Dois dias antes de registrar a chapa que encabeçaria na disputa pela presidência da Câmara Municipal, o vereador Pedro Pepa (DEM) foi chamado “com urgência” por um deputado em Dourados. No escritório, ouviu que se insistisse com a pretensão de comandar o Legislativo douradense seria preso, juntamente com os vereadores Idenor Machado (PSDB) e Cirilo Ramão (MDB) e o suplente Dirceu Longhi (PT).
Esse deputado havia sido alertado por outro parlamentar em Campo Grande. Pepa e Idenor checaram a informação. De fato, havia comentário na Capital do Estado sobre as prisões, no bojo de uma operação do Ministério Público Estadual e do Gaeco que apura suposto esquema de fraude à licitações e corrupção ativa e passiva na Câmara de Dourados há pelo menos oito anos.
Pepa e Idenor foram então a Campo Grande para verificar a veracidade da informação no Governo do Estado e na Assembleia Legislativa. Voltaram a Dourados tranquilos, convictos de que tudo não passava mesmo de boato. No outro dia registraram a chapa, que venceria a disputa com os vereadores de oposição a prefeita Délia Razuk (PR) por 11 a 8. Horas depois estavam presos, numa quarta-feira, 5 de dezembro do ano passado.
Além de Pepa e Idenor foram presos na Operação Cifra Negra Cirilo, Dirceu, ex-servidores da Câmara e empresários de Campo Grande. Os vereadores e o suplente foram soltos no dia 17 de dezembro. O ex-diretor da Câmara, Alexandro Oliveira de Souza, negociou deleção premiada depois de ficar três dias isolado num cubículo escuro e sem ventilação da Penitenciária Estadual de Dourados – e também está solto. Os demais envolvidos continuam presos.
Essa narrativa pode não ter passado de boato, mas o fato é que a coincidência, ainda que dentro da ordem jurídica vigente, alimentou nos bastidores da política e da imprensa, principalmente em Campo Grande, uma “teoria da conspiração” pela qual o desfecho é o afastamento judicial e, posteriormente, a cassação pela Câmara da prefeita Délia Razuk, cuja administração também é alvo do MPE.
Com Pepa, Idenor e Cirilo afastados da contenda, a oposição virou o jogo e venceu a disputa pelo controle da Câmara com os votos dos vereadores suplentes: 11 a 8. Teoricamente hoje há maioria para cassar o mandato da prefeita de Dourados.
Já a empresa pivô da operação policial que provocou a reviravolta na eleição da Mesa Diretora da Câmara, a Quality Sistemas Ltda EPP opera normalmente em todo o Estado. No dia 24 de dezembro, o Tribunal de Justiça de MS suspendeu a decisão proferida pelo juízo da 6ª Vara Cível da Comarca de Dourados, pela qual proibia a empresa de contratar com o poder público, em âmbito municipal e estadual, até o julgamento final da ação principal, além de decretar a indisponibilidade dos bens.
Assim, com aval judicial, a empresa acusada pelo MPE continua atendendo várias Câmaras e Prefeituras de Mato Grosso do Sul, exceto em Dourados onde a ex-presidente Daniela Hall (PSD) cancelou os contratos, por cautela – e com os bens disponíveis. FOLHADOURADOS