a pagar, dinheiro empenhado, estatais, pedaladas – não teremos uma retomada de crescimento. Tem desgaste, mas mais do que temos até aqui é impossível. Será que nesse déficit de 119,9 bilhões de reais [previstos na revisão da meta fiscal de 2015] está tudo? Tem que aproveitar o clima de terra arrasada e abrir o jogo.
O ministro Joaquim Levy foi escolhido para colocar a economia nos eixos, mas ele é bombardeado pelo próprio governo. Um dos pontos que temos que fazer é a retomada do crescimento, mas isso depende de credibilidade e é isso que está abalado agora. Participei de algumas reuniões com o ministro Levy e ninguém tem tido muito polimento com ele, todo mundo tem sido muito duro nas colocações. O que me parece é que o ministro Levy em determinados momentos vê o problema da crise, mas parece que não incorpora o processo, como se fosse um agente externo. Talvez ele tenha que puxar isso, personalizar, falar ‘é comigo’. E o Palácio tem que dar autonomia para ele fazer. O serviço que tem que ser feito é o que ele está fazendo.
Quer dizer que ninguém quer assumir responsabilidade pela crise? O governo, na minha avaliação, olha para o Executivo, o Legislativo e o Judiciário e os órgãos auxiliares, e ninguém dos três acham que é culpado pela crise. Ninguém dos três quer dar o primeiro passo para resolver o problema. Não dá para resolver se mantivermos as coisas como estão. O governo vem e diz que precisa da CPMF? E o que eles estão fazendo em troca? A gente vê todo dia pedido de aumento salarial, pedido de benefício. Não dá. Antes de decidirem sobre o fora Levy, tem que insistir nas coisas internas do governo, mudar o posicionamento, dar ao ministro carta branca para fazer o que tem que ser feito.
Diante do cenário econômico e da crise política, como o senhor vê os movimentos pró-impeachment? A troca de presidente poderia neste momento ser um alento para mudar o problema da economia e dar uma esperança política. Faz parte do processo. Em times de futebol às vezes se troca o técnico e ele passa a ganhar e até vira campeão. O impeachment é uma alternativa, mas neste momento não há elementos para fazer isso. E ninguém quer ser patrocinador ou fomentador de um golpe, de uma ruptura institucional. Esse caminho do impeachment é difícil. Por outro lado, esse cadáver insepulto do impeachment está na sala e enquanto não resolver isso, não se ganha nem credibilidade e nem acha massa política crítica para evoluir em outra situação. Uma das soluções é o governo fazer o enfrentamento, como o Fernando Henrique Cardoso fez, de deixar votar o impeachment. Abre, tira o cadáver da sala. Votou o impeachment e não aprovou, tudo bem. E se aprovar o impeachment, é o preço da democracia. Ninguém quer patrocinar um negócio irregular, mas também se olha que o impeachment poderia ser uma solução. A conclusão que os senadores chegam é que precisa de uma definição. Viver mais três anos desse jeito é muito difícil.
A situação política do deputado Eduardo Cunha é um fator complicador para o seguimento do impeachment? Esse é outro problema. Talvez tenha que resolver o problema da Câmara, que me parece mais fácil e com mais evidências de irregularidades. Se resolver o problema da Câmara agiliza o processo. Mas são dois mancos se apoiando, um encostado no outro. É evidente que ele não quer tomar providência contra a presidente para não perder o apoio do PT. O PT não quer tomar providência com ele para não aguçar e ele tomar uma atitude contra a presidente. O jogo está colocado.
A renúncia de Dilma também cumpriria esse papel? Sem dúvida, mas isso é uma coisa pessoal e zero factível.
O senhor concorda com a tese de que o vice Michel Temer poderia não ser cassado caso o TSE condene a presidente por abuso de poder político e econômico? Tecnicamente não sei se é possível. Politicamente acho que Temer poderia ser poupado. Quando prestamos contas das eleições, suplentes e candidatos a vice têm contas e tesoureiros separados. A princípio me parece que a tese poderia prosperar.
O PMDB tem que ser mais explícito se fica no governo ou se abandona Dilma? O PMDB não tem dono, mas tem obrigação de levantar a voz. O maior partido do Brasil tem a obrigação de se posicionar, de reclamar. O partido não pode ser submisso. O PMDB é dividido. Temos que unificar o discurso para as eleições. Você disputou dentro de uma chapa e, logo, tem responsabilidades. Acho muito ruim e difícil simplesmente abandonar [o governo] porque nada deu certo. A responsabilidade é formalizada na eleição. O PMDB foi lá, pediu voto, estava junto e tem obrigação mínima de ajudar a conduzir o processo até o fim do mandato. Mas isso pode ser feito de maior ou de menor intensidade. Foi errado nesta reforma que teve o PMDB ampliar seus espaços no governo. Ele não precisaria ter feito isso. Deveria ter dado mais sinais de que está se afastando e dito ‘sou responsável junto, mas da forma que está não dá’. O que não pode é falar ‘da forma que está não dá’ e depois pegar mais um pedaço.
O PMDB defende a candidatura própria à Presidência em 2018. Acha que o ex-presidente Lula deve também ser candidato? Lula gosta do enfrentamento e não tem medo do debate. Mas o que ele terá de pensar muito em um terceiro mandato é que ele teria de concorrer com ele mesmo, com os dois mandatos que teve. Isso traz uma dificuldade enorme para quem quer voltar. A comparação vai ser feita com o governo dele. E o mundo de 2015, de 2018 é diferente do que era em 2003. Pode ser uma roubada. Não sei se vocês já o ouviram falar isso ‘mito tem que morrer novo, no auge’. O presidente foi ao auge e depois vai lá embaixo brigar com ele mesmo em uma eleição? Eu não recomendo se candidatar. Você vai ficando na mesmice administrativa, os problemas políticos continuam os mesmos. A própria estrutura do governo precisa ser quebrada. A alternância de poder é muito interessante. O terceiro e quarto escalões estão escondidos nesses ministérios há 12 anos. Se voltar o PT no governo, vão ficar 20 anos. Tem que quebrar isso. O lulopetismo deu. Esse ciclo acabou e é isso que a população brasileira olha hoje. Vamos alternar um pouco.