Homem após demissão: sentimentos negativos não devem ser reprimidos, diz especialista
Claudia Gasparini, de Exame.com
São Paulo — Se a notícia de umademissão já é dolorosa em tempos de prosperidade, que dirá em meio à forte crise que atinge a economia e o mercado de trabalho no Brasil.
Se aconteceu com você, saiba que não está sozinho. O problema avança a galope no país desde janeiro do ano passado — fechamos o primeiro trimestre de 2016 com 11,1 milhões de desempregados — e o pessimismo só cresce.
À onda de desligamentos se soma a dificuldade de se recolocar no mercado. Dados de maio deste ano revelam que 11 em cada 100 brasileiros em plenas condições de trabalho não conseguem encontrar um empregador.
Num contexto tão desanimador, ser dispensado de um emprego pode adquirir contornos ainda mais dramáticos do que o habitual. Mas como não deixar que o desespero tome conta da situação?
Com a ajuda de três especialistas,EXAME.com elaborou um passo a passo para transformar a demissão num acontecimento mais “digerível” na crise. Confira:
1º Permita-se ficar triste
O impacto emocional de um desligamento é inevitável. É natural que a primeira reação seja olhar para o ex-empregador com mágoa e raiva, diz Mônica Ramos, diretora da consultoria de recursos humanos LHH.
Essa resposta não deve ser reprimida. “Os sentimentos negativos precisam aparecer”, explica ela. “É preciso viver o luto, não suprimi-lo”. Só depois de sofrer o suficiente, você terá condições de olhar para a situação com serenidade e entender os motivos que levaram à sua demissão — um primeiro passo fundamental para conseguir se restabelecer.
2º Peça para a empresa explicar (de verdade) o motivo da dispensa
De acordo com Ricardo Karpat, diretor da consultoria Gábor RH, muitas empresas justificam demissões com a alegação de que “foi preciso cortar custos”. É importante não se contentar com essa explicação meramente protocolar, diz o especialista.
“Mesmo que a sua dispensa tenha sido realmente motivada por um enxugamento de despesas, há uma razão para você ter sido escolhido para sair, e outros não”, explica. Um feedback mais aprofundado ajudará você a descobrir suas lacunas técnicas e comportamentais, e assim se preparar melhor para as próximas oportunidades.
3º Ofereça-se para cumprir o aviso prévio
Para Karpat, é importante se disponibilizar a trabalhar durante o período do aviso prévio, previsto em lei. Isso permite que a “passagem do bastão”, se houver, seja feita de forma tranquila e adequada.
Cuidar da transição transmitirá seriedade, equilíbrio e profissionalismo. Quem mais ganha é a sua reputação: com uma impressão positiva do seu comportamento, a empresa poderá dar indicações e boas referências sobre você para o mercado.
4º Conheça e faça valer os seus direitos
Quais são os motivos para uma demissão por justa causa? Uma mulher pode ser dispensada logo após a licença-maternidade? Qual é o tempo máximo para buscar direitos trabalhistas após o término do contrato? Como calcularquanto você deve receber ao ser demitido?
É importante saber o que você pode (e deve) exigir de um empregador que decide desligá-lo. Além de dar dignidade à sua saída, acertar as contas com a empresa — sempre de forma firme, porém diplomática — dará algum fôlego financeiro para o seu período de transição.
5º Faça um bom planejamento financeiro
Diante da crise, pode demorar um tempo até você conseguir um novo emprego. “É importante saber quanto você vai receber de verbas rescisórias e avaliar as suas reservas para saber por quanto tempo você consegue sobreviver com o que tem”, diz Karpat.
Esse estudo financeiro ajudará a tomar decisões mais acertadas, inclusive do ponto de vista da carreira. A depender dos valores da sua conta bancária, você saberá quais propostas negar ou aceitar, e se precisa buscar fontes alternativas de renda enquanto não encontra algo mais estável, por exemplo.
6º Busque qualificação
Karpat aconselha destinar pelo menos uma parte das verbas rescisórias para o seu próprio aprimoramento profissional. Cursos de curta duração ou até aulas de idioma podem ajudá-lo a se preparar melhor para um mercado cada vez mais exigente.
Segundo Karina Freitas, diretora da consultoria STATO, investir em desenvolvimento após uma demissão é uma medida duplamente estratégica: além de adquirir novas competências, o profissional mostra ao mercado que está interessado em melhorar. “É uma forma de dizer que você está reagindo, que não é uma vítima e sim um protagonista”, explica.
7º Crie uma estratégia para vender os seus talentos
O passo seguinte é montar uma estratégia de “vendas”, em que o “produto” é a sua força de trabalho. Segundo Freitas, é preciso mapear os seus diferenciais competitivos, a faixa de remuneração desejada e os valores que você busca em um potencial empregador.
Também é fundamental fazer perguntas críticas sobre o mercado. Quais são as necessidades mais urgentes das empresas? Qual é o perfil de profissional mais buscado na sua área? Que competências estão em alta? As respostas serão fundamentais para atualizar o seu currículo e montar um plano de recolocação.
8º Calibre seu discurso e mergulhe de cabeça no networking
O último passo é se preparar para possíveis entrevistas. “Monte um discurso interessante e coerente, que consiga se sustentar mesmo diante de perguntas difíceis”, orienta Freitas. Ser sucinto é obrigatório: um profissional em início de carreira deve conseguir contar sua história em até 5 minutos, enquanto 10 minutos devem ser suficientes para um executivo mais maduro.
Outra prática fundamental é investir na sua rede de contatos. “Vá atrás de pessoas que você também pode beneficiar de alguma forma, já que onetworking é uma via de mão dupla”, diz Ramos. Também é importante não ter medo de se expor: quanto mais pessoas souberem que você está buscando uma oportunidade, mais chances você terá de encontrá-la.