A Academia Americana de Medicina do Sono recomenda que crianças e adolescentes entre 6 e 12 anos durmam ao menos nove horas por dia, mas muitos não seguem a recomendação e os pesquisadores queriam entender melhor o impacto de menos horas de descanso no desenvolvimento desses jovens.
STEFHANIE PIOVEZAN
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Crianças de 9 e 10 anos que dormem menos de nove horas por dia têm o desenvolvimento cerebral prejudicado e maiores chances de problemas comportamentais no futuro, de acordo com uma pesquisa publicada nesta sexta-feira (29) na revista científica The Lancet Child & Adolescent Health.
A Academia Americana de Medicina do Sono recomenda que crianças e adolescentes entre 6 e 12 anos durmam ao menos nove horas por dia, mas muitos não seguem a recomendação e os pesquisadores queriam entender melhor o impacto de menos horas de descanso no desenvolvimento desses jovens.
Os cientistas analisaram os dados de 8.323 crianças de 9 e 10 anos. Eles dividiram esse conjunto em dois grupos -das crianças que dormiam menos de nove horas (4.181 participantes) e daquelas que dormiam pelo menos nove horas (4.142 participantes)- e avaliaram seus dados neurais e comportamentais no início da pesquisa e após dois anos.
Fan Nils Yang, Weizhen Xie e Ze Wang, da Escola de Medicina da Universidade de Maryland e do Instituto Nacional de Distúrbios Neurológicos e Derrame, nos Estados Unidos, consideraram parâmetros de saúde mental, cognição, função e estrutura cerebrais. Para isso, utilizaram testes, questionários e imagens de ressonância magnética.
Primeiro, eles examinaram os padrões de sono no intervalo de dois anos e perceberam que, ao ficarem mais velhos, aqueles que dormiam o suficiente tendiam a reduzir as horas de descanso.
Em seguida, os cientistas concentraram a atenção nas medidas comportamentais. Aqui, notaram diferenças significativas para depressão, problemas de pensamento, vocabulário e inteligência cristalizada -referente ao conhecimento proveniente de aprendizados e experiências passadas- entre quem dormia mais e quem dormia menos.
O passo seguinte foi avaliar como a duração do sono afetava as redes cerebrais tanto no início quanto após dois anos. Eles descobriram que havia diferenças entre os grupos em cerca de 30% das conexões, principalmente aquelas em regiões dos gânglios da base, que possuem papel importante na regulação do ciclo sono-vigília.
Os cientistas notaram também uma diferença significativa no volume de massa cinzenta em 12 das 184 regiões avaliadas, padrão que se repetiu depois de dois anos, sugerindo que algumas medidas estruturais são suscetíveis a períodos insuficientes de sono.
“Nossos achados sugerem que as conexões dos gânglios córtico-basais têm um papel importante na mediação do efeito do sono insuficiente nas funções cognitivas e afetivas, e que as propriedades estruturais do lobo temporal anterior podem contribuir para o efeito do sono insuficiente na inteligência cristalizada. Esses efeitos podem durar pelo menos dois anos, destacando a importância da intervenção precoce do sono nos jovens para melhorar os resultados do desenvolvimento neurocognitivo a longo prazo”, afirmam no artigo.
Segundo os pesquisadores, ainda são necessários mais estudos sobre as consequências duradouras da falta de sono no desenvolvimento. “Se confirmadas, nossas descobertas podem fornecer fundamentos empíricos e teóricos para programas de intervenção precoce para melhorar os resultados de desenvolvimento na adolescência”, acrescentam.
Eles também enfatizam que, embora as descobertas mostrem a importância de nove horas de sono, não há evidências de que exagerar no período de descanso seja positivo. “Ainda não foi testado como uma duração prolongada do sono, por exemplo superior a 12 horas, afetaria o desenvolvimento neurocognitivo em adolescentes.”