A mídia caiu em cima, fez o seu sensacionalismo, e até deu uma de grande cientista correlacionando um fenômeno natural, datado de séculos, com o apocalíptico aquecimento global.
Outros, que acreditam na teoria da conspiração, seguem à risca de que El Niño é manipulação do homem, mesmo o fenômeno, comprovadamente ser datado dos tempos de Cristo, onde não existiam aviõezinhos ou chaminés de fábricas para poluir e matar a raça humana.
Pensando assim, que poder tem o homem para modificar a temperatura do maior oceano do planeta, não? Menos vídeos de internet e mais leitura de livros de ensino primário, por favor!
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Levando o assunto para o Brasil, que de norte a sul sentiu e ainda sente os efeitos do fenômeno, afinal, quantas famílias perderam tudo em enchentes agressivas entre Mato Grosso do Sul, Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina? Quantos produtores rurais não viram sua roça apodrecendo com tanta chuva que caiu?
E no lado oposto, quantas cidades não foram ainda mais castigadas pela falta de chuva no Centro-Oeste, Nordeste e Sudeste?
E a região do Mapitoba? Onde meteorologistas de empresas privadas venderam aos produtores rurais, ainda no final de 2014, previsões de chuvas regulares e agora, auge da estação chuvosa, a soja está morrendo por falta de chuva entre a Bahia, Maranhão, Piauí e Tocantins?
Sem falar no disparo, na quantidade absurda de queimadas no país. Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) revelaram que durante todo o ano de 2015 foram registrados 236.371 focos de calor em todo o Brasil. Perdemos apenas para o ano de 2010, quando foram contabilizados 249.291 focos.
Nesta quarta-feira (06), o Bureu of Meteorology, principal órgão da meteorologia australiana, que trabalha em conjunto com o National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA), dos Estados Unidos, atualizou a previsão quinzenal do monitoramento dos Oceanos Pacífico e Índico.
O texto a seguir foi traduzido pelo De Olho No Tempo Meteorologia e exposto, em uma linguagem mais enxuta, para que seja de fácil compreensão dos termos técnicos de como complexo é o mecanismo oceânico-atmosférico natural e que vivenciamos todos os dias, desde o nosso nascimento.
As avaliações, análises e estimativas, totalmente, foram confeccionadas por profissionais do Bureau of Meteorology, sem palpite algum de especialistas brasileiros, principalmente os de esfera privada, que ora conflitam, na maioria das vezes, daquilo que eles venderam aos seus clientes, principalmente para os setores agrícola e energético.
Resumo
Os números do El Niño-Oscilação Sul (ENOS) mostram que o evento de 2015/2016 atingiu o pico nas últimas semanas.
As temperaturas do Oceano Pacífico Tropical mostraram que este foi considerado como um dos três mais fortes eventos de El Niño dos últimos 50 anos. Os modelos climáticos sugerem que o El Niño vai diminuir durante os próximos meses, com um retorno ao ENSO neutro provavelmente durante o segundo trimestre de 2016.
Na região central até o leste do Oceano Pacífico Tropical, a temperatura da superfície do mar e sub-superfície arrefeceu nas últimas semanas, embora as temperaturas permaneceram em níveis para um El Niño forte.
Na atmosfera, o Índice de Oscilação Sul (IOS) diminuiu para valores baixos de El Niño. Rajadas de ventos de oeste recentes sobre o Oceano Pacífico Equatorial Ocidental podem diminuir temporariamente o declínio do El Niño nas próximas semanas.
Com base nos 26 eventos de El Niño datados desde 1900, cerca de 50% foram seguidos por um ano neutro, enquanto 40% foram seguidos por La Niña.
Os modelos também sugerem que um curto período de neutralidade e de La Niña são igualmente prováveis para o segundo semestre de 2016. A repetição do El Niño é praticamente improvável.
Anomalia semanal de temperatura da superfície do Oceano Pacífico
A Temperatura da Superfície do Mar (TSM) do Oceano Pacífico Tropical sofreu um arrefecimento na última quinzena monitorada. Mais distante da Linha do Equador, as anomalias positivas começaram a diminuir, principalmente ao norte da Austrália. Já na costa norte-americana, os valores subiram ficando positivos.
Em todo o leste do Oceano Pacífico Equatorial, entre o final de dezembro de 2015 e o início de janeiro de 2016, a temperatura excedeu em 2°C em todo o leste do Oceano Pacífico Equatorial, inclusive com extremos superiores a 3°C. Valores positivos também foram observados ao longo da Linha do Equador.
Anomalia mensal de temperatura da superfície do Oceano Pacífico
A anomalia de Temperatura da Superfície do Mar (TSM) para o mês de dezembro mostrou que valores positivos foram observados em todo o Oceano Pacífico Equatorial.
Na comparação com o mês de novembro, as anomalias positivas diminuíram rapidamente em algumas áreas do longo do Equador.
A região de monitoramento conhecida como NINO3, no Oceano Pacífico Oriental permaneceu estável, enquanto que as regiões de monitoramento NINO3.4 e NINO4 tiveram um leve declínio com relação ao mês anterior.
Índice de Oscilação Sul
O Índice de Oscilação Sul, (Southern Oscillation Index – SOI), mostrou uma pequena queda ao longo das últimas duas semanas. O valor SOI de 30 dias para 03 de janeiro foi -9,0.
Valores de 90 dias podem fornecer uma orientação mais confiável. O atual SOI de 90 dias é -11,4.
Valores positivos sustentados do SOI acima +7 normalmente indicam La Niña, enquanto os valores negativos sustentados abaixo -7, normalmente indicam El Niño.
Os valores de entre cerca de +7 e -7 geralmente indicam condições neutras. Portanto, estamos com SOI de -9,0, com El Niño.
Ventos alísios
Os ventos alísios para os cinco dias com término em 03 de janeiro mostraram um aumento em anomalias dos ventos de oeste em todo o Oceano Pacífico Equatorial Ocidental.
A extensão espacial e força de anomalias de oeste aumentou em comparação com as duas últimas semanas. A extensão, provavelmente esteve relacionada com a passagem da Oscilação Madden Julian (OMJ) sobre Oceano Pacífico Ocidental.
Os ventos alísios têm sido consistentemente mais fracos do que a média, e na ocasião, revertem a direção (ou seja, em vez de oeste sopram para leste), desde o início de 2015.
Durante os eventos de La Niña, há um fortalecimento sustentado dos ventos alísios em grande parte da região Tropical do Oceano Pacífico, enquanto que durante eventos de El Niño há um enfraquecimento contínuo dos ventos alísios.
Nebulosidade na Linha do Equador
A nebulosidade perto da Linha do Equador ficou acima da média durante a maior parte do mês de dezembro, com uma breve flutuação em valores abaixo da média. A nebulosidade perto da Linha do Equador tem ficado acima da média desde março de 2015.
Quando a nebulosidade ao longo da Linha do Equador é persistente gera um importante indicador de El Niño-Oscilação Sul (ENOS), uma vez que normalmente, as anomalias negativas aumentam. O oposto, isso é, quando os valores de nebulosidade ficam positivos, evidencia tendência para La Niña.
Previsão de enfraquecimento do El Niño
O Bureau of Meteorology utilizou os oito modelos climáticos internacionais e todos indicaram que o atual El Niño vai entrar em um declínio constante a partir do mês de fevereiro perdendo as características até o mês de maio.
Previsão de enfraquecimento do El Niño
O Bureau of Meteorology utilizou os oito modelos climáticos internacionais e todos indicaram que o atual El Niño vai entrar em um declínio constante a partir do mês de fevereiro perdendo as características até o mês de maio.
As últimas previsões para a região de NINO3.4 (inicializadas em dezembro) indicam que a Temperatura da Superfície do Mar (TSM) em todo o centro do Oceano Pacífico Tropical está perto de seu pico, e são susceptíveis para enfraquecer significativamente a partir do outono no Hemisfério Sul.
A perspectiva para a região de NINO3.4 indicou valores de +2,6°C em janeiro, mas caindo para +0,7°C em maio, com tendência de resfriamento.
Na última quinzena de 2015, os valores da região de NINO3.4 chegaram a +2,3°C. Quando os valores ficam acima de 0,8°C nesta área de monitoramento, já se atribui a um evento de El Niño.
As projeções atuais mostram que a Temperatura da Superfície do Mar (TSM) deve permanecer próxima do recorde, porém, não superando, os demais eventos de El Niño, tal como 1982/1983 e 1997/1998.
Contudo, alguns modelos indicaram que o Niño de 2015/2016 pode ser o mais forte dos últimos 50 anos, se as condições, por eles – modelos – previstas, continuarem até o final do primeiro trimestre de 2016.
As setas indicam tendência acima da média para a região de NINO3.4 dentre todos os modelos internacionais utilizados.
Para o Brasil, os efeitos de um período muito rápido de transição de El Niño para La Niña seria a redução da chuva no Sul, inclusive com períodos maiores de possíveis estiagens no segundo semestre de 2016 e uma normalidade das chuvas em parte das Regiões Nordeste e Norte, o que favoreceria a redução das queimadas na Amazônia.
Entre as Regiões Centro-Oeste e Sudeste, a chuva demoraria a retornar na primavera e as incursões polares entrariam com mais facilidade, já no próximo inverno.
Vale ressaltar que o Bureu of Meteorology, em momento algum, prevê em seus boletins de monitoramento, a configuração do fenômeno La Niña.
Apenas indica que o atual e perigoso El Niño pode estar com os dias contados, ou seja, entrando na UTI, e que o mais provável, portanto, seria um resfriamento acelerado nos próximos meses e não um período de neutralidade, sem ambas as anomalias. Entraria em jogo, o nascimento de mais um La Niña.
Cptec – Figura 14
(Crédito das imagens: NOAA/Bureu of Meteorology/Cptec/Inpe)
(Fonte da informação: De Olho No Tempo Meteorologia)
O portal De Olho No Tempo Meteorologia não realiza previsão de tempo ou expede aviso meteorológico. Para tal conteúdo acesse os órgãos oficiais de meteorologia no Brasil, Cptec/Inpe ou Inmet.
Fonte: De Olho no Tempo Meteorologia