Embrapa é a única instituição no Brasil que continua com o programa de melhoramento genético de soja convencional
Neste ano, o Brasil atinge a primeira posição mundial na produção de soja e um nicho de mercado a ser explorado é o de soja convencional, pelo preço diferenciado pago por compradores da Europa e da Ásia. Esse foi um dos assuntos apresentados na live Soja no Cerrado: potencial de produtividade com sustentabilidade, transmitida no último dia da AgroBrasília.
A soja convencional é uma excelente opção para o agricultor. É um mercado muito procurado e muitos produtores não sabem disso, como conta o produtor rural Luiz Fiorese, presidente da Fundação Cerrados e um dos participantes do debate que ocorreu no dia 10 de julho. “A Fundação Cerrados tem o maior portfólio de variedades convencionais e a Embrapa é a única instituição no Brasil que continua com o programa de melhoramento genético de soja convencional”, informa.
Segundo Fiorese, esses mercados pagam prêmios aos produtores e, em geral, a soja não transgênica é destinada ao consumo humano: “A China também tem demandado soja convencional. Os produtores têm se organizado para exportar diretamente para esses países. O preço é acertado anualmente e já chegou a $ 3,2”. Ele explica que as variedades de soja convencional são tão produtivas como as outras tecnologias, mas o manejo das lavouras é diferenciado.
Já o pesquisador Sebastião Pedro, da Embrapa Cerrados, afirma que o País tem o maior programa de melhoramento de soja do mundo. Isso porque a produção do grão vai da região Sul ao Centro-Oeste e Norte, de zero a 1.200 metros de altitude e o produtor tem que ter à sua disposição cultivares com produtividade estável ao longo dos anos nas diversas condições climáticas e de solos do País.
“O produtor tem que lidar com uma quantidade de variantes muito grande. Temos que reduzir para ele uma parte desse esforço colocando variedades que sejam adaptadas, estáveis e que possam responder bem a todos as condições que ele tem na propriedade”, explica o pesquisador. Para isso, a Empresa desenvolve pesquisa para seleção de cultivares mais produtivas ao longo de muito tempo e em muitos ambientes.
No Cerrado, é possível alcançar uma produtividade de até 250 sacos por hectare, a partir da combinação de uma série de fatores, como boa genética da semente, arranjo de plantas adequado, radiação solar, temperatura e água. “A produtividade real depende da qualidade do manejo da lavoura. A semente é semelhante a um chip que contém uma quantidade de informações muto grande. Essas informações são adequadas pelos melhoristas, que combinam os genes para atender as necessidades de cada região”, analisa Sérgio Abud, técnico da Embrapa Cerrados e mediador do debate.
A Fundação Cerrados e a Embrapa mantêm parceria desde 1997 para fomentar o melhoramento genético da soja. O presidente da Fundação explica que é importante para a instituição ter um banco genético com várias cultivares para ofertar aos produtores rurais e para o crescimento da região: “É importante para posicionar o produtor para que ele tenha a melhor rentabilidade na sua propriedade. A colaboração da agricultura brasileira é incalculável. Culturalmente e socialmente, o País cresceu muito com a contribuição das regiões onde é praticada a agricultura”.
Produção com sustentabilidade
Para o pesquisador da Embrapa é a sustentabilidade da produção que possibilita que o produtor se mantenha na atividade. Com qualquer cultura, o produtor tem que ter sustentabilidade econômica, ambiental e social. A econômica requer produtividade, de forma que a colheita remunere todos os itens da produção. “Nós temos que desenvolver variedades que ofereçam margem para o agricultor, para que consiga se manter na atividade, investir em novas tecnologias, na preservação do meio ambiente, ter qualidade de vida para sua família e seus colaboradores e oferecer à sociedade produtos de qualidade”.
Para garantir a produtividade constante, Fiorese recomenda que o agricultor compre sempre sementes: “O valor da semente fica em torno de 10% do custo total da lavoura. Por trás da semente, há muita pesquisa para ter uma variedade produtiva, uma resposta financeira que dê uma sustentabilidade para o produtor. Alcançamos hegemonia mundial na produção na soja, somos muito eficientes e temos produtores capacitados. Para praticar agricultura no Cerrado, pobre como era nos anos atrás, temos que ter competência amparada pela pesquisa”.
A recomendação é para procurar sementes certificadas, com qualidade fitossanitária, para garantir o vigor e uma alta germinação, além de uma boa genética. “Se o produtor está comprando uma semente, ele está comprando uma genética. Se ele salva o grão, não vai ter a garantia dessa genética”. O sementeiro também tem um papel importante nessa cadeia. Cabe a ele orientar o produtor para que ele tenha uma boa rentabilidade, com indicação de variedade e do espaçamento entre plantas, por exemplo, tudo de acordo localização da propriedade.
Melhoramento genético constante
Sebastião Pedro, pesquisador da Embrapa e coordenador do programa de melhoramento de soja para as regiões central e norte do Brasil, explica que a genética é fator determinante para obtenção de alta produtividade com rentabilidade. No entanto, esse não é o principal índice a ser observado pelo produtor para a escolha da variedade: “O produtor pode ter a variedade mais produtiva no Brasil. Mas foi produtiva em quais condições? Pode ser naquele ano, em condições adequadas, e neste, pode ter uma quebra de expectativa muito grande. Nenhum ano é igual ao outro, como relação a chuvas e custos de produção. Nem todas se adaptam bem às condições adversas nas lavouras”.
Por isso, são selecionadas as cultivares mais produtivas ao longo de muito tempo e em muitos ambientes, nas diversas condições encontradas no Brasil. “Tem que produzir bem ao longo dos anos. Cabe a nós proporcionar um leque de variedades para que o produtor possa escolher”, completa.
No programa de melhoramento de soja da Embrapa são estudadas opções que reduzam os problemas mais impactantes para as lavouras. Já existem opções com resistência a nematoides do cisto, de galha, com resistência à seca, tanto para variedades transgênicas como convencionais.
Várias têm resistência à ferrugem, um problema sério no Brasil e em vários países tropicais, também a percevejos e insetos sugadores. O pesquisador conta que a empresa ainda atua forma defensiva, com uma linha de melhoramento preventivo, que seleciona variedades com resistência a doenças e insetos que ainda não existem no Brasil. “Assim teremos condições de sustentabilidade quando surgir algum problema. A Embrapa está preparada para dar ao produtor fontes de resistência para ele resistir a esses problemas, para prevenir os problemas”, explica.
A apresentação contou com a participação em tempo real de internautas. Alguns enviaram questionamentos, que foram respondidos pelos debatedores. Um deles, Marcos Antonio Borges de Melo, perguntou sobre variedades não transgênicas para o Mato Grosso. O pesquisador disse há um fluxo contínuo de seleção de cultivares e há variedades prontas para serem lançadas recomendadas para esse e outros estados e assim que houver uma sinalização do mercado, há sementeiros parceiros prontos para multiplicar as sementes e repassá-las aos produtores.
Já Claudia Adriana Gorgen perguntou sobre como é feita a adequação do melhoramento da soja a diferentes unidades geológicas. Sebastião Pedro afirmou que hoje a produtividade não está mais correlacionada apenas à análise química do solo, mas considera muito mais a origem desse solo e sua atividade biológica. “Estamos adentrando em um novo cenário da seleção genética, no qual não consideramos mais somente fatores agronômicos, mas também geológicos e biológicos. A Embrapa trabalha com bioinsumos há seis anos e as variedades que estão saindo para o mercado já estão testadas para essa nova realidade~, informa.
O debate Soja no Cerrado: potencial de produtividade com sustentabilidade está disponível na íntegra no canal da Embrapa no YouTube. Esse e e outros conteúdos estão disponiveis na página especial da AgroBrasiilia 2020 no Portal da Embrapa.
Fonte: Agrolink