Falta de controle sanitário prejudica aquicultor brasileiro
A falta de fiscalização e controle sanitário na aquicultura tem permitido a disseminação de doenças em animais aquáticos de cultivo e causado prejuízo ao produtor brasileiro. O policultivo de peixes, a alta taxa de lotação nos tanques e a falta de informação sanitária do aquicultor sobre as larviculturas comerciais (estabelecimentos que fornecem alevinos para engorda) são alguns fatores que dificultam o crescimento da produção e a competitividade do setor.
Para debater o assunto, o Grupo Técnico de Sanidade Animal da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) se reuniu, na quarta-feira (29/06), em Brasília. Os representantes destacaram a necessidade de controle sanitário em propriedades que cultivam peixes, principalmente tilápia e peixes redondos (espécies que possuem alta demanda no país). “A tilápia é uma commodity comercial e precisa de boas práticas de manejo e sanidade para evitar que doenças se espalhem pelos tanques-rede ou escavados”, disse o professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Henrique Figueiredo.
De acordo com ele, dentre os países da América, o Brasil é o que apresenta maior quantidade de publicações com relato de doenças emergentes na produção de tilápia. “Temos registrado elevados números de doenças causadas por bactérias e vírus e o aumento de casos de infecção simultânea por dois agentes diferentes (coinfecção), que deixam o peixe impróprio para o consumo”, relevou Henrique.
Em 2014, o então Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA) publicou a portaria nº 441, colocando em consulta pública o projeto de Instrução Normativa, que instituirá o Programa Nacional de Monitoramento Sanitário de Alevinos e Juvenis de Tilápias (Oreochromis, Tilapia, Sarotherodon e híbridos desses gêneros). O programa, nomeado de “Alevino de Tilápia Monitorado” prevê o monitoramento de patogênicos relevantes para a saúde animal, que causam prejuízos ao aquicultor. Para o setor, será um passo importante para avaliação das deficiências sanitárias existentes na cadeia produtiva, bem como para dar suporte à implementação das demais políticas públicas.
O presidente da Comissão Nacional de Aquicultura da CNA, Eduardo Ono, apresentou os principais problemas sanitários em peixes nativos enfrentados atualmente por toda cadeia produtiva. Um dos entraves é a identificação dos microrganismos nos alevinos. “O conhecimento de vírus e bactérias em peixes ainda é restrito e isso dificulta o tratamento. Já os parasitos, que podem ser vistos a olho nu, são mais fáceis de detectar”, explicou Eduardo Ono.
A ausência de informações técnicas, de serviço de diagnóstico, de planos de prevenção específicos e de protocolos de tratamento validados foi destacada por Ono, como um gargalo preocupante. “Para melhorar o controle sanitário na aquicultura, precisamos de mais qualificação de profissionais, aprofundar as pesquisas na área e intensificar a orientação e apoio tecnológico aos produtores”, concluiu.
O médico veterinário e fiscal federal do Departamento de Saúde Animal da Secretaria de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (DAS/SDA/Mapa), Eduardo de Azevedo Pedrosa, falou sobre a importância do Programa Nacional de Sanidade de Animais Aquáticos de Cultivo. O ‘Aquicultura com Sanidade’ visa garantir a sustentabilidade dos sistemas de produção de animais aquáticos e a sanidade da matéria-prima proveniente de cultivos nacionais.
“O programa vai abranger todos os estabelecimentos brasileiros que cultivam ou mantém animais aquáticos e promover a redução da mortalidade, proteger a saúde pública e melhorar a qualidade do produto”, explicou Eduardo de Azevedo. Segundo ele, a iniciativa é de grande importância para identificar a origem dos animais e permitir a rastreabilidade dos cultivados e seus derivados.
Além dos assessores técnicos das comissões de produção animal da CNA, participaram da reunião representantes do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV), do Mapa e das Federações da Agricultura e Pecuária dos estados de Goiás, Minas Gerais, Pará, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, via videoconferência.
Fonte: Agrolink