Midiamax teve acesso com exclusividade a novas informações que detalham datas, valores e até operadores do suposto esquema de corrupção na Sefaz-MS
Em depoimento para a Polícia Federal ao qual o Jornal Midiamax teve acesso com exclusividade, o empresário Wesley Batista, um dos donos da JBS, revelou que a propina paga ao governador de Mato Grosso do Sul, Reinaldo Azambuja (PSDB), candidato à reeleição, chegou a R$ 70 milhões entre o começo de 2015 e final de 2016. As declarações foram feitas durante a investigação criminal que apurou a efetividade da delação que abalou o país em maio de 2017.
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As informações relativas aos supostos crimes cometidos pelo atual governador de MS já foram encaminhadas ao STJ (Superior Tribunal de Justiça), onde integram o inquérito 1.190 com denúncia envolvendo Reinaldo Azambuja, que tramita sob sigilo no gabinete do ministro Félix Fischer, por causa do foro privilegiado do tucano.
O montante citado por Wesley é quase o dobro do patrimônio declarado pelo tucano à Justiça Eleitoral antes de assumir o governo, em 2014, R$ 37,8 milhões, que o tornou o governador mais rico do Brasil eleito naquele ano. De acordo com o dono da JBS, a propina começou a ser paga antes mesmo daquela eleição.
Entre 2003 a 2014, era Joesley Batista quem mantinha tratativas com os governadores do Estado, e que inclusive iniciou as tratativas com Azambuja, no começo de 2014, durante um encontro no escritório da J&F, no Bairro Alto de Pinheiros, em São Paulo.
“QUE a partir do momento em que tomou posse no Governo do Estado do Mato Grosso do Sul, em 2015, a maior parte dos contatos de REINALDO AZAMBUJA passou a ser mantida somente com o depoente (Wesley); QUE o depoente jamais manteve contatos por celular, por mensagens de texto/aplicativos e/ou por email com REINALDO AZAMBUJA, sendo que. todas as conversas e tratativas com o mesmo, sobre pagamentos a ele direcionados, se deram de forma pessoal”, diz trecho do documento.
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Os créditos fiscais concedidos pelo governo à JBS giravam em torno de R$ 10 milhões por mês, sendo que 30% desse montante, cerca R$ 3 milhões, eram repassados ao governador Reinaldo, segundo detalhou Wesley no acordo de colaboração premiada.
Antecipação de propina
Dos R$ 70 milhões que teriam sido pagos a Reinaldo, parte deles, cerca de R$ 10 milhões foram antecipados, afirmou Wesley, na campanha de 2014, eleição vencida pelo tucano. Valor que foi ‘cobrado’ de Azambuja, logo após ele ser empossado no cargo, o que se deu no dia 1º de janeiro de 2015.
A divergência, no entanto, é que os Batistas afirmam que o dinheiro não foi doado oficialmente, enquanto o tucano apresentou extrato de R$ 10,5 milhões repassados pela executiva nacional do PSDB.
Azambuja levou R$ 10,5 milhões do PSDB em 2014 oriundos da JBS e declarados, e delação aponta outros R$ 10 milhões ‘por fora’
Já Wesley declarou ao delegado da Polícia Federal que fez quatro pagamentos, em dinheiro vivo, cada um no valor de R$ 2,5 milhões, “nos dias 02/10/14, 14/10/14, 17/10/14 e 21/10/14; QUE todas as doações de campanha da JBS a REINALDO AZAMBUJA, pelo que é de conhecimento do depoente, se deram em espécie, não tendo ocorrido doações oficiais”.
Apesar da divergência, governador e JBS parecem ter chegado, segundo Batista, a um acordo sobre o montante antecipado e ‘corrigido monetariamente’, sendo descontado da propina cerca de R$ 17 milhões.
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Suspeita de corrupção na Sefaz-MS
Além da JBS, o governo tucano também foi alvo de outra denúncia envolvendo suposto pagamento de propina, em maio de 2017, que tinha como suposto beneficiário o ex-secretário da Casa Civil, Sérgio de Paula (PSDB), e que, em tese, era feito por frigoríficos de Mato Grosso do Sul, em esquema semelhante ao detalhado na delação da JBS, mas supostamente operado com empresas regionais.
Apesar das semelhanças nos ‘modus operandi’ que apontaria suposto esquema de corrupção na Sefaz-MS (Secretaria de Estado de Fazenda de MS), o advogado do governador Reinaldo, Gustavo Passarelli, afirmou à reportagem do Jornal Midiamax que seu cliente mantém ‘serenidade e tranquilidade’ diante dos fatos novos detalhados nas delações.
“É uma colaboração desacreditada, tanto que está sendo rescindida pela justiça. Ela está contaminada desde a origem”, argumenta Passarelli. Ele também cita a suposta participação do ex-procurador Marcelo Miller na elaboração do acordo, um dos motivos usados para desacreditar a delação premiada.
O advogado alega que mesmo após tentativa do MPF (Ministério Público Federal) de anular a delação, os irmãos Batista ‘não trouxeram (ao processo) nenhum documento’ que comprovassem pagamento de propina a Azambuja. Desta vez, no entanto, Wesley detalhou não somente as datas, como locais e até operadores envolvidos nos supostos pagamento das propinas.
A defesa também alega que os donos da JBS respondem a um processo criminal, e que por isso apresentam alegações que não correspondem à verdade.
Midiamax
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