Lucy Letby começou a trabalhar no hospital como estagiária e continuou na unidade após se graduar enfermeira especializada na área infantil
Uma enfermeira de 28 anos, identificada como Lucy Letby, foi presa na terça-feira sob suspeita de assassinar oito bebês e de tentar matar outros seis no hospital Countess of Chester, na Inglaterra.
Se for condenada pelos oito assassinatos, ela se tornará a maior assassina de crianças no Reino Unido.
A prisão, cujos detalhes não foram revelados, ocorre cerca de um ano após o início da investigação e cerca de dois anos depois de os altos índices de mortalidade no hospital terem começado a levantar suspeitas.
A investigação averiguou as mortes de 17 recém-nascidos na unidade neonatal, entre março de 2015 e julho de 2016.
Também englobou 15 “colapsos não-fatais” – casos em que a saúde da criança piora gravemente, mas ela sobrevive.
Os casos investigados envolvem famílias da região de Cheshire e do norte do País de Gales.
Na terça-feira, a polícia fez buscas em uma casa que seria da enfermeira, localizada a cerca de um quilômetro do hospital.
Paul Hughes, detetive que trabalha no caso, disse que a investigação é altamente complexa e muito sensível, e que os policiais estão fazendo “o possível para tentar estabelecer em detalhes o que levou a essas mortes”.
O hospital se recusou a comentar se algum funcionário havia sido suspenso de suas funções e a polícia não revelou o papel da profissional de saúde no estabelecimento, nem como as crianças teriam sido assassinadas.
Confirmou, no entanto, que a suspeita permanece sob custódia.
Em uma entrevista concedida em 2013 ao jornal local The Standard, ela disse que começou a trabalhar na unidade ainda como estagiária, em um período de três anos de treinamento antes de se graduar, em 2011, como enfermeira infantil na Universidade de Chester.
Após a formatura, ela continuou como parte da equipe e disse que sua função envolvia “cuidar de uma variada gama de bebês que requerem diferentes níveis de cuidado”. “Alguns ficam aqui (no hospital) por alguns dias, outros ficam por muitos meses”, declarou ela na época e acrescentou: “Eu gosto de vê-los progredindo e de apoiar as famílias deles.”
Investigação
“Os pais dos bebês continuam sendo completamente atualizados da situação e estão recebendo apoio”, afirmou Hughes.
“Este é um momento extremamente difícil e é importante lembrar que há famílias enlutadas em busca de respostas sobre o que aconteceu com seus filhos.”
A polícia foi chamada a investigar a morte de oito bebês em maio de 2017 – um inquérito que desde então foi ampliado para incluir mais nove.
Daniel Wainwright, jornalista de dados da BBC News, lembra que, em 2017, o Countess of Chester estava em meio a 21 hospitais instados a investigar taxas de mortalidade acima da média.
Os autores do relatório MBRRACE-UK (Mães e Bebês: Redução de Risco através de Auditorias e Perguntas Confidenciais no Reino Unido) analisaram os natimortos – ou seja, bebês que morreram ainda no útero ou durante o parto – e as mortes neonatais no Reino Unido em 2015.
Eles descobriram, então, que o Countess of Chester Hospital NHS Foundation Trust tinha uma taxa de mortalidade neonatal de 1,91 para cada mil nascidos vivos naquele ano.
O índice era o mais alto quando comparado ao de outros hospitais de tamanho similar, com média de 1,27 mortes neonatais para cada mil nascidos vivos.
O hospital também tinha um índice de 5,42 mortes perinatais – mortes nas quatro primeiras semanas de vida – para cada 1.000 nascimentos, incluindo natimortos. A média para maternidades de tamanho semelhante era de 4,73 mortes por 1.000 nascimentos.
“A taxa caiu em 2016, mas ainda estava entre as mais altas do grupo”, observa Wainwright.
O diretor médico do hospital, Ian Harvey, disse que pedir à polícia que investigasse as mortes não foi uma decisão fácil, mas que precisou ser tomada para que pudessem entender o que havia acontecido.
Image captionA polícia investiga as mortes de 17 recém-nascidos na unidade neonatal, entre março de 2015 e julho de 2016
Ele acrescentou que a unidade neonatal continua operando.
O atendimento a bebês com menos de 32 semanas, no entanto, já havia sido suspenso em julho de 2016, após o hospital reportar “um número grande e acima do esperado de mortes e colapsos de bebês” na unidade.
Uma avaliação feita pelo Royal College of Pediatrics and Child Health no mês de fevereiro apontou que não havia sido encontrada “explicação definitiva” para o aumento das taxas de mortalidade na unidade neonatal e que não havia “fatores óbvios” relacionando as mortes.
Uma inspeção do hospital realizada em 2016 pela Care Quality Commission, o regulador independente de saúde e cuidados sociais para adultos na Inglaterra, constatou que o nível da equipe de enfermagem da unidade “não atendia aos padrões recomendados pela Associação Britânica de Medicina Perinatal” e que “faltava espaço de armazenamento e recursos” para o controle eficaz de infecções.
Fonte: BBC Brasil