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A guerra comercial entre os EUA e a China – que parecia estar chegando ao fim – se intensificou subitamente com a ameaça de novas tarifas por ambas as partes.
O presidente americano, Donald Trump, prometeu na sexta-feira, 10, mais que dobrar as tarifas sobre US$ 200 bilhões em mercadorias chinesas e introduzir novas taxas “em breve”.
Segundo ele, Pequim está tentando recuar nos termos do acordo que teria sido costurado entre os negociadores dos dois países.
“A China não deveria retaliar, senão só vai piorar”, ameaçou Trump no Twitter, mas sem sucesso. Nesta segunda-feira, 13, a China anunciou que retaliaria com imposição e aumento de tarifas sobre mais produtos americanos.
A partir de junho, a taxa também mais que dobra – de 10% para 20% ou 25% – sobre US$ 60 bilhões em mercadorias dos EUA, a exemplo de cervejas, roupas e gás natural liquefeito.
Os anúncios tiveram impacto global – o índice Ibovespa, da bolsa de valores de São Paulo, operou em forte queda ao longo do dia, com o dólar chegando a R$ 4. Nos EUA, o índice que reúne as 500 maiores empresas listadas em Wall Street (S&P 500) caiu mais de 2,5% ao longo do dia.
Os papéis da Apple, que tem a China entre seus principais mercados para iPhones, desabaram mais de 4%; os da fabricantes de aviões Boeing, mais de 3%.
Apesar do acirramento dos ânimos, os chineses dão prosseguimento à nova fase de negociações comerciais com os EUA, e há margem para atingir um acordo antes da entrada em vigor da nova fase de taxação.
As duas maiores economias do mundo já impuseram tarifas sobre bilhões de dólares em mercadorias uma da outra, e uma escalada maior nessa disputa comercial pode renovar as incertezas de empresas e consumidores, prejudicando a economia mundial.
Como pano de fundo, há divergências difíceis de serem contornadas, como transferência de tecnologia ante riscos à propriedade intelectual e acesso ao fechado mercado chinês sem, por exemplo, exigências como parceiros locais.
Abaixo, algumas questões centrais na disputa comercial entre EUA e China:
1 – Como o déficit comercial dos EUA cresceu?
Os EUA, que acusam a China de práticas comerciais injustas, lançaram uma guerra comercial contra a China no ano passado.
Os americanos não só acusam os chineses de roubar propriedade intelectual, como querem que Pequim faça mudanças em suas políticas econômicas – que, segundo Washington, favoreceria injustamente as empresas nacionais por meio de subsídios.
O governo dos EUA também quer exportar mais para conter seu elevado déficit comercial de US$ 419 bilhões com a China.
O déficit comercial (diferença entre importação e exportação) significa que as importações superaram as exportações de um país. Reduzir essa diferença é parte fundamental das políticas comerciais de Trump.
Ainda assim, a estratégia do presidente americano sofreu um forte revés com a explosão do déficit comercial, que subiu 12,5?2017 para 2018 no comércio bilateral com a China e atingiu o ponto mais alto desde a crise econômica de 2008 (US$ 891,3 bilhões, ou R$ 3,4 trilhões).
2 – Quais tarifas foram impostas até agora?
Os EUA impuseram tarifas sobre US$ 250 bilhões em produtos chineses no ano passado. Pequim retaliou com taxas sobre US$ 110 bilhões em mercadorias americanas.
O aumento das tarifas de importação de 10% para 25% sobre US$ 200 bilhões em produtos chineses estava previsto para o início deste ano, mas foi adiado.
Agora, Trump está dizendo que este aumento será colocado em prática, uma vez que as negociações com Pequim estão avançando “muito devagar”.
Além disso, ele prometeu impor “em breve” tarifas de 25% sobre outros US$ 325 bilhões em itens comprados da China.
3 – Quais produtos podem ser afetados?
A gama de produtos chineses atingidos pelas tarifas dos EUA desde o início da guerra comercial é abrangentes – de maquinário industrial a motocicletas.
Os EUA impuseram tarifas de 10% sobre US$ 200 bilhões em produtos chineses, incluindo peixes, bolsas, roupas e calçados.
Esses serão os itens atingidos se o aumento de tarifa de 10% para 25% for adiante nesta semana.
A China acusa os EUA de iniciar a maior guerra comercial da história. E tem como alvo mercadorias americanas – de produtos químicos a legumes, verduras e bourbon.
Também tem visado estrategicamente as mercadorias produzidas em distritos de eleitorado majoritariamente republicano – do partido do presidente Trump – e itens que podem ser comprados em outros lugares, como a soja.
4 – A guerra comercial abalou o mercado?
A guerra comercial entre os EUA e a China foi uma grande fonte de incerteza para o mercado financeiro no ano passado. Essa incerteza pesou sobre a confiança do investidor em todo o mundo e contribuiu para perdas.
Em 2018, o índice Hang Seng de Hong Kong caiu mais de 13%, enquanto o Xangai Composto despencou quase 25%.
Ambos os índices apresentaram recuperação neste ano e subiram 12?6%, respectivamente, até agora.
Para efeito de comparação, o índice Dow Jones Industrial Average, o principal da bolsa de Nova York, caiu quase 6% em 2018, e já apresenta alta de 11% neste ano.
A cotação da moeda chinesa, o renminbi, caiu mais de 5% em relação ao dólar americano no ano passado, antes de se estabilizar em 2019, segundo a agência de notícias Reuters.
5 – Que outras guerras comerciais estão acontecendo?
A guerra comercial entre os EUA e a China teve um efeito em cadeia sobre outros países e a economia global.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) afirmou que a escalada da tensão comercial foi um fator que contribuiu para uma “expansão global significativamente mais fraca” no ano passado, quando reduziu sua previsão de crescimento global para 2019.
Alguns países também podem ser indiretamente afetados – especialmente aqueles que são parceiros comerciais importantes dos EUA ou da China – ou desempenham papéis importantes em suas cadeias de suprimento.
A guerra com a China é parte de uma série de batalhas comerciais que os EUA travaram com outros países no ano passado.
Trump impôs tarifas sobre as importações do México, do Canadá e da União Europeia, para incentivar os consumidores a comprarem produtos nacionais. Todos esses países retaliaram, por sua vez, com tarifas sobre produtos americanos.
Fonte: BBC Brasil