Guedes tenta convencer Bolsonaro a privatizar Petrobras

Ministro sugeriu que, aos poucos, presidente está tendo menor resistência com a possibilidade

O ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou que não foi “atingido” em sua autonomia no episódio em que o presidente Jair Bolsonaro agiu para evitar alta do preço do diesel pela Petrobras. Segundo ele, Bolsonaro “levantou a sobrancelha” sobre privatizar a petrolífera, em um indicativo de menor resistência à ideia.

O ministro disse, em entrevista à GloboNews, na noite desta quarta-feira (17), que caminhoneiros dos Estados Unidos e da Europa não pressionam os respectivos governos por causa de aumentos de preços de combustíveis na esteira da valorização do barril do petróleo.

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De acordo com Guedes, no meio desse debate, Bolsonaro lhe enviou mensagem destacando maior concorrência no mercado de combustíveis nessas regiões, enquanto no Brasil aparece apenas “uma bandeirinha, a da Petrobras”.

“Acho que ele (Bolsonaro) quis dizer alguma coisa com aquilo ali (a mensagem)”, disse o ministro, afirmando que há “cinco bancos, seis empreiteiras, uma produtora de petróleo e refinaria, três distribuidoras de gás. E tem 200 milhões de patos”.

Perguntado se o presidente está mais próximo de concordar com a privatização da Petrobras, Guedes respondeu que não. “Isso seria um salto muito grande.” Porém, o ministro admitiu que o presidente considerou essa possibilidade para uma “estatal em particular”, sem dar detalhes.

‘Estamos preparados para ceder’

O ministro da Economia reconheceu que o texto da reforma da Previdência “realmente” não deveria tratar de idade de aposentadoria compulsória de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e disse que o governo “está preparado para ceder em algumas coisas e em outras, não”.

Ministro da Economia, Paulo Guedes
08/04/2019
REUTERS/Adriano Machado
Ministro da Economia, Paulo Guedes 08/04/2019 REUTERS/Adriano MachadoFoto: Reuters

Ao mesmo tempo, Guedes admitiu ser “evidente” que recuar em vários pontos – como BPC, regime de capitalização e idade de aposentadoria das mulheres – “enfraquece” a estratégia da equipe econômica em relação à reforma previdenciária.

Guedes disse que o mercado está “errado” em calcular que a reforma a ser aprovada implicará economia entre 600 bilhões e 700 bilhões de reais, bem abaixo do valor de cerca de 1 trilhão de reais defendido por ele. “Acho que vai ser substancialmente maior que 600 bilhões, 700 bilhões de reais.”

O ministro se disse “absolutamente tranquilo” em relação a riscos de desidratação da matéria.

Para Guedes, o presidente Jair Bolsonaro vai entrar “com mais peso” na articulação pela reforma à medida que “a coisa ganhar velocidade”. “Acho que a coordenação política está melhorando.”

O ministro foi questionado sobre o que seria dependência excessiva da reforma da Previdência como catalisador de crescimento para o País e disse que há uma série de medidas “extraordinariamente fortes e positivas”, como choque de energia barata e pacto federativo, que estão prontas.

Guedes foi questionado sobre a autonomia do governo para antecipar a Estados e municípios a distribuição de recursos que entrarão no caixa da União após leilão do excedente do pré-sal, já que o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), tem dito que a decisão passa pelo Congresso. Na resposta, o ministro foi enfático: “O presidente Rodrigo Maia pode fazer o que ele quiser, porque ele é o presidente da Câmara. Estou dizendo que juridicamente não tem Congresso no contrato.”

Guedes acabaria com Apex

O ministro disse ainda que acabaria com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex) se a entidade deixasse o Itamaraty e passasse para o guarda-chuva da Economia. “A Apex é redundante”, afirmou.

Por fim, Guedes disse o governo vai criar uma superintendência de controle para rever a governança de fundos de pensão, alguns dos quais afetados por perda de recursos devido à má gestão. Guedes afirmou que a candidata para chefiar a agência é a economista Solange Paiva Vieira, atual superintendente da Superintendência de Seguros Privados (Susep), vinculada ao ministério.