FMI melhora pela 1ª vez previsão para o PIB do Brasil em 2016
O Fundo Monetário Internacional (FMI) está um pouco menos pessimista em relação à economia brasileira. Em relatório divulgado nesta terça-feira (19), o fundo melhorou pela primeira vez – após cinco revisões para baixo – sua projeção para o Produto Interno Bruto (PIB) do país este ano. A expectativa agora é que a economia brasileira “encolha” 3,3% em 2016 – ante uma queda de 3,8% estimada em abril.
Projeções do FMI para 2016
Previsões revisadas para o PIB brasileiro
Para 2017, o FMI agora prevê que a economia brasileira voltará a crescer. O órgão estima um avanço de 0,5% no PIB, contra uma projeção de crescimento nulo feita nos dois últimos levantamentos do órgão.
Considerando as projeções feitas para todos os anos, é a primeira vez desde o relatório de julho de 2012 que o FMI melhora uma estimativa feita para a economia brasileira. Na ocasião, o fundo elevou de 4,1% para 4,6% a estimativa de crescimento para o PIB de 2013.
“É uma combinação de vários fatores. A gente vê evidências de mudanças e virada na economia”, informou a diretora da divisão de estudos da economia mundial da instituição, Oya Celasun, durante coletiva de imprensa nesta terça.
Segundo Oya, o mercado financeiro está reagindo bem ao novo momento da economia brasileira, e o consumo deve melhorar com a volta da confiança nos indicadores. Oya disse que a confiança havia piorado muito devido à demora nas reformas necessárias.
De acordo com Gian Maria Milesi-Ferreti, diretor do departamento de pesquisas do FMI, em 2015 houve um encolhimento rápido da economia do país, então um encolhimento da queda já implica uma melhora e uma virada.
Projeções para 2016
Em sua primeira projeção para 2016, feita em abril de 2014, o FMI considerava que a economia brasileira cresceria 1,5% este ano. A projeção, no entanto, piorou gradualmente, por cinco vezes seguidas (veja o gráfico ao lado). Passou de uma contração esperada de 1%, em outubro de 2015, para recuo de 3,8% em abril deste ano.
Agora, o órgão projeta uma queda um pouco menos brusca. “A confiança do consumidor e dos empresários parece ter melhorado no Brasil, e a contração do PIB no primeiro trimestre dá sinais de ter sido mais suave que se previa”, diz o órgão no relatório.
Como efeito, a recessão de 2016 no país deve ser “levemente menos severa, com um retorno de crescimento positivo em 2017”, aponta o FMI. Apesar disso, acrescentou o órgão no relatório, “incertezas políticas ainda persistem” e podem obscurecer as projeções.
Brexit piora as projeções globais
Apesar do cenário menos pessimista para o Brasil, o órgão cortou em 0,1 ponto percentual a previsão de crescimento da economia mundial, passando para um avanço de 3,1% em 2016. Para 2017, o FMI estima um avanço da atividade global de 3,4% – ante 3,5% previstos em abril.
O referendo do dia 23 de junho que decidiu pela saída do Reino Unido da União Europeia(Brexit) adicionou uma “pressão negativa à economia mundial”, avaliou o diretor de pesquisa do FMI, Maurice Obstfeld, em comunicado do órgão.
Previsões para os países
Fonte: FMI
“Até 22 de junho, nós estávamos preparados para melhorar levemente nossas projeções mundiais para 2016 e 2017. Mas a Brexit colocou tudo a perder em nossos trabalhos”, escreveu.
A previsão para o PIB do Reino Unido em 2016 foi cortada em 0,2 ponto percentual, para avanço de 1,7%.
Para as economias emergentes e países em desenvolvimento, o órgão manteve a projeção de avanço de 4,1% em 2016, e de 4,6% em 2017. Já os países da América Latina e Caribe devem “encolher” 0,4% este ano – uma piora de 0,1 ponto percentual em relação à última previsão.
Pequeno ‘alívio’ nas projeções
O FMI não foi o único a melhorar a projeção para o PIB brasileiro deste ano. Esta semana, o mercado financeiro passou a estimar um”encolhimento” menor do nível de atividade da economia em 2016 e uma expansão maior no ano que vem.
As projeções são do boletim Focus do Banco Central, que consultou mais de 100 economistas. Para este ano, eles melhoraram a estimativa para o PIB de uma contração de 3,30% para uma queda menor, de 3,25%.
Após ter crescimento marginal em abril, o nível de atividade da economia voltou a cair, segundo o Índice de Atividade Econômica do BC, o IBC-Br – criado para tentar antecipar o resultado do PIB.Ele recuou 0,51% em maio na comparação com abril, após ajuste sazonal (espécie de “compensação” para comparar períodos diferentes).
Interrupção de quedas na indústria pode ser primeiro sinal de reação da economia, diz economista (Foto: Reprodução/TV Clube)
Primeiros sinais de reação
Para o pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre-FGV), Claudio Considera, alguns dos mais recentes indicadores macroeconômicos foram “menos ruins” que os anteriores, podendo apontar como “primeiros sinais” de reação da economia.
“Essa mudança [nas projeções] tem a ver com uma leve melhora em dados da atividade da indústria, no setor de construção civil e do consumo de energia elétrica”, avalia Considera. Aprodução da indústria brasileira ficou estável em maio, cresceu 0,1% em abril e 1,4% em março, na comparação mensal.
Esses números interrompem várias contrações seguidas no indicador divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). “Aparentemente, existe uma tendência de melhora na economia, mas é cedo para tirar conclusões e qualquer recuperação será lenta”, pondera.
O pesquisador também aponta uma retração “menos desfavorável” no setor de serviços como condutor de um pessimismo menor. Em maio, o volume recuou 6,1% frente ao mesmo período do ano anterior, a maior queda desde 2012 para o mês. Já na comparação com abril, a baixa foi menor, de 0,1%. Na comparação anual, o que mais influenciou a queda de 9,1%, foram os transportes, principalmente o aéreo (-15,1%) e terrestre (-10,5%).
No comércio varejista, as vendas continuam ruins. Elas recuaram 9% em maio ante o mesmo mês de 2015, a maior queda para o mês desde 2001, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Na comparação com abril, que registrou alta de 0,3% (dado revisado), a queda foi de 1%, a maior para o mês desde 2000.
O resultado está 12% abaixo do ponto mais alto da série, em novembro de 2014. “O desemprego e a inflação ainda corroem a renda do brasileiro e isso ainda reflete no consumo e serviços”, diz Considera.
Fonte: G 1