O Brasil está amargando queda nas vendas para todos os parceiros do Mercosul neste ano. Na última década, isso só ocorreu em 2009, quando os países sofriam os efeitos da crise global.
Os números indicam que o problema do Brasil na região não é mais apenas a Argentina, cuja redução nos pedidos em 2014 representou um duro golpe ao comércio exterior do país, respondendo por quase um terço da diminuição das vendas brasileiras.
O fracasso na exportação neste ano generalizou-se no bloco (veja quadro) e a queda nas vendas para o Mercosul é de 15% de janeiro a setembro.
As exportações para o mercado venezuelano caíram 29%. Foram US$ 830 milhões a menos em receitas para os exportadores brasileiros. Em termos percentuais, foi a retração mais expressiva entre os parceiros do Mercosul.
Os frigoríficos foram os mais afetados. As vendas de carnes bovina e de frango, os produtos brasileiros mais vendidos aos venezuelanos, despencaram mais de 30%.
O resultado das vendas para a Venezuela chama a atenção, já que, depois da Argentina, é o principal freguês no Mercosul das exportações brasileiras -no total geral, ocupa o 11º lugar. Os argentinos são os terceiros, atrás de China e Estados Unidos.
“Temos, por um lado, a Venezuela com uma recessão aguda. De outro, a Argentina com uma situação econômica frágil e insistindo em barreiras aos produtos brasileiros”, diz Lucas Ferraz, professor da FGV e especialista em comércio internacional.
O FMI (Fundo Monetário Internacional) projeta queda de 10% no PIB da Venezuela em 2015. Para a Argentina, a previsão é de alta de 0,4%. Mas, com baixas reservas de dólar, o país segue fechando as portas aos bens estrangeiros.
Pelos cálculos argentinos, o país importou até setembro 10% a menos do Brasil ante igual período de 2014. A queda foi similar à redução média das compras dos argentinos no período, o que significou menos US$ 1,2 bilhão em receitas aos brasileiros.
A importação de produtos da China, porém, aumentou 6% no período, o que indica nova perda de espaço na Argentina para o país asiático.
O fim das declarações juramentadas, com as quais o governo argentino trava a liberação da compra por importadores, ajudaria a impulsionar as vendas num momento em que a alta do dólar dá competitividade aos bens brasileiros.
O candidato governista à sucessão presidencial na Argentina, Daniel Scioli, afirmou que, caso eleito, se empenhará na aproximação comercial com o Brasil. Ele lidera as pesquisas para as eleições deste domingo (25).
Paraguai e Uruguai, apesar do peso menor nas exportações totais, também contribuem para a queda nas vendas no bloco. No Paraguai (redução de 24% na exportação brasileira), as vendas de diesel encolheram. No Uruguai (queda de 7%), caíram especialmente os embarques de automóveis e carne suína.
Segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, o Mercosul continua como “parceiro estratégico” e neste ano houve ações como a renovação de acordos automotivos com Argentina e Uruguai e missão comercial para Paraguai.
Uol