Surto de casos em frigorífico seguido de falta de medidas restritivas mais severas são apontadas como principais causas. Município é o recordista de casos de coronavírus no estado, mesmo com população praticamente quatro vezes menor que a da capital.
Por João Pedro Godoy, G1MS
O município de Dourados, a 229 quilômetros de Campo Grande, é o segundo mais populoso de Mato Grosso do Sul, com cerca de 220 mil habitantes. Mesmo com a população praticamente quatro vezes menor do que na capital, a cidade é a recordista de casos do novo coronavírus no estado. E o surto de casos de Covid-19 em um frigorífico, seguido de falta de medidas restritivas mais severas, ajudam a explicar como o município se transformou no epicentro de propagação da doença.
Até esta quarta-feira (1°), Dourados havia registrado 2.670 casos de Covid-19, com 26 óbitos – 179 casos e 15 mortes a mais do que na capital. A preocupação das autoridades também é com o aumento da ocupação de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) no município, que chegou a 60% da capacidade, com 34% deles ocupados por pacientes confirmados ou suspeitos de coronavírus. A secretaria de saúde de Dourados afirma que está habilitando novos leitos para atender a demanda.
Com uma média de mais de 80 casos a cada 24 horas na última semana, a prefeitura diz que está discutindo novas ações com o núcleo técnico e o Comitê de Operações de Emergência para conter o avanço da doença. Já a SES afirma que continua a fazer recomendações, no fornecimento da testagem e de EPIs, além de ações de vigilância epidemiológica no monitoramento dos casos, que seria de responsabilidade exclusiva do município.
Os dois primeiros casos de Covid-19 em Dourados foram registrados no dia 28 de março. Na época, o estado tinha 31 casos da doença e nenhum óbito. De acordo com a secretaria de saúde do município, desde então foram elaborados decretos de restrições no comércio e de isolamento social, para conter o avanço do coronavírus na cidade.
Ainda em março, médicos, infectologistas órgãos públicos de Dourados e Ministério Público do Trabalho (MPT) se uniram para criar o Comitê de Gerenciamento Emergencial de Crises do município. Conforme Jeferson Pereira, procurador do Trabalho de Dourados e membro do Comitê, um planejamento de gestão de crise foi elaborado no início da pandemia e continuava a ser aprimorado com estudos técnicos conforme a doença progredia.
Pouco mais de dois meses depois, no dia 29 de maio, o município havia registrado 236 casos da doença, com um óbito, de um morador da cidade que faleceu no Tocantins. O “achatamento da curva” do coronavírus, porém, começava a desaparecer em Dourados, com a descoberta dos primeiros casos em um frigorífico com mais de 4 mil funcionários.
Vista da cidade de Dourados (MS) — Foto: Divulgação/Prefeitura de Dourados